Melhores Práticas
Rádio São João
Descrição
Uma rádio, muitas gerações e milhares de histórias. Algumas, inclusive, até se confundem. São trajetórias que se sintonizam há 69 anos em uma mesma estação. Com ata de fundação assinada em 18 de maio de 1945, a Rádio São João del-Rei ocupa desde então o canal 970 AM. Foi através dele que a primeira transmissão da emissora aconteceu, em 1947, e a partir de então muitos episódios foram compartilhados e narrados. Também ali, muitas vidas continuam sendo transformadas todos os dias.
Rádio São João completa em 2014, 69 anos de fundação – Foto: Divulgação
Por trás de todas as transmissões, estão pessoas que se dedicam e encontram no radialismo mais que uma profissão. Esse é o caso de Weber Neder Issa, que por cerca de oito anos foi diretor da Rádio. “Eu ganhei um enorme aprendizado e foi um desafio fantástico. Lá, presenciei episódios memoráveis. Fiz da rádio a minha vida”, contou. Segundo ele, a emissora é ainda mais especial por torná-lo um são-joanense. “Morava no Rio de Janeiro e cheguei aqui para trabalhar na emissora. Aqui fiz minha vida e criei meus filhos. A rádio está projetada dentro de mim”, completou.
Issa chegou à 970 AM em um momento de modernização e considera que, ali, se realizou profissionalmente. Para as novas gerações, ele deixa um recado: “Vivemos em um país de oportunidades. É importante que não se perca o desafio e que a equipe embarque nele. Vai valer muito a pena”.
Encontros
Há quatro décadas, a notícia tem hora marcada na rádio São João. A voz familiar de Geraldo José dos Santos, o Geraldinho, e o Jornal das Dez representam mais que uma tradição na emissora. São parte da rotina de um homem que encontrou nesse ofício a motivação para vencer na vida e, até mesmo, encontrar o amor. Foi através da Rádio São João que ele conheceu a esposa e se interessou pelo trabalho policial. Com a voz inconfundível, se tornou popular e chegou a representar o povo são-joanense na Câmara Municipal. Na Rádio São João, narrou episódios que o marcaram para sempre.
“A rádio tem um papel importante na sociedade, como a localização de pessoas desaparecidas. Algumas passagens foram emocionantes. Uma delas foi a de um senhor que estava há 60 anos longe de São João del-Rei e foi encontrado graças à divulgação no Jornal das Dez. Outra vez, uma mãe que havia abandonado a filha por não ter condições de criá-la foi localizada muitos anos depois”, contou o locutor.
De lá para cá, muita coisa permanece, tantos nos moldes do programa quanto na dedicação do apresentador. “Enquanto Deus me der vida e saúde, vou continuar trabalhando na Rádio São João”, concluiu Geraldinho.
Gol
Em ano de Copa do Mundo, quando todas as atenções estão voltadas para o futebol, é importante destacar que a Rádio São João foi emissora pioneira na transmissão de jogos do campeonato mundial para a região, incluindo a grande final entre Brasil e Uruguai, em 1950, no Maracanã. Além disso, partidas regionais e locais também integram a grade de programas da emissora. Nesses 69 anos de história, onde acontecia um jogo, havia uma equipe esportiva da Rádio São João fazendo a cobertura.
Integrante desse grupo há 28 anos, Nicolau Brighenti Cipriani atuou pela primeira vez como locutor esportivo na casa onde até hoje trabalha. O futebol já fazia parte da sua vida há mais tempo, mas foi na Rádio São João que a paixão pelo jornalismo esportivo aconteceu. “Comecei como comentarista, mas fui logo fazer narração. Transmitimos vários jogos da Zona Rural. Era algo tão bonito que as pessoas viam jogos da TV com o rádio ligado ao lado”, relembra ele, um dos radialistas mais antigos da emissora que assina, ainda, o slogan dela. “Falei no ar ‘a rádio da nossa história’ e as pessoas começaram a ligar parabenizando”, conta o apresentador do Bate-Bola.
Entre as pessoas que marcaram a história da Rádio São João também está Antônio Fraga, que dedicou 40 anos da sua carreira a transmitir informações para o ouvinte são-joanense. Selecionado em um concurso de locutores esportivos, o início da trajetória de Fraga coincidiu com o começo de um campeonato de futebol em São João del-Rei.
Precisou aprender, cedo, a brigar pela informação. E o fez em nome dos que o ouviam. “Um dia o então presidente do Social me disse que não autorizaria a transmissão de uma partida contra o Minas. Ele acreditava que o público deixaria de ir ao campo para ouvir tudo pelo rádio”, relembra.
Obstinado, ele decidiu insistir. “Subi no muro de uma fábrica vizinha ao campo do Social e fiz a transmissão. Era meu dever”, defende.
Segundo ele, depois disso outras portas se abriram e ele chegou a atuar em programas memoráveis como o Clube da Saudade e atrações ao vivo com auditório. Além disso, foi destaque em locuções da Semana Santa na cidade.
Vida
O hoje diretor musical Eli Patrício Mendes acompanhou todos esses momentos. E fez história. Membro da Rádio São João há 51 anos, a trajetória dele se confunde com a da própria emissora e, mais do que testemunha de transformações na cidade, no país e no mundo, o radialista foi comunicador de muitas delas. Da derrota brasileira para o Uruguai em 1950 à polêmica aprovação do projeto que determinava o aumento no número de vereadores em São João del-Rei, Mendes coleciona uma infinidade de trunfos jornalísticos, parte deles transmitidos em equipamentos à válvula e com trilha sonora baseada em discos de 78 rotações.
Em mais de cinco décadas de dedicação, o radialista também viu a própria profissão mudar e muitas vezes encarou o medo de o rádio desaparecer. “Toda vez que surge uma tecnologia nova há a previsão de que o rádio vai acabar. Mas ele tem se provado forte, não vai parar. E me fez o que sou hoje. Entrei aqui como um rapazinho de 20 anos. Só quero sair quando a vida acabar”, garante Mendes, que começou como office boy da emissora antes de chegar à frente dos microfones.
Dessa função, diz ter memorizado com riqueza de detalhes, grande parte das palavras transmitidas ao Campo das Vertentes na eleição de Tancredo Neves como Presidente da República. “Era um momento que o Brasil inteiro esperava. Falamos como cidadãos e como radialistas ao mesmo tempo. Foi inesquecível”, conta.
Pouco depois, porém, Tancredo Neves foi internado às pressas no Hospital de Base de Brasília. “Ninguém acreditava no que estava acontecendo. Quando anunciaram a morte dele, a consternação foi total. Nós tínhamos esperanças. Passamos dias e noites confiantes à espera do anúncio da data da posse. De nada mais”, relembra.
É o único momento em que a voz parece embargar e o rosto se torna pensativo. No restante da conversa, abre um sorriso gigantesco. “Fui e sou muito feliz. Sou um homem de 71 anos realizado e quero transmitir isso para quantas pessoas eu puder. A vida é melhor assim”, frisa.
Há cinco anos à frente da diretoria geral da emissora, Juliane Menezes concorda. Segundo ela, todas essas histórias confirmam a importância da 970 AM ao mesmo tempo em que destacam a capacidade de renovação da Rádio São João. “Comemorar 69 anos de existência é uma dádiva para poucos veículos de comunicação. Essa marca simboliza, na verdade, que conseguimos chegar ao equilíbrio entre memória, tradição e inovação, já que transformações são sempre bem-vindas e continuam acontecendo. Aliás, muitas novidades estão sendo preparadas para os ouvintes’, finaliza.