Brasileiros.
Nós, signatários desta carta, cidadãos de várias partes deste país, queremos, neste 21 de abril, comemorar o bicentenário da execução de Tiradentes, relembrando as razões de sua luta e o alcance de seus ideais, para compartilhá-los com todos os brasileiros.
Não podemos relegar ao esquecimento os feitos de nossos antepassados e de todo o nosso povo, sob pena de perdermos a consciência de nossa identidade e comprometer-mos nossa soberania. A memória da cultura comum só se perpetua através da preservação de nossos documentos e monumentos históricos.
Se as grandes datas, os nossos monumentos, nossos fundadores e os arquivos da nossa memória forem sepultados, em pouco tempo nada mais teremos a celebrar.
É fundamental que cada um de nos, no exercício da cidadania, torne-se defensor de nosso patrimônio cultural, que escolas, sindicatos, empresas e governo promovam em todo o país o conhecimento de nossa história e o sentimento de respeito e amor a tudo que nos pertence.
Ligados sempre pelo uso da língua comum, a brasilidade é um amálgama fundido no cadinho da diversidade que mistura esforços de variada origem em cinco séculos de história. Herdamos um gigantesco país criado pelo índio, pelo branco e pelo negro, e consolidado por todos quantos .a ele deram seu amor, sangue e engenho, na admirável construção da nacionalidade brasileira.
O Brasil de hoje, porém, não é o Brasil sonhado por nossos antepassados; menos ainda o Brasil que desejamos transmitir a nossos filhos e netos. Interesses externos atingem nossa soberania e nossos propósitos de desenvolvimento e bem-estar social. A miséria inaceitável escraviza a metade de nossos conterrâneos. A indigência cultural agrilhoa quase outro tanto.
A nós cabe não esquecer essa triste realidade, quando comemoramos o martírio do Alferes. Devemos lembrar de que esta situação não nos é imposta pelos fados, nem é inelutável. Temos certeza que a força do povo, consciente de sua cidadania, suplantará as terríveis dificuldades do presente por meio da democracia e do estado de direito.
Tiradentes, o herói enlouquecido de esperança, de que nos falava Tancredo Neves, lutou, até à morte, por este valor supremo do homem: a liberdade. No mundo atual, sabemos todos, não há liberdade sem justiça social e sem soberania, sem educação e sem cultura, sem trabalho e sem progresso.
São estes valores inalienáveis, a que juntamos a vida pacifica. e segura, em nossa paisagem, na defesa do verde e do límpido azul, na indivisível República Federativa do Brasil que, sob a memória reverenciada de Joaquim José da Silva Xavier, pretendemos defender e promover, com nosso amor e convicção.
"Se todos quisermos poderemos fazer deste país uma grande nação".
São João del-Rei, 21 de abril de 1992
Sessão local do encontro de historiadores
RECOMENDAÇOES
Historiadores, pesquisadores, professores, músicos e representantes da comunidade sanjoanense, reunidos na tarde do dia 20 de abril de 1992, no Museu Regional de São João deI-Rei – 13ª CR-IBPC; ao fim da apresentação e discussão de diversos trabalhos voltados para questões relativas à memória e ao patrimônio de São João del-Rei, aprovaram as seguintes recomendações:
. Fortalecimento das instituições culturais em âmbito municipal, estadual e federal, particularmente aquelas voltadas para a preservação do patrimônio cultural e da memória brasileira;
. Destinação de recursos públicos para as ações de identificação, documentação, proteção e promoção do patrimônio cultural em sua pluralidade;
. Formação de recursos humanos para a pesquisa da memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e para as ações de conservação e restauração dos testemunhos de nossa história, em seus diferentes suportes (oral, musical, escrito, fotográfico, iconográfico, arquitetônico e paisagístico);
. Realização de Encontros Anuais de Pesquisadores e Estudiosos da Cultura Sanjoanense, para troca de informações e experiências sobre a preservação do patrimônio cultural e da memória brasileira, em especial a de São João del-Rei;
. Retorno de livros e documentos importantes da história de São João del-Rei, que estão hoje sob a guarda da Biblioteca Nacional;
. Efetivação de todos os esforços visando possibilitar a complementação do restauro da matriz de Nossa Senhora do Pilar;
. Intensificação das ações de divulgação e difusão cultural do patrimônio sanjoanense, tendo em vista a conscientização da comunidade local para a importância de tão importantes bens;
. Reconhecimento da naturalidade sanjoanense do Alferes Joaquim José da Silva Xavier.
São João del-Rei, 20 de abril de 1992 . 200º Ano da Execução de Tiradentes