a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir
la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir
the city we dream of is the one we can build ourselves
la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire
la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire
Ouvidoria
Agronegócio pode perder mais de R$ 5 bilhões com desmatamento
Descrição
Estudo mostra que desmatamento na Amazônia reduz o volume de chuvas e ameaça o lucrativo sistema de dupla safra praticado na região
Por Redação CicloVivo

Por Ewerton Martins Ribeiro | UFMG
Estudo publicado nesta segunda-feira, dia 10, na revista Nature Communications, por pesquisadores da UFMG e de outras universidades, demonstra que o avanço do desmatamento da Amazônia é economicamente prejudicial para a própria agricultura da região.A prática reduz o volume anual de chuvas, que são essenciais para que as plantações tenham desempenho lucrativo. Segundo os pesquisadores, essa redução avança de tal modo que, em breve, se nada for feito, poderá inviabilizar o lucrativo sistema de dupla safra hoje praticado na região.Na investigação, os cientistas concentraram-se em um recorte do Sul da Amazônia brasileira, que, historicamente, foi a que mais sofreu com a expansão agrícola e madeireira no país e que concentra a maior parte das terras cultiváveis e de pastagens da região. Trata-se de uma área de 1,9 milhão de quilômetros quadrados, que abrange o Acre e Rondônia inteiros, o Norte e o Sudoeste do Mato Grosso, as metades inferiores dos estados do Amazonas e do Pará e uma pequena parte do Tocantins, como mostra o mapa a seguir.

Menos floresta, menos chuva
Os pesquisadores analisaram, em viés retrospectivo, a relação quantitativa entre as chuvas anuais e a perda de floresta nessa região de 1999 a 2019. Com base nesse cruzamento dos dados de chuva com os números de desmatamento, eles puderam determinar os “limites críticos” para a perda de floresta na localidade – isto é, quais os limites percentuais de desmatamento a partir dos quais o ganho de área de plantio passou a ser anulado economicamente pela perda de produtividade causada pela diminuição das chuvas.Segundo os pesquisadores, estudos anteriores, realizados sobretudo no âmbito da modelagem matemática, estimavam que esse limite girava entre 30% e 50%. O estudo dos pesquisadores da UFMG avança ao estabelecer esse índice de forma empírica e ponderada, considerando-o em relação a diferentes escalas geográficas. Para entender como isso foi feito, é preciso compreender que o mapeamento realizado, via satélite, da precipitação na Amazônia a subdivide em “pixels” de 28 quilômetros quadrados, as chamadas “células de grade”. O cálculo da pesquisa considera essas células tanto individualmente quanto agrupadas.Ao analisarem os dados referentes a cada célula (isto é, considerando áreas de 28 metros quadrados independentemente do entorno que as cerca), os pesquisadores notaram que a precipitação começa a cair (abruptamente, como se pode ver na linha vermelha do item “a” do gráfico abaixo) quando o desmatamento ultrapassa 58% do território.Portanto, esse seria, em princípio, o “limite crítico” para o desmatamento local em cada área desse tamanho: o ponto de inflexão a partir do qual a precipitação local passa a sofrer queda. Contudo, à medida que os pesquisadores agregam células de grade de modo a analisá-las conjuntamente, levando-se em conta sua influência recíproca, esse limite (a partir do qual o desmatamento passa a causar queda na precipitação) foi diminuindo gradativamente.

Miopia ambiental
Em alguma medida, se analisado de forma contextualizada, todo desmatamento realizado hoje na Amazônia tem efeito de diminuição na precipitação geral, ainda que, num primeiro momento, um produtor que avance no desflorestamento de sua região, aumentando o seu território de plantação, possa notar um aumento momentâneo no índice de precipitação em suas terras.“Na prática, o que está ocorrendo na Amazônia hoje é um ‘agrossuicídio’, mas os produtores insistem em não ver”, alertam os pesquisadores, segundo os quais as perdas de floresta já chegam a 30% nesse recorte feito do Sul da Amazônia.Esse alerta ganha ainda mais relevância quando se avalia a taxa anual de desmatamento da Amazônia, calculada via monitoramento de satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (taxa Prodes), dos últimos anos.De 2004 a 2014, em razão das políticas públicas implementadas no período, essa taxa foi reduzida de 27.772 quilômetros quadrados por ano para 5.012 quilômetros quadrados. Contudo, o desmatamento na região voltou a crescer a partir de 2015, saltando para mais de 11 mil quilômetros quadrados em 2020. “Trata-se de um aumento de 143% no desmatamento em relação a 2012, ano da menor taxa já registrada, 4.571”, alertam os pesquisadores no estudo.

O futuro depende da governança
Além da análise retrospectiva dos dados de precipitação e desmatamento, os pesquisadores também estimaram, via modelagem matemática, as perdas econômicas que o setor agrícola terá caso persista a redução da quantidade de chuvas na região. O grupo fez projeções simuladas da expansão agrícola (com base no desmatamento) em dois cenários distintos: um de governança ambiental fraca e outro de governança ambiental forte.“O cenário de governança fraca pressupõe o abandono das atuais políticas de controle do desmatamento e assume a hipótese de que o atual desmantelamento das políticas de conservação do Brasil seguirá em curso. Assume-se também, nesse caso, que seguirá havendo forte apoio político às práticas agrícolas ambientalmente predatórias e oferta de incentivos econômicos implícitos para o desmatamento ilegal”, explicam os especialistas no artigo. O cenário de governança forte, por sua vez, resulta de simulação de uma inflexão nesse movimento e incorporação da hipótese de que passe a haver, a partir de agora, “a expansão e a aplicação efetiva de políticas de conservação com base no total apoio governamental à agenda ambiental no Brasil, incluindo a plena implementação do Código Florestal e incentivos econômicos adicionais para a conservação florestal”.
