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Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva
Descrição
Padre homenageado no Carnaval
Monsenhor Paiva e a Capela . José Maurício de Carvalho
Projeto Pedagógico MAS-Museu de Arte Sacra
MAS-Museu de Arte Sacra de São João del-Rei
Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva
Por Gazeta de São João del-Rei em 30/11/2013
Aluízio José Viegas . músico e pesquisador
Falar ou escrever um artigo sobre Monsenhor Paiva é ao mesmo tempo muito fácil e muito difícil. Fácil porque suas qualidades são tão transparentes que não há quem não as conheça; difícil porque Monsenhor Paiva é totalmente contrário a ser alvo de homenagens e que seus trabalhos na Messe do Senhor sejam divulgados como elevação de sua pessoa. Entretanto, achamos que tal personalidade, que se agiganta como um dos grandes párocos do Pilar, não pode e nem deve ficar sem que toda a comunidade são-joanense conheça suas qualidades e virtudes.
Monsenhor Paiva celebra 60 anos de ordenação – Foto Gazeta
Vamos, pois, tentar traçar e condensar em um pequeno artigo o que Monsenhor Paiva representa para a Igreja na Diocese e na cidade de São João del-Rei.
Nasceu em São João del-Rei, no Bairro do Tijuco, aos 28 de janeiro de 1928, filho de José Leopoldino de Paiva de D. Idalina Maria do Carmo. Foi batizado no dia 1º de abril do mesmo ano, pelo Rev.mo. Padre Jerônimo Mazzarotto (falecido com mais de 100 anos de idade como bispo emérito em Santa Catarina) e foram seus padrinhos João Silva e D. Messias Carlota da Silva. Lavrou o registro de Batismo o então Vigário Padre José Maria Fernandes. Monsenhor Paiva é o sexto filho de uma grande família de oito irmãos.
Seus pais, católicos de boa cepa, praticantes e exemplares, souberam incutir-lhe um grande amor à fé cristã, ensinando-lhe todos os valores morais e religiosos. Esta foi sua primeira escola e o início de sua vocação religiosa.
Fez seus estudos primários no Grupo Escolar João dos Santos, de 1936 a 1939, onde foi aluno de importantes professoras como D. Margarida D’Angelo, iniciando-o nos estudos humanísticos. D. Margarida, ainda viva com 99 anos de idade, sempre fala com justo orgulho de seus alunos e ressalta a figura de Monsenhor Paiva como um dos seus estudantes dedicados e aplicados.
Ingressou, menino e como aspirante, na Conferência Vicentina. O fez a convite do Sr. Joaquim Ferreira da Silva, que organizava um grupo de meninos para lhes incutir, através dos ensinamentos de Frederico Ozanam, a prática da verdadeira caridade. Muito contribuiu nessa formação o Confrade Vicentino Paulo Mourão de Araújo não só pelos ensinamentos, mas sobretudo, pelos exemplos pessoais de verdadeiro cristão.
Terminado o primário, em 1940 foi encaminhado, para continuidade de estudos, aos Padres Salesianos, ingressando no Aspirantado de São João Bosco. Logo a seguir, sentindo aflorar no espírito a verdadeira vontade de se tornar padre, ingressou no Seminário Menor de Mariana, em 1941. Ali teve uma educação esmerada através de notáveis mestres tanto nos estudos humanísticos como nos estudos religiosos. Foi preponderante a lhe moldar o espírito a figura ímpar de Dom José Lázaro das Neves (posteriormente Bispo de Assis), de quem nosso biografado se recorda com saudade e fala do quanto lhