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Tipo: Artigos / Cartilhas / Livros / Teses e Monografias / Pesquisas / Personagens Urbanos / Diversos

Escopo: Local / Global

 

Tancredo Neves

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Tancredo Neves Wikipédia
Tancredo Neves . São João del-Rei celebra centenário
Memorial Tancredo Neves

Imagens Centenário de Tancredo Neves . 1910-2010
Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves . Inaugurada em março de 2010

Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves . Minas Gerais

Tancredo Neves 100 anos . Gazeta de São João del-Rei

Tancredo Neves . José Mauricio de Carvalho

Inauguração do busto do Presidente Tancredo Neves

Homenagem a Tancredo Neves no Congresso Nacional

Minas Futebol Clube, o time de Tancredo Neves

Reminiscências de Dr. Tancredo de Almeida Neves em 1944* . Celina dos Santos Braga

Tancredo: O homem e sua travessia

Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 1
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 2
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 3
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 4
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 5
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 6
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 7
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 8
Entrevista de Tancredo Neves ao canal Livre da TV Bandeirantes . 1984 . Parte 9

Andrea Neves
Aécio Neves

Tancredo Neves . Bartolomeu Campos de Queirós

É certo que as palavras voam. E com suas asas chegam à concha do ouvido, como flecha que fere ou pérola que enriquece. E as palavras inauguram possibilidades de outros destinos, novas fronteiras e mais liberdades.
As palavrascuram a dor da prisão injusta, o preconceito quanto à diferença do pensar, cicatrizam a ferida da opressão.
E foi assim, como a sonoridade dos sinos da Igreja de São Francisco — feitos de ouro e bronze —, que suas palavras nos chegaram sempre. Varriam o espaço obscuro da nação, anunciando que a liberdade é possível, a justiça uma construção, a existência uma promessa em andamento.
Tancredo Neves nos abriu as portas para a liberdade ao afrontar as grades que nos cerceavam. Por bem compreender que a Paz é telúrica, e nasce de luta coletiva, nos convocou a preencher o vazio das praças e proclamar o nosso desejo de mais humanidade. Pela sua força liberamos nossa garganta muda para exigir um novo percurso.
Como sentinela maior e democrática, Tancredo Neves denunciou nosso anseio reprimido, tendo como
arma sua longa história política! Ele bem adivinhava que havia muito esperávamos uma boa nova, uma autoridade capaz de administrar nossa vocação para a liberdade.
Por ser assim, ainda agora, sua palavra corta os ares de Minas e derrama exemplos para o depois de nossas montanhas. De tudo ficou na memória brasileira a lembrança de que a “liberaleza” nos visitou num breve tempo, mas de maneira tão preciosa como o segredo que nossas minas ainda guardam.

Fonte: São João del-Rei Capital da Cultura

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Tancredo Neves iniciou carreira de advogado e exerceu influência política em Prados

Prados, do início do século 18, é denominada a “cidade da música” e também pode ser considerado o município onde a influência da igreja na política foi muito intensa. Um de seus maiores políticos, Getúlio Silva (Partido Social Democrático - PSD), foi violinista da Lira Ceciliana, com forte predominância da música religiosa. O padre Francisco Eduardo de Assis, pároco e um dos líderes da União Democrática Nacional (UDN), foi um dos principais adversários de Getúlio nos tempos em que a disputa política local era ferrenha. E o fervoroso Tancredo Neves iniciou a carreira de advogado e exerceu marcante influência na política local.    
 
Distrito até 1890, Prados foi palco de reuniões de conjurados na antiga “Fazenda da Ponta do Morro”, de acordo com Dario Cardoso Vale (Memórias Históricas de Prados, Belo Horizonte, 1985). Entre os filhos ilustres desta fase, o autor do livro cita o inconfidente José de Resende Costa (pai); o primo de Tiradentes Padre Antonio Rodrigues Dantas; o Marquês de Valença (Estevão Ribeiro de Rezende), ministro várias vezes do Império; o coronel João Luiz de Campos (responsável pela emancipação político-administrativa do município, deputado provincial e deputado federal) e o médico pernambucano Viviano Caldas, que foi chefe político local, presidente da Intendência (anterior à Câmara Municipal) por muitos anos e deputado estadual em várias legislaturas.  
 
