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Ouvidoria

São João del-Rei possui cerca de 350 voçorocas

Descrição

O 'antes' e o 'depois' da voçoroca de São Dimas em São João del-Rei, resultado de trabalho do Maria de Bairro, originado em Nazareno, há cerca de três anos - Fotos: Divulgação - www.projetomariadebarro.org.br

O que é um pontinho verde no mapa de São João del-Rei? Um problema ambiental grave que bate de frente com o Código Florestal Brasileiro. Isso porque a cidade tem área natural protegida quase sete vezes menor do que o definido em lei. E não é só isso. O município das Vertentes também é uma terra de erosões que, juntas, abrigariam mais de 720 estádios do Maracanã. Os dados são resultado de estudo realizado em 2007 pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) e retomado em 2010 pelo Instituto Voçorocas em diagnóstico que deve continuar até o final de 2013.

As estatísticas serão pauta do Fórum das Águas do Alto Rio Grande, que acontece nesta quinta-feira, 31, no campus Tancredo Neves (CTAN) da UFSJ. O encontro começa às 9h e se estende até as 16h com inscrições gratuitas que podem ser feitas no próprio local.

A Bacia
Composta pelos rios Grande, Aiuruoca, Turvo Grande, Ingaí e Capivari, a Bacia do Alto Rio Grande tem 9 mil km2 e passa por 33 municípios, dentre eles São João del-Rei, Itutinga, Madre de Deus de Minas, Nazareno e Lavras.

Nesse trecho, uma avaliação realizada entre 2010 e 2011 pelo Instituto Voçorocas mostra que 0,35% do espaço foi tomado por erosões, o que corresponde a 3.029 hectares. “Imagine uma fazenda com todo esse tamanho. Quando se fala assim parece ficar mais fácil entender o estrago”, comparou o presidente do grupo, Vinícius Martins Ferreira.

Segundo ele, mais do que instabilidade no terreno que acompanha a bacia, as 798 voçorocas diagnosticadas representam um alerta.
“Se há erosões, isso significa que o chão se sedimenta para a formação dos buracos. Quando chove, esses pedaços do solo são arrastados para os cursos d’água e formam verdadeiros paredões de terra. Com isso, não há para onde a chuva correr. Há um bloqueio que leva a enxurrada para as laterais, causando enchentes como as que vimos em várias cidades da região entre janeiro e fevereiro”, salientou Ferreira, destacando ainda a grande quantidade de deslizamentos de terras registrados nas Vertentes no mesmo período.

E os prejuízos não param. Para a região que comemorou a criação de um convênio e a expansão dos negócios agrícolas para todo o Estado, o impacto das voçorocas é ainda mais assustador. “Uma outra consequência é a degradação do solo. Se isso acontece, a capacidade produtiva diminui e as propriedades ficam desvalorizadas. Isso sem falar na contaminação da água. Os sedimentos que vão para os rios carregam junto toda uma gama de agrotóxicos. População e animais que consomem ou utilizam água nesses cursos estão expostas a problemas de saúde graves”, frisou.

Os cofres públicos e o bolso de quem paga impostos também sofrem. Ainda de acordo com o presidente do Instituto Voçorocas, o ciclo de degradação e sedimentação nos rios eleva os custos para o tratamento da água e para a geração de energia nas hidrelétricas.

São João del-Rei
O caso do mapa são-joanense ainda demanda estudos que continuam até 2013 em parceria com o Projeto Maria de Barro, em Nazareno; a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP); o Instituto Mineiro de Gestão das Águas e a UFSJ.
Mesmo assim, o prognóstico é preocupante. Imagens de satélite em alta resolução mostram que apenas 3,36% do território é formado por espaços verdes protegidos. No entanto, o Código Florestal Brasileiro vigente desde 1965 determina que 20% de cada propriedade seja mantido intacto, com mata nativa. Isso significa que a área verde do município é mais de seis vezes inferior ao previsto em lei.

Além disso, São João del-Rei também foi tomada por voçorocas. Ao todo foram detectadas 347, num total de 595 hectares. A maioria fica localizada em áreas rurais. “O que notamos é que 92,56% do território são-joanense foi destinado a agricultura e pastagem. Desse montante, a estimativa é de que 80% já esteja degradado”, alertou Ferreira.

Mas o problema não é recente. A questão é histórica e remonta a mais de dois séculos atrás. “Há registros de que holandeses visitaram a região entre 1805 e 1820 e apelidaram esta área como ‘sertão da terra podre’ exatamente pela quantidade de erosões que já existiam como consequência da mineração em voga no século XVII”, disse.

Causas
No entanto, não adianta isentar a modernidade e colocar a culpa em ancestrais. Ferreira lembra que embora parte do impasse ambiental venha de estradas mal traçadas séculos atrás e exploração mineral, é importante lembrar que a situação se manteve e cresceu. “Há estradas rurais que foram reestruturadas de forma incorreta e propriedades divididas exatamente por valos ao invés de cercas.

Pavimentações mal feitas também levam ao surgimento de voçorocas, bem como o crescimento desordenado. Tudo isso impede o curso de águas tanto das chuvas quanto dos rios. A poluição e o lixo nas encostas também explica esse fenômeno”, explicou.

Rio das Mortes
O rio mais importante das Vertentes também será abordado por pesquisas até o ano que vem. Até agora, nove dos 35 municípios banhados pelo Rio das Mortes foram pesquisados, incluindo São João del-Rei, Lavras, Nazareno, Barroso e São Tiago. Nessa área, mais de 1.500 foram descobertas, totalizando 2.253 hectares. Estima-se, porém, que ao final da investigação essa extensão seja quase cinco vezes maior.

Fórum
O encontro de quinta-feira será voltado a público diverso, mas a organização do evento está de olho em grupos específicos e quer dar maior atenção a eles. No fórum do dia 31, produtores rurais, representantes do Poder Público, empresas exploradoras do território local e moradores de áreas afetadas com erosões, enchentes e deslizamentos serão focos das palestras, discussões e, ainda, cadastro de propriedades que poderão receber auxílio técnico do Instituto Voçorocas. “Nosso objetivo é montar um grupo de trabalho para coletar informações a serem transformadas em políticas públicas. Queremos apresentar três práticas simples e funcionas: desviar a água do interior das erosões, cercar áreas para evitar deteriorização e presença de animais e evitar queimadas. O custo disso não é alto com a vantagem de que a própria natureza ajuda na recuperação do solo”, disse Ferreira. Segundo ele, programas de conservação de estradas rurais também são viáveis e serão debatidos. Tudo isso capaz de amenizar os problemas seculares em até dois anos.

Dentre os palestrantes estará o coordenador do Centro de Referência em Recuperação de Áreas Degradadas do Ministério do Meio Ambiente, Luiz Aquino; e o pesquisador Rogério Martins Ferreira, que assina estudo da Universidade do Texas sobre sistemas de informação geográficos na previsão de enchentes.

Fiscalização
Segundo o comandante do 3º Pelotão de Meio Ambiente e Trânsito (3º Pel PM MAT), o tenente Paulo Roberto Rodrigues, a situação das áreas ambientais são fiscalizadas na região, mas falta aparato tecnológico. “O Instituto Voçorocas pode se tornar grande parceiro na checagem da situação. Podemos unir forças nesse sentido para que com o respaldo técnico e os materiais de pesquisa possamos ajudar a sanar as defasagens. Até lá nosso trabalho continua nas vistorias e na investigação de denúncias”, disse.

Fonte: Gazeta de São João del-Rei . 26/05/2012

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