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Lançamento do livro "A mulher de 40" . Regina Beatriz Silva Simões
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Mulher aos 40 é tema de livro são-joanens . Walquíria Domingues
“A mulher de 40 anos não tem medo de morrer, ela tem medo de não viver”, revela Regina Beatriz Silva Simões, psicóloga e psicanalista há quase 30 anos, especialista em sexologia clínica pela Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC) e mestranda em Psicanálise na Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Este é o tema de seu primeiro livro, que teve sua segunda edição lançada na última sexta-feira, 6, na Biblioteca Municipal Batista Caetano de Almeida. A são-joanense atualizou seu livro “A mulher de 40 anos: sua sexualidade e seus afetos” lançado em 2006, e apresentou a segunda edição, “A mulher de 40” (Gutemberg, R$23,90), na noite de autógrafos.
O livro
Fruto do trabalho de sua monografia, do extinto curso de Pós-Graduação em Sexologia Clínica na FUMEC, em Belo Horizonte, Regina Beatriz conta como foi o processo de criação da obra. “Enquanto eu buscava um tema, fiz muitas entrevistas e conversei com muitas mulheres, e tive maior acesso às mulheres de 40 anos, em média”, diz.
A partir disso, a psicóloga percebeu que o discurso clínico de uma mulher de 40 anos era muito semelhante ao de uma adolescente. “Elas se queixavam das mudanças corporais, das alterações hormonais que começavam a acontecer, de uma angústia diante da vida, uma insatisfação com o corpo, com o emocional, questionamentos sobre os seus parceiros, sobre o que tinham escolhido na vida, e isso me fez reverter esta questão da adolescência, porque a adolescente faz esse tipo de discurso também”, explica Regina Simões.
Composto por quatro capítulos, o livro primeiramente fala das alterações físicas e hormonais reais, como a entrada na menopausa, a diferenciação entre menopausa e climatério, etc. A autora acha importante oferecer esse esclarecimento técnico, já que a mulher, em geral, não tem conhecimento desses assuntos por falta de informação ou talvez pela dificuldade de abordar os temas. “Tratar de sexualidade e abordar este tema é difícil até hoje. Portanto, essa primeira parte do livro precisava ser mais técnica”, conta Regina Beatriz. Além disso, a linguagem do livro é simples. “Eu não escrevi um livro para atingir as profissionais da área, eu escrevi para atingir as mulheres comuns, que tem ou não acesso ao estudo, por exemplo”, explica.
O livro também faz um histórico das mulheres no Brasil. “Abordo todo o processo social e político que compõe o universo feminino”, ressalta a psicóloga, que na segunda edição da obra também fala sobre a facilidade atual da mulher se informar mais e melhor. Para Regina, a internet, principalmente, permitiu um maior acesso a informações e dados antes inalcançáveis para o mundo feminino. Depois disso o livro apresenta depoimentos de mulheres, e fala especificamente dos 40 anos, e do assunto mais temido desta faixa etária: o envelhecimento.
Um presente: a 2ª edição
“Sinto-me presenteada”, diz Regina Simões, ao contar como foi o processo de lançamento da primeira e da segunda edição de seu livro. A primeira, lançada em São João del-Rei, Belo Horizonte e em Mato Grosso, onde a autora também possui vínculos familiares, teve uma tiragem de 1000 livros, que esgotaram. “Mil pessoas tiveram acesso ao que escrevi e pra mim isso foi muito gratificante”, ressalta.
A segunda edição foi uma surpresa, e Regina recebeu a proposta em maio deste ano. “Recebi um telefonema da editora Gutemberg, sugerindo que tentássemos uma segunda edição já que a primeira estava esgotada, e em dois meses ficou tudo pronto”, conta a psicóloga. Ela se orgulha ao contar que a editora levou o livro para a 15ª Bienal do Livro do Rio, no mês passado, que teve 670 mil visitantes e vendeu 2,8 milhões de livros. “Senti-me muito orgulhosa, e acho que foi um privilégio de ter participado da Bienal”, diz.
A respeito do mercado editorial, Regina explica que “a editora banca tudo”, diz. “Até agora a editora custeou todo o meu trabalho. O custo é zero quando a editora tem interesse em seu trabalho, e felizmente isso aconteceu comigo na primeira e na segunda edição”, conta a autora. Com a venda dos livros, uma porcentagem do valor vai para o autor e outra para a editora.
A nova edição teve uma tiragem de dois mil exemplares. “Foi um número muito acima do que eu esperava, e da editora também”, conta Regina Beatriz, que se diz surpresa por saber da editora que havia homens comprando e lendo seu livro. “Ou eles estavam comprando por curiosidade ou para presentear as companheiras, e isso foi um dado novo pra mim”, diz.
A cidade e o livro
“Foi importantíssimo para mim apresentar minha escrita na minha cidade. Afinal aqui é a minha terra, minhas raízes estão aqui, é aqui que trabalho, que estudei e continuo estudando, que constitui minha família”, conta Regina Simões. Há quase 30 anos exercendo a psicologia clínica na cidade, Regina escuta as mulheres são-joanenses todos os dias.
Mesmo não sendo um livro são-joanense que fala de São João del-Rei, como acontece na maioria das vezes, a autora diz que o livro também fala da cidade. “Ele fala de alguém daqui que cuida de ouvir as mulheres daqui. A lida é diária. A mulherada desta cidade, que me rodeia e que me inspira, foi muito importante para o desenvolvimento do livro”, acredita.