O antigo Distrito Paroquial de Nossa Senhora da Conceição de Prados desmembrou-se de Tiradentes e se transformou em município no dia 1º de janeiro de 1891, conforme os anais da Câmara Municipal (Livro I). O capitão Joaquim Teixeira da Silva (conhecido por “Lebre”) foi um dos primeiros vereadores de Prados, ocupando a presidência da Intendência no período de 18/11/1896 a 31/12/1897, segundo informa Luis Fonseca e Silva. O filho do capitão, Reginaldo Augusto da Silva (conhecido por “Major”), foi eleito vereador por várias legislaturas entre 1900 e 1931, ocupando a vice-presidência da Câmara e o cargo de Agente Executivo.
 
Estes dois políticos pradenses eram, respectivamente, avô e pai de Getúlio Silva, considerado um dos maiores políticos da história do município. “Com essa herança, afloraria na inteligência de Getúlio Silva enorme espírito público, o qual nortearia a sua conduta e a sua vida comunitária em Prados”, diz Luis Fonseca que é seu neto. Aos 45 anos de idade, Getúlio foi nomeado pelo primeiro prefeito municipal de Prados, Antonio Cardoso Valle, conselheiro do Conselho Consultivo de Prados, que substituiu a Câmara Municipal extinta pela revolução de 1930.
 
Com a volta dos legislativos municipais, em 1936, Getúlio Silva foi um dos sete vereadores eleitos para a Câmara Municipal de Prados, todos pelo Partido Progressista (PP). Candidato mais votado (172 votos), o jovem político credenciou-se para assumir a presidência da Câmara Municipal e, em 1º de setembro de 1937, o cargo de prefeito em decorrência de vacância pela renúncia de Antonio Valle.
 
Com a implantação do Estado Novo, governadores e prefeitos passaram a ser nomeados. Assim, em 1938, o governador nomeado de Minas Gerais, Benedito Valadares, manteve Getúlio Silva no cargo de prefeito municipal, no qual permaneceria até final de 1945. Em 1946, ele reassumiu a função de prefeito municipal, desta vez nomeado pelo interventor federal em Minas, João Tavares Corrêa Beraldo, mas renunciou ao cargo alguns meses depois.
 
Entre os feitos de Getúlio Silva na administração municipal, destaca-se o projeto e execução da rede de esgoto da cidade de Prados, mesmo contra a opinião do engenheiro da Rede Ferroviária Centro-Oeste, Dr. Lores, que não via condições para a realização da obra, de acordo com Roseni Pinheiro. “É a mesma rede de esgoto que funciona até hoje.” “Getúlio foi um bom prefeito, um homem muito direito, muito honesto”, acrescenta João Batista de Almeida.     
 
UDN e PSD
Getúlio Silva ocupou o vácuo político deixado por lideranças como Viviano Caldas e Antonio Cardoso Valle, que se afastaram definitivamente da vida política do município, de acordo com Luis Fonseca. Assim, às suas qualidades de comerciante, músico e mecenas, foi acrescentado o prestígio político.    
 
Consta que na eleição municipal de 1947, a primeira realizada após a queda da ditadura Vargas, Getúlio Silva não aceitou concorrer ao cargo de prefeito pelo PSD, por se sentir “cansado e desgostoso com os acontecimentos políticos locais”, diz Luis Fonseca.  O PSD, então, lançou candidato a prefeito o advogado José Fonseca, o “Bibi”, que foi fragorosamente derrotado por José Moura Vale, candidato da UDN apoiado pelo padre Francisco de Assis. 
 
