página inicial | ser nobre é ter identidade | rede colaborativa pró-agenda 2030
Melhores Práticas
O menino que pode salvar o mar . Boyan Slat
Descrição
Aos 16 anos, Boyan Slat foi à praia e se assustou com a quantidade de lixo. Bolou um plano mirabolante para limpar os oceanos. Virou celebridade, ganhou um prêmio da ONU – e o dinheiro para tentar salvar o mar
Sarah Kern - Superinteressante - 01/2015
Em 2011, o holandês Boyan Slat foi passar as férias na Grécia, conhecida pelas belas praias e pelo mar, de um azul safira incrível. Mas o encantamento durou pouco. Quando entrou na água, Boyan logo se assustou com o que viu: um monte de saquinhos plásticos boiando. Eram tantos, mas tantos, que ele pensou que fossem águas-vivas.
O garoto, então com 16 anos, encasquetou com aquilo. Assim que voltou para casa, começou a estudar o assunto. A cada ano, a humanidade joga 6,4 milhões de toneladas de lixo no mar – e 80% disso é plástico. Estima-se que haja 18 mil pedaços de plástico para cada quilômetro quadrado de oceano. Ou seja, um emporcalhamento de proporções colossais, e que só piora. Mas Boyan achou que podia dar um jeito.
Criou um plano, que apresentou na feirinha de ciências do colégio. O projeto acabou ganhando um prêmio da Universidade de Delft, uma das mais importantes da Holanda, e fez o garoto ser convidado para uma apresentação no evento TED – que foi vista 1,7 milhão de vezes pela internet. A ideia chegou às Nações Unidas, que em novembro de 2014 deram a Boyan o Champion of the Earth*, seu maior prêmio ambiental. O menino criou um site para levantar doações. Conseguiu, contratou cientistas e engenheiros, e começou a tocar o projeto.
Essa história cheia de reviravoltas, com um quê de conto de fadas, começou com uma ideia simples. Boyan decidiu estudar os chamados giros oceânicos. Há cinco giros principais. Eles são grandes correntes marítimas que puxam o lixo do resto do oceano, e funcionam como enormes redemoinhos de sujeira. Chegam a ter seis vezes mais plástico do que zooplâncton (criaturas microscópicas que são a comida dos animais maiores). Por que não atacar o problema justo ali? Ao invés de ir atrás do lixo, por que não deixar ele vir até você – e aí capturá-lo com uma armadilha? Foi isso o que Boyan pensou.
No projeto dele, cada barreira é formada por um cordão com 100 km de boias dispostas em formato de “U”. Conforme a corrente marítima passa, o plástico chega e fica preso. É recolhido depois por um navio lixeiro, que passa lá uma vez a cada 45 dias. Em tese, peixes e outros animais não seriam afetados, pois conse-guiriam passar por baixo das barreiras.
O projeto recebeu muitas críticas de especialistas. Alguns disseram que as ar-madilhas não vão funcionar, pois os giros oceânicos são grandes demais. Outros acham que as boias podem arrebentar ou se deformar. Ou que o problema está na fixação (pois cada barreira precisa ser amarrada, com um cabo de 4 km, ao fundo do mar, o que é tecnicamente difícil). Também houve quem questionasse o que seria feito com o plástico recolhido, pois a água salgada e o sol alteram suas propriedades, dificultando areciclagem. A saraivada de críticas mexeu com Boyan. “Aquilo me afetou bastante”, admite.
Usando parte do dinheiro que havia arrecadado, ele contratou uma equipe de engenheiros e biólogos, que refinaram o sistema e elaboraram estudo de 530 páginas que explica como ele pode funcionar. Uma das soluções veio do Brasil. Uma experiência da Universidade de Caxias do Sul mostrou que é possível reciclar plástico coletado no mar. “As pessoas pensam que é só pegar o material, colocar numa máquina e reci-clar. Mas ele vem fragmentado e cheio de colônias (animais) na superfície”, diz o estudante de engenharia ambiental Kauê Pelegrini, responsável pelo projeto. Ele e seus professores criaram um processo que limpa, separa e condiciona plástico – que foi transformado em saboneteiras.
O estudo de Boyan também mostrou que é possível transformar o plástico em óleo – que poderia ser revendido, gerando recursos para a manutenção das boias. Até agora, Boyan levantou pouco mais de US$ 2 milhões em doações. Esse dinheiro é suficiente para produzir algumas barreiras e testá-las na primeira etapa do projeto, que deverá durar quatro anos. Ele calcula que, se o sistema fosse implantado em larga escala, seria possível retirar 16% de todo o plástico dos oceanos a cada dez anos. Isso significa que, teoricamente, o problema do lixo marinho poderia ser resolvido em algumas décadas. O custo seria de US$ 30 milhões anuais, um valor modesto (a cidade de São Paulo gasta 20 vezes isso com a coleta de lixo). “Acho que a tecnologia é o melhor meio para qualquer mudança. Eu poderia dedicar minha vida a isso”, sonha o garoto.