Apesar do reconhecimento, a psicóloga são-joanense se entristece ao falar da cultura de livrarias e do gosto pela leitura na cidade. “Fico triste em ter que contar quando me perguntam, que na minha terra não existe livraria. Felizmente temos lojas que se dispõe a comprar os livros quando há pedidos, e algumas pequenas iniciativas. Aqui é uma cidade que precisa de uma livraria, associada a um café, um espaço para lançamento de livros, como o Acanto Cultural, que infelizmente fechou as portas”, sugere.
São João del-Rei é uma cidade essencialmente cultural, que tem um perfil de intelectuais, que tem registrado isso na sua história, segundo Regina Simões. Ela se lamenta pela situação atual da cidade, até pelo fato de São João del-Rei ser a sede da primeira biblioteca pública de Minas Gerais (local onde foi lançado seu livro). “Até quando vai ser assim? Até quando as pessoas vão continuar buscando livros fora daqui?”, reflete.
Regina Simões tenta chegar a uma conclusão para o mistério da cidade histórica, cultural e universitária que não tem livrarias e o gosto por leitura. “Acho que existe certa acomodação das pessoas com relação à internet, mas não acredito que o problema venha disso, porque quem gosta de ler, lê, e vai às livrarias. O livro tem ‘pega’, te inspira, o livro é uma sedução”, diz.
A autora de “A mulher de 40” revela que participará do 5º Festival de Literatura de São João del-Rei (FELIT), uma das iniciativas que vem lutando com muita dificuldade para se manter na cidade. “É um evento maravilhoso e me sinto feliz de poder participar”, diz.
Fonte: Observatório da Cultura
A experiência da vida em movimento . Sobre o livro "A mulher de 40" de Regina Beatriz
No dia 7 de outubro Regina Beatriz fez o lançamento da segunda edição do seu livro A mulher de 40. O livro resume as transformações físicas e emocionais pelas quais passa a mulher na meia idade, faz um histórico da vida sexual feminina na sociedade ocidental destacando as mudanças ocorridas no último século, aborda a experiência da sexualidade neste período da vida e finalmente, apresenta os quarenta anos como o começo da nova etapa da vida, ocasião da experiência mais próxima do envelhecimento. Quando do lançamento da primeira edição fizemos um comentário da descrição de Regina Beatriz sobre este momento da existência. Falamos das partes do livro. A segunda edição permite tocar numa questão específica que se tornou urgente e que a autora faz com rara felicidade: situar a passagem pelos quarenta sem fantasias, sem falsos consolos, mas apresentando-a como um tempo onde é possível estar bem.
O que faz da abordagem de Regina Beatriz uma leitura tão feliz? Ela não fantasia os 40. Trata-se de um tempo onde “a textura da pele muda, bem como o tônus muscular” (p. 57). É o momento da vida em que a mulher vive o climatério e a maioria passa pela menopausa. O corpo já não é mais o mesmo e o fato afeta o modo de viver a sexualidade. Contra esta posição serena e objetiva da autora a pressão irreal da mídia e da indústria de cosméticos que apresentam a mulher de quarenta como uma espécie de extensão das de quinze ou vinte. Há pouco tempo uma revista de circulação nacional destacou na capa o que denominou de geração sem idade, comparando mãe e filha, apresentando-as como companheiras de baladas, igualmente belas, igualmente disponíveis para o sexo. Nada mais falso, irreal e gerador de frustrações.
A abordagem é feliz porque apresenta a passagem pelos quarenta como um tempo de sofrimentos e perdas, mas principalmente de mudanças, ocasião de “estabelecer prioridade, rever valores, usufruir conquistas, dar uma reviravolta” (p. 113). Não se é mais o que se foi na juventude, a nossa história nos fez diferentes.
A leitura de Regina Beatriz é feliz porque mostra que se o corpo não é mais o mesmo e o desejo sexual também não, isto não significa que a mulher não possa viver a sexualidade de forma prazerosa. Em certo sentido a vida sexual pode ficar mais leve, quer porque o medo da gravidez já não está presente, quer porque os anos e a história pessoal permitem olhar de forma mais serena os medos e fantasias da sexualidade. A mulher ainda tem medos, mas os enfrenta com mais serenidade. Compreendeu que a vida, inclusive a sexual, é singular. Pode contar com ajuda médica e psicológica para lidar melhor com as limitações da idade e das fantasias. Pode estimular o desejo e desmistificar os preconceitos. Ela pode descobrir que “o sentido de suas ações, tanto no sexo como na vida, não está em evitar o fracasso, mas em ousar experimentar” (p. 79). Ela pode fazer muito se souber escolher com o que dispõe como corpo e experiências. Há uma frase linda que merece ser repetida: “À mulher de 40, mais consciente que aos 20 e aos 30, fica a sugestão: aproprie-se de sua vida, seja autora de sua história. As escolhas são suas” (p. 81). Clara percepção daquilo que o filósofo Ortega y Gasset ensinou no último século, a vida é o que fazer com a circunstância de que dispomos.
A interpretação da autora é feliz porque mostra os quarenta como um momento de passagem para a velhice. A mulher então “chora mais, ri mais, seleciona mais, lê mais, pensa mais, pois sabe que não tem o tempo todo ao seu dispor” (p. 85). Experimenta então o que a analítica existencial propõe, a consciência da morte é um estímulo para uma vida mais autêntica, uma vida com escolhas que têm mais a ver mais conosco e menos com o outros. Ela conclui: “o processo de envelhecimento é gradual, é lento e decorre de uma sucessão de acontecimentos (...) que transcorrem de modo vagaroso ao longo da vida. Envelhecer é um processo (...), não é uma doença” (p. 87).
José Mauricio de Carvalho - Departamento de Filosofia da UFSJ
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Lançamento do livro "A mulher de 40" . Regina Beatriz Silva Simões
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A experiência da vida em movimento . Sobre o livro "A mulher de 40" de Regina Beatriz