Na eleição de 1950, Getúlio aceitou concorrer ao cargo de prefeito municipal, pressionado pelos companheiros de partido. Mais uma vez, o PSD foi derrotado pela UDN, que tinha no vigário local o seu maior e imbatível cabo eleitoral. Getúlio perdeu a eleição para o seu cunhado Antonio Ernesto de Campos Azevedo, o Nô. 
 
Mas Getúlio Silva se tornou a primeira grande liderança política do PSD em Prados, de acordo com Roseni. Outras lideranças de expressão do PSD pradense foram João Carvalho Silva (filho de Getúlio), prefeito por duas vezes; seu irmão José Carvalho Silva, o Zé Café, que foi vereador e prefeito substituto; e Egerton Reis, vereador por três mandatos e líder do partido.
 
Já o padre Francisco de Assis, são-joanense, foi a primeira grande liderança da UDN política local. Ele foi um dos maiores políticos e benfeitores de Prados, entre o fim da ditadura Vargas e 1976 (ano do seu falecimento), segundo José Geraldo da Costa, o Nhô Marques, da Selaria Estrela. Ao padre Assis são atribuídos a construção da Santa Casa, o posto de saúde, antigos grupo escolar e ginásio e cinco capelas, além do “dispensário e lactário” para o pobre não pedir esmola na rua.
 
Outra liderança udenista foi José Moura Vale, o Juca Moura, prefeito por dois mandatos (1947 a 50), construtor do prédio da Prefeitura Municipal, que funciona até hoje. Já o segundo administrador municipal da UDN, Antonio Ernesto (1951-54), “foi um grande prefeito”, na opinião de Roseni Pinheiro que pertenceu às fileiras do PSD. Juca Moura voltou a administrar o município (1955-58), perdendo a eleição seguinte para João Carvalho Silva (PSD).  
 
Roseni Pinheiro foi fundador do MDB local e dirigiu não apenas o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) como também o seu sucessor, PMDB, e o PP (Partido Popular). Foi um dos dois únicos políticos de Prados a ser eleito vereador por seis vezes, tendo sido presidente da Câmara Municipal por três mandados e chefe de gabinete do prefeito do PSDB, Paulo Vale.
 
O outro vereador de seis mandatos foi o empresário José Marques da Costa, eleito pela UDN e pela Aliança Renovadora Nacional (ARENA). Zé Marques fundou a Selaria Estrela em 1930 e foi vereador de 1946 a 1972. Seu herdeiro, Nhô Marques, cita, ainda, o tabelião Hélio Márcio Lopes como político de destaque da velha UDN. Mais tarde, entre 1973 a 82, Nhô Marques seguiria os passos do pai, tornando-se vereador e presidente da Câmara Municipal, já na época da ARENA.  
 
Disputa acirrada
A disputa acirrada entre Getúlio Silva e o padre Francisco de Assis levou o líder do PSD a escrever um livro de sátiras em versos denominado “Troco em Miúdos”. No prefácio, que assinava como “A. Terra Barata”, diz que sempre teve o sacerdote em alta conta, por instrução dos pais e mestres na prática da religião católica apostólica romana. Foi assim que recebeu o “padre Chiquinho” em Prados “com alegria sincera”, mas logo percebeu “a sua ojeriza para com o Pradense Clube, de que faço parte, e por aí, não vendo também com bons olhos a minha investidura no cargo de prefeito do município”.
 
“Não conseguindo me dominar com boa razão – prossegue o autor – passou a mover campanha política contra mim, a princípio, um tanto velada, até degenerar-se numa feroz e desumana luta, sem nenhuma razão da sua parte.” Foi desse ambiente que nasceram as sátiras, continua Getúlio. “Elas significam não um desapreço ao sacerdote, ao clero, enfim, mas, tão somente, o meu desagrado a certas práticas de que, dominado por paixões, vem perturbando o meio social em que vivemos. (...) Não estou me defendendo. Defendo a minha cidade.”        
 
