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Ouvidoria

Estrago pode aposentar Sino do Carmo em 2012

Descrição

Mais um sino ameaça se calar na cidade conhecida pelos sinos que falam. Por causa de uma rachadura, o João Batista ou Santo Elias, como é chamado atualmente, já não possui o mesmo som que ecoou durante seus 98 anos. Localizado na torre esquerda de quem está de frente para a Igreja Nossa Senhora do Carmo, ele não pode fazer as dobraduras, que são os giros a 360º, com o risco de alguma parte se soltar. O Santo Elias só faz repiques, ou seja, as badaladas provocadas pela corda em que a bacia do sino permanece para baixo sem se movimentar.
O trinco começou a aparecer em novembro deste ano, mais especificamente no dia 13. Segundo o administrador da Igreja Nossa Senhora do Carmo, Carlos Eduardo Valim, o problema pode ter sido causado pelo tempo de uso, já que o sino é quase centenário. Ele contou que uma das soluções para o transtorno é fazer uma refundição, mas a ordem não dispõe de verba. “O processo custa entre R$50 mil e R$100 mil”, calculou. Segundo Valim, a ideia agora é criar um projeto para adquirir o dinheiro e consertar o sino ou comprar outro. “A intenção é arrecadar a verba até a Festa de Passos ou Festa dos Sinos, no quarto final de semana da Quaresma, em que há o combate de sinos entre as igrejas”, disse.
Para o sineiro Paulo César Mendonça Nery, o procedimento mais adequado é tirar o molde e aposentar o Santo Elias. “Com ele o fundidor faz um som semelhante ou igual. Para isso, mede-se o diâmetro, a boca, a espessura e a altura da bacia”, explicou Nery, responsável pela manutenção do instrumento na Igreja do Carmo.

Dano surgido em novembro deste ano é resultado do tempo de uso do sino que, se refundido, demandará entre R$50 mil e R$100 mil - Foto: Gazeta

Dano surgido em novembro deste ano é resultado do tempo de uso do sino que, se refundido, demandará entre R$50 mil e R$100 mil - Foto: Gazeta

Pareceres técnicos
Essa também é a opinião do arquiteto chefe do escrítório técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de São João, Mário Ferrari. Segundo ele, o processo indicado não é a refundição. “O sino uma vez rachado tem que ser inutilizado porque ele é um documento, é uma memória viva. Uma vez que ele apresenta problemas, deve ser retirado da torre e um molde deve ser feito. A informação principal do sino é o som. Só o molde pode garantir que o mesmo seja refeito”, explicou.
O Iphan não possui nenhum projeto que vise instituir medidas a serem seguidas quando um sino está rachado, mas dentro da política de salvaguarda do instituto, existe um trabalho relacionado ao instrumento. Trata-se de uma oficina com os sineiros em busca de preservar o ofício e o modo de tocar os sinos. A iniciativa teve início no ano passado e tem continuidade prevista para março de 2012.

Outros casos
O Santo Elias não é o único sino rachado da Igreja Nossa Senhora do Carmo. O Santo Eliseu, adquirido através de uma doação em 2008, também apresenta o problema. Ele foi o primeiro a ocupar a outra torre da igreja e badalou sem trincar por apenas um ano.
A cena se repetiu na Igreja de São Francisco de Assis, com o sino que leva o mesmo nome. Ele se calou em 2008 também por causa de uma fenda. Antes de ela aparecer, o instrumento foi refundido em 2006 na cidade de Uberaba (MG). Atualmente, a ordem tenta um acordo com a empresa que fez o trabalho por acreditar que o serviço não foi realizado do modo correto. “Foram feitos testes. A mistura usada para fazer a liga não estava na proporção adequada”, afirmou o ministro da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis, Carmello Geraldo Viegas.

Cultura dos sinos
A história dos sinos possui uma tradição cultural secular em São João del-Rei. Através das badaladas eles se comunicam e anunciam missas, mortes, batizados, novenas e marcam as horas do dia, entre outras funções. Cada ocasião tem um toque que é peculiar. Para o pároco do Pilar, padre Geraldo Magela, eles estão ligados à cultura religiosa da cidade. “De certa forma eles dão voz à experiência de fé do povo são-joanense. Quando acontece de um sino rachar, a gente fica muito triste. Muitas pessoas já foram chamadas pelos cultos através dos sinos”, lembrou.
O arquiteto do Conselho do Patrimônio do Estado, André Dangelo, não esconde a preocupação em relação ao instrumento e ao que ele significa. “Não existe um trabalho de resgate da memória, preservação e fundição apropriada. É preciso repensar essas coisas”, desabafou.

Museu
A cidade que mantém viva a tradição de tocar os sinos batalha para receber o primeiro Museu dos Sinos da América Latina. O local ainda não está definido. Seria nos galpões da rede ferroviária, mas a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), empresa que administra o complexo de São João del-Rei, anunciou que vai utilizar o espaço para outros fins. Mesmo sem lugar, o projeto do museu já está pronto.
O membro do Instituto Histórico e Geográfico (IHG), Adenor Simões, explicou que o museu foi projetado para interagir com o público. “É um museu que terá câmeras fechadas mostrando a fundição dos sinos virtualmente. O visitante poderá interagir. Com a modernidade, o museu não é só um espaço de guardar peças antigas. Ele passou a ser um espaço de comunicação com o turista”, explicou. A construção terá custo em torno de R$7 milhões. O projeto foi proposto pelo IHG em parceria com o Santa Rosa Bureau Cultural e foi aprovado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura em 2007.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei, 31 de dezembro de 2011.

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