*Champion of the Earth
Sarah Kern - Superinteressante - 01/2015
Em 2011, o holandês Boyan Slat foi passar as férias na Grécia, conhecida pelas belas praias e pelo mar, de um azul safira incrível. Mas o encantamento durou pouco. Quando entrou na água, Boyan logo se assustou com o que viu: um monte de saquinhos plásticos boiando. Eram tantos, mas tantos, que ele pensou que fossem águas-vivas.
O garoto, então com 16 anos, encasquetou com aquilo. Assim que voltou para casa, começou a estudar o assunto. A cada ano, a humanidade joga 6,4 milhões de toneladas de lixo no mar – e 80% disso é plástico. Estima-se que haja 18 mil pedaços de plástico para cada quilômetro quadrado de oceano. Ou seja, um emporcalhamento de proporções colossais, e que só piora. Mas Boyan achou que podia dar um jeito.
Criou um plano, que apresentou na feirinha de ciências do colégio. O projeto acabou ganhando um prêmio da Universidade de Delft, uma das mais importantes da Holanda, e fez o garoto ser convidado para uma apresentação no evento TED – que foi vista 1,7 milhão de vezes pela internet. A ideia chegou às Nações Unidas, que em novembro de 2014 deram a Boyan o Champion of the Earth*, seu maior prêmio ambiental. O menino criou um site para levantar doações. Conseguiu, contratou cientistas e engenheiros, e começou a tocar o projeto.
Essa história cheia de reviravoltas, com um quê de conto de fadas, começou com uma ideia simples. Boyan decidiu estudar os chamados giros oceânicos. Há cinco giros principais. Eles são grandes correntes marítimas que puxam o lixo do resto do oceano, e funcionam como enormes redemoinhos de sujeira. Chegam a ter seis vezes mais plástico do que zooplâncton (criaturas microscópicas que são a comida dos animais maiores). Por que não atacar o problema justo ali? Ao invés de ir atrás do lixo, por que não deixar ele vir até você – e aí capturá-lo com uma armadilha? Foi isso o que Boyan pensou.
No projeto dele, cada barreira é formada por um cordão com 100 km de boias dispostas em formato de “U”. Conforme a corrente marítima passa, o plástico chega e fica preso. É recolhido depois por um navio lixeiro, que passa lá uma vez a cada 45 dias. Em tese, peixes e outros animais não seriam afetados, pois conse-guiriam passar por baixo das barreiras.
O projeto recebeu muitas críticas de especialistas. Alguns disseram que as ar-madilhas não vão funcionar, pois os giros oceânicos são grandes demais. Outros acham que as boias podem arrebentar ou se deformar. Ou que o problema está na fixação (pois cada barreira precisa ser amarrada, com um cabo de 4 km, ao fundo do mar, o que é tecnicamente difícil). Também houve quem questionasse o que seria feito com o plástico recolhido, pois a água salgada e o sol alteram suas propriedades, dificultando areciclagem. A saraivada de críticas mexeu com Boyan. “Aquilo me afetou bastante”, admite.
Usando parte do dinheiro que havia arrecadado, ele contratou uma equipe de engenheiros e biólogos, que refinaram o sistema e elaboraram estudo de 530 páginas que explica como ele pode funcionar. Uma das soluções veio do Brasil. Uma experiência da Universidade de Caxias do Sul mostrou que é possível reciclar plástico coletado no mar. “As pessoas pensam que é só pegar o material, colocar numa máquina e reci-clar. Mas ele vem fragmentado e cheio de colônias (animais) na superfície”, diz o estudante de engenharia ambiental Kauê Pelegrini, responsável pelo projeto. Ele e seus professores criaram um processo que limpa, separa e condiciona plástico – que foi transformado em saboneteiras.
O estudo de Boyan também mostrou que é possível transformar o plástico em óleo – que poderia ser revendido, gerando recursos para a manutenção das boias. Até agora, Boyan levantou pouco mais de US$ 2 milhões em doações. Esse dinheiro é suficiente para produzir algumas barreiras e testá-las na primeira etapa do projeto, que deverá durar quatro anos. Ele calcula que, se o sistema fosse implantado em larga escala, seria possível retirar 16% de todo o plástico dos oceanos a cada dez anos. Isso significa que, teoricamente, o problema do lixo marinho poderia ser resolvido em algumas décadas. O custo seria de US$ 30 milhões anuais, um valor modesto (a cidade de São Paulo gasta 20 vezes isso com a coleta de lixo). “Acho que a tecnologia é o melhor meio para qualquer mudança. Eu poderia dedicar minha vida a isso”, sonha o garoto.
*Champion of the Earth