Na época do PSD e da UDN, “a política era brava”, concorda Nhô Marques. “A briga era acirrada; não havia agressões, mas havia uma separação bem clara”, completa João Almeida. Nhô Marques conta que os comitês da UDN e do PSD eram em frente um do outro. Hélio Lopes, da UDN, pelo alto-falante, denominava os pessedistas como “o povo do lado de lá”. De fato, nos horários políticos, “pegava fogo; um falava de lá, o outro respondia de cá”, lembra Roseni. Eram locutores Hélio Lopes, pela UDN, e Egerton Reis/Eber Lacerda, pelo PSD.
 
O “comitê” da UDN, no alto da Avenida Magalhães Gomes (ao lado do casarão da Ladeira Nossa Senhora da Conceição, onde existe hoje o “Memorial Mons. Assis”), era denominado mausoléu do monsenhor, porque lá funcionava o serviço de alto-falante da paróquia. Já o “comitê” do PSD estava instalado no segundo andar do prédio do antigo Pradense Clube (hoje, Sicoob Vertentes), em cuja parte inferior funcionava o Empório Central (secos e molhados, material de construação etc.) de Getúlio Silva, na mesma avenida. Havia horários estabelecidos pela Justiça para manifestações políticas. Funcionava, alternadamente, entre 10h ao meio dia e 14h às 16h, enquanto das 16h às 18h e das 18h às 20h eram horários exclusivos para música.
 
Roseni recorda de uma passagem envolvendo os candidatos a prefeito Hélio Lopes (UDN) e João Carvalho (PSD) às vésperas da eleição. A mulher de Hélio encontrou na rua com uma amiga, dona Edmê, e afirmou que iria dormir com o prefeito eleito. Como João Carvalho ganhou a eleição, dona Edmê não teve dúvida: foi à casa de Hélio e disse à mulher dele para pedir licença à esposa do prefeito eleito para dormir com ele.
 
Tancredo Neves  
Tancredo Neves trabalhou como advogado em Prados, no início da sua carreira, “com brilhante atuação, ganhando diversos processos”, conta Roseni. “A primeira causa que pegou e ganhou, quando se formou advogado, foi em Prados”, acrescenta João Almeida.
 
Tancredo ficava em Prados a semana inteira e em São João del-Rei nos fins de semana. Nhô Marques recorda de ver Tancredo Neves descendo perto da Selaria Estrela todo dia de manhã, por volta das 9h30, procedente da estação de trem. “Lembro do Tancredo subindo a rua (Coronel José Manuel), com uma pastinha preta, rumo ao Fórum.” Até que se tornou vereador em São João del-Rei e entrou em definitivo na vida política.
 
O Tancredo Neves, político, foi um grande aliado de Getúlio Silva e dos partidários do PSD. “Tancredo Neves foi o baluarte do PSD, do MDB, do PMDB e do PP de Prados”, resume Roseni.
 
Roseni recorda de passagens importantes envolvendo a vida política de Tancredo. Um dia, em seu gabinete, perguntei por que ele não foi cassado pela ditadura militar. E Tancredo, apontando para a gaveta, respondeu que ali dentro havia documentos que comprometiam vários generais do Brasil.
 
Em 1983, quando Tancredo era governador de Minas e Roseni, presidente do PMDB e da Câmara Municipal, foi aprovado o asfaltamento entre o trevo da rodovia MGT 383 e Prados e o trevo da mesma rodovia e Coronel Xavier Chaves, esta última obra com a participação do vereador João Vicente, presidente do PMDB e da Câmara Municipal daquele município.
 
Em 1984, no Palácio da Liberdade em Belo Horizonte, Roseni disse a Tancredo Neves que havia boatos de que ele seria candidato à Presidência da República. O governador respondeu que não havia qualquer possibilidade, ao que Roseni retrucou: “Então, o sr. é candidato”.    
 
Cenário atual
Entre os prefeitos mais recentes, destacam-se representantes das famílias tradicionais na política como Gastão de Azevedo Cardoso (1963-66), João Carvalho Silva (1967-70), Roberto Miranda (1983-88) e Paulo de Carvalho Valle (1997-2000). O atual prefeito de Prados, Gustavo Gastão Corgosinho Cardoso (em segundo mandato), é neto do primeiro prefeito Antonio Valle e filho do ex-prefeito Gastão.    
 
