Ouvidoria
Abandono . Alto do Cristo Redentor de São João del-Rei . Jota Dangelo
Descrição
Fica à vista de todos. Não há ponto na cidade de onde não se aviste o mais abandonado, o mais deteriorado, o mais desprezado logradouro de São João del Rei. Falo do Alto do Cristo, aquele mesmo que virou uma espécie de paliteiro de antenas de todos os tipos, já que o que menos se vê ali é o monumento, pedestal encimado pela figura imponente do Cristo abençoando a cidade. E como a cidade precisa das bênçãos divinas! Como precisa...
Fico imaginando o que o Cristo diria, se pudesse falar: "Bando de fariseus! Pouca vergonha! Não bastasse este monte de ferro no meu quintal, nem se preocupam em capinar o mato, limpar o local. E é deste chiqueiro, mesmo emporcalhado, que vejo a sujeira que, lá embaixo, campeia na cidade".
É preciso subir ao Senhor dos Montes para acreditar no abandono a que o mirante mais importante da cidade foi relegado. O acesso já é o prenúncio do que vai se encontrar no destino final: o asfalto mostra desgastes, fendas e buracos. No começo da subida, uma mistura de pé-de-moleque e asfalto, cuidado para não desaparecer nas crateras que estão nas laterais, junto ao meio-fio. O único trecho sem problemas é justamente aquele em que se anda só sobre o velho calçamento em pé-de-moleque, na praça defronte à igrejinha. Quando se chega ao alto, no ponto dito turístico, a tragédia se mostra por inteiro: o mato assenhoreou-se de tudo. O pedestal, pichado. O gradil, detonado em várias partes. A mureta de pedra que limita a rampa de acesso, praticamente destruída. E no entorno, aquele festival de antenas, gigantes, ameaçadoras, competindo com o monumento com larga vantagem para elas, em altura e quantidade. Só em altura e quantidade. São mais feias que o humilde pedestal de pedra sabão e, é claro, perdem longe para a beleza estética da escultura do Cristo, obra de arte originada do talento do escultor italiano Nicola Arreghini.
Fascinado pelo que viu na igreja do Carmo, o artista tomou como modelo, para criar o rosto do seu Cristo, o rosto do Cristo Inacabado que se abriga naquele templo. É justamente este monumento que está lá no alto, abandonado, sujo. Sujo? Não, não, imundo e cercado de imundície.
Diante de espetáculo tão desolador, senti os olhos úmidos. Viajei no tempo. Eu estava ali, naquele longínquo 1942, 66 anos atrás, com o uniforme do Grupo Escolar João dos Santos, no dia da inauguração do monumento que reinava absoluto no local. E agora, vendo a desolação, o lixo, a pocilga, o chiqueiro em que aquilo se transformou, me digam: não é razão para querer chorar?
Fonte: Gazeta de São João del-Rei
Fica à vista de todos. Não há ponto na cidade de onde não se aviste o mais abandonado, o mais deteriorado, o mais desprezado logradouro de São João del Rei. Falo do Alto do Cristo, aquele mesmo que virou uma espécie de paliteiro de antenas de todos os tipos, já que o que menos se vê ali é o monumento, pedestal encimado pela figura imponente do Cristo abençoando a cidade. E como a cidade precisa das bênçãos divinas! Como precisa...
Fico imaginando o que o Cristo diria, se pudesse falar: "Bando de fariseus! Pouca vergonha! Não bastasse este monte de ferro no meu quintal, nem se preocupam em capinar o mato, limpar o local. E é deste chiqueiro, mesmo emporcalhado, que vejo a sujeira que, lá embaixo, campeia na cidade".
É preciso subir ao Senhor dos Montes para acreditar no abandono a que o mirante mais importante da cidade foi relegado. O acesso já é o prenúncio do que vai se encontrar no destino final: o asfalto mostra desgastes, fendas e buracos. No começo da subida, uma mistura de pé-de-moleque e asfalto, cuidado para não desaparecer nas crateras que estão nas laterais, junto ao meio-fio. O único trecho sem problemas é justamente aquele em que se anda só sobre o velho calçamento em pé-de-moleque, na praça defronte à igrejinha. Quando se chega ao alto, no ponto dito turístico, a tragédia se mostra por inteiro: o mato assenhoreou-se de tudo. O pedestal, pichado. O gradil, detonado em várias partes. A mureta de pedra que limita a rampa de acesso, praticamente destruída. E no entorno, aquele festival de antenas, gigantes, ameaçadoras, competindo com o monumento com larga vantagem para elas, em altura e quantidade. Só em altura e quantidade. São mais feias que o humilde pedestal de pedra sabão e, é claro, perdem longe para a beleza estética da escultura do Cristo, obra de arte originada do talento do escultor italiano Nicola Arreghini.
Fascinado pelo que viu na igreja do Carmo, o artista tomou como modelo, para criar o rosto do seu Cristo, o rosto do Cristo Inacabado que se abriga naquele templo. É justamente este monumento que está lá no alto, abandonado, sujo. Sujo? Não, não, imundo e cercado de imundície.
Diante de espetáculo tão desolador, senti os olhos úmidos. Viajei no tempo. Eu estava ali, naquele longínquo 1942, 66 anos atrás, com o uniforme do Grupo Escolar João dos Santos, no dia da inauguração do monumento que reinava absoluto no local. E agora, vendo a desolação, o lixo, a pocilga, o chiqueiro em que aquilo se transformou, me digam: não é razão para querer chorar?
Fonte: Gazeta de São João del-Rei