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Artesanato moveleiro leva turistas ao menor município do país: Santa Cruz

Descrição



Fortes golpes em movimentos precisos produzem incríveis peças de decoração que encantam consumidores nacionais e internacionais na pequenina Santa Cruz, em Minas Gerais. Com aproximadamente três quilômetros de extensão a menor cidade do país parece não ter limites quando o assunto é criatividade. O artesanato local gera empregos e renda para a população, que desde 2003 é reconhecida pelo empreendimento em móveis de demolição e peças em ferro forjado. 
 
Apesar do difícil acesso pela ausência de sinalização e publicidade turística por parte dos responsáveis públicos, Santa Cruz de Minas tornou-se um pólo moveleiro reconhecido graças ao circuito turístico regional. Localizada entre as cidades históricas de São João del-Rei e Tiradentes, Santa Cruz está inclusa no projeto Estrada Real e, por este motivo, em 2003 suas estradas foram calçadas. A partir de então, segundo os artesãos, o turista passou a transitar pela cidade e, desta forma seus trabalhos puderam ser vistos por um público maior e diversificado.
  
Na avenida principal, Ministro Gabriel Passos, é surpreendente as centenas de lojas ali concentradas, característica que torna impossível ao mais muquirana dos seres manter-se alheio ao desejo de possuir um desses objetos. Armários, mesas, aparadores, bancos, cadeiras e vários outros móveis além de artigos decorativos são produzidos a partir de madeiras de demolição nobres, como a peroba rosa. Extraídas de janelas, assoalhos, tetos e portas de antigas moradias, cascos e portos de navios e silos agrícolas, oriundas do sul ao norte do Brasil, especialmente do Estado do Paraná, essas madeiras, ecologicamente corretas, são transformadas em artigos exclusivos e requintados.

A produção moveleira também abrange as cidades de Dores de Campos, Tiradentes, Passos, Lagoa Dourada e São João Del Rei, mas é em Santa Cruz que a atividade tornou-se a principal responsável pela economia do município.  O artesanato gera empregos diretos e indiretos, são mais de 300 fábricas na região, aproximadamente 120 lojas na cidade, sendo que cada uma promove oportunidades de trabalho para no mínimo cinco pessoas, entre artesãos, marceneiros e vendedores, sejam elas empresas familiares ou não.                                                                                                                                         
“O estrangeiro vem até nós pelo turismo” afirma Wagner Sebastião Rodrigues que viu no setor moveleiro de Santa Cruz uma grande oportunidade quando ainda trabalhava realizando consultoria para as pousadas locais. Há vinte anos no mercado, hoje sua empresa Arte e Ação Móveis, gera euros exportando para Bélgica, EUA e Israel. O empresário salienta a importância do turismo para a manutenção e expansão do mercado na cidade, pois mesmo se utilizando da publicidade sua maior ferramenta é o turista que vê, consome e divulga o pólo.
 
João Bosco dos Santos é uma empresa familiar, o proprietário de mesmo nome partiu das miudezas, talhando santos e oratórios há 28 anos e, hoje investe toda sua criatividade em móveis rústicos que são revendidos em renomadas lojas de São Paulo. Na sua fábrica emprega seus dois filhos e esposa e, mais quatro jovens que ele mesmo ensinou o ofício, orgulhoso de sua obra ele justifica “eu tenho prazer de fazer”.
 
Dona Maria de Lurdes, proprietária da loja Shekinah, trabalha com o artesanato de ferro forjado e, há 8 anos mudou-se com toda a família para Santa Cruz justamente pelo fato da região atrair seu público alvo. Seus lustres, abajures e molduras de espelho que são vendidos de Manaus à Canoas, no Rio Grande do Sul, são produzidos a partir de ferros reaproveitados e manuseados em uma forja de carvão, que esquenta a peça para ser moldada artesanalmente. Experiente no mercado, mesmo ciente de seus fiéis clientes, é enfática ao afirmar “o que mantêm as portas abertas são os lojistas” para a manutenção dos gastos principalmente fora da alta temporada.
 
Apesar do grande potencial existente e da relevância econômica que a atividade tem para Santa Cruz e região, constatamos que os poderes públicos e as associações existentes pouco realizam em prol da classe. Todo o sucesso empresarial é resultado de um esforço individual e ímpar de cada artesão. Faltam projetos e incentivos para fortalecer e garantir a continuidade da atividade no município. Mas, ainda assim, conhecer a produção de móveis rústicos e ferro em Santa Cruz de Minas nos faz conceber que na reutilização de velhos recursos e o olhar delicado do trabalhador simples é possível elaborar peças do mais alto bom gosto.

Texto de Mariana Fernandes e Pâmella Chicarino
Publicado no Observatório da Cultura . 25 de março de 2011
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