“Ainda existe a mesma resma antiga”, admite Roseni ao comentar a política local nos dias de hoje. Prados é comandado pelo PT, coligado com o PMDB, dois partidos oriundos na sua maioria de famílias tradicionais (Miranda, Reis e Azevedo Cardoso)
que pertenceram ao PSD. Já o PSDB descende na maioria da antiga UDN, representada pelas famílias Marques da Costa e Valle.

Desafios
O grande desafio de Prados é a criação de postos de trabalho para a comunidade local, por meio de “parcerias com grandes empresas que atuam na região, como Frango Atalaia, Marluvas e Holcim”, diz o prefeito Gustavo. Mas o desenvolvimento do turismo é “a grande alternativa econômica para o município, já que a região é um grande polo de atração para o turismo histórico/cultural e artístico/artesanal e possui um grande potencial para o turismo natural”. A Serra de São José, por exemplo, precisa de um plano de manejo para que possa ser explorada para fins turísticos de forma sustentável.   
 
Daí a importância de desenvolver o turismo “de forma ordenada, a fim de oferecer o máximo de benefícios ao município e aos seus residentes”, diz o secretário municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer Daniel Fonseca e Silva de Carvalho. Os recursos naturais, a beleza cênica, a diversidade e as tradições da população “devem ser preservados e amparados, não apenas porque é apreciado por outros concidadãos e por visitantes de todo o mundo, mas por serem estimados pelos próprios residentes deste município”.
 
Segundo Daniel, o turismo cria empregos e gera renda, contribuindo para o bem estar econômico do município. “Para isso, é necessário oferecer o mínimo de conforto aos turistas e visitantes, como acesso e opções de gastronomia e hospedagem. Valorizar nossos artistas e artesãos é de fundamental importância. Além disso, a criação de eventos que atraiam grande público, parcerias firmadas com órgãos fomentadores do turismo, como a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais, o Circuito Turístico Trilha dos Inconfidentes e o SEBRAE, nos ajudam muito a divulgar e qualificar o artesanato de Prados.”
 
Já Aureliano Magela de Rezende, músico e secretário da Lira Ceciliana, acredita que o desafio é justamente encontrar a vocação turística do município. “Turismo é uma fonte de renda que Prados poderia explorar melhor.” Nesse sentido, ele defende que uma boa política seria divulgar as manifestações culturais do povo pradense, relacionadas com o carnaval, a semana santa, a música e o acervo arquitetônico e paisagístico, bem como promover um turismo direcionado e de qualidade.
 
Aureliano pede soluções para a questão da preservação arquitetônica, “já que a cidade ficou na contra-mão de 1980 para cá, com desenvolvimento urbano desordenado”. Ele estima em 40% a perda dos imóveis históricos (sobrados e casarões a partir do século 18), situados no pequeno espaço entre as duas igrejas do mesmo período e no entorno próximo. “No início dos anos 80, Prados tinha aspecto mais pitoresco; o notável conjunto arquitetônico estava mais intacto e livre de interferências negativas.”
 
Um caso visível é o do ameaçado casarão do século 18, sede da Selaria Estrela desde a década de 1940. Segundo Daniel Carvalho, a administração municipal, com a ajuda do Ministério Público, firmou uma parceria com os proprietários/herdeiros do imóvel, que não possuem condições financeiras para restaurar o imóvel. “Os proprietários/herdeiros cederam o imóvel em comodato de 20 anos ao município, para que agora possamos buscar recursos nos órgãos públicos fomentadores para restaurar o casarão. A família permanecerá exercendo o ofício da selaria no pavimento inferior e o 2° andar será utilizado pelo poder público para a promoção e proteção do patrimônio cultural de Prados.”
 
Mas a interferência maior é a construção não planejada de novos imóveis no miolo do conjunto histórico, observa Aureliano. Não é o caso da Lira Ceciliana, cuja “interferência é positiva” pois a sede (“casa da música”) foi construída com projeto inserido no conjunto arquitetônico. 
 
Elton Nascimento de Souza, ex-presidente (2004-2010) e atual 2º tesoureiro da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária, também defende o poder público mais atuante na divulgação do artesanato (couro, madeira e ferro). Tradicional, o artesanato de couro (arreios e acessórios) é a segunda atividade econômica mais antiga de Prados, depois do ouro. Hoje, diversificou-se para calçados, vestuário e selas, diz ele. Já o artesanato de madeira começou há cerca de 20 anos na zona rural, como alternativa à agropecuária. Por fim, o artesanato de ferro, mais recente ainda, é voltado para a decoração. “O maior desafio do artesão é a divulgação.”
 
Elton propõe ainda que o Bichinho (Vitoriano Veloso) seja parte integrante desta política de divulgação. “O Bichinho está isolado de Prados, embora pertença ao município. Muita gente pensa que o Bichinho pertence a Tiradentes.”  Incorporar o Bichinho significa ampliar o turismo em Prados, justifica. Uma das medidas seria asfaltar (ou calçar) o trecho de terra (cerca de 6 km) que liga a cidade ao Bichinho. “O artesanato de Prados tem tudo para deslanchar”, afirma Elton.  
 
Carnaval x Semana Santa 
Aureliano é crítico da prioridade a eventos da cultura de massa como, por exemplo, o carnaval nos moldes atuais, em prejuízo das manifestações da comunidade. “A política cultural deveria ser voltada à valorização de eventos que guardem maior relação com a identidade local, tendo em vista a herança cultural tão rica que a cidade sempre teve. O carnaval de Prados, por exemplo, perdeu a sua característica original em função dessa invasão externa.” Sem falar do aspecto ambiental, relacionado com poluição sonora que afeta a qualidade de vida e extrapola o próprio carnaval. 
 
A preservação das manifestações culturais locais deve ser mantida na prática musical, prossegue Aureliano, que “é muito intensa e se constitui traço marcante da identidade local, embora amadora e contando com dificuldades”. A parte musical é representada principalmente pela Lira, que mantém banda de música, coro e orquestra, ainda muito ligados à religião, “mas hoje com um lado eclético”.
 
Desde que surgiu, a Lira mantém uma escola de iniciação musical, ou seja, a prática de formar aprendizes. “O aprendizado é no próprio grupo”, conta Aureliano. Desde 1977, a Lira promove festivais de música, em julho. “São festivais de música erudita, concebidos para oferecer aprendizado e aprimoramento musical da comunidade local. Hoje em dia, tem muito mais caráter de apresentações do que pedagógico.”
 
Se o carnaval perdeu espaço para a cultura de massa, a semana santa é uma das mais interessantes do Estado de Minas, revela Aureliano, por sua característica original de “manifestação religiosa e viva e participação intensa e autêntica da comunidade”. Diferencia-se pela riqueza cultural imensa, pelas solenidades e pela intervenção musical. O repertório musical da Lira abrange maior número de composições do século 18, com mais de 100 peças executadas ao longo de 15 dias ininterruptos (desde a festa das Dores, passando pela festa dos Passos até a semana santa propriamente dita). Segundo Aureliano, este é um diferencial da semana santa de São João del-Rei que prioriza o repertório do século 19.  

Mas os desafios de Prados passam pelo Plano Diretor, cuja criação é “fundamental para o crescimento ordenado do município”, observa o prefeito Gustavo. O crescimento desordenado nas últimas décadas provocou “impactos físicos e estruturais, principalmente no distrito sede e nos aglomerados rurais”. Por isso, a Associação dos Municípios da Microrregião do Campo das Vertentes (AMVER) está buscando parcerias com universidades e empresas para a elaboração do Plano Diretor para os municípios associados.

Fonte: Jornal das Lajes . Por José Venâncio de Resende em 13 de Dezembro de 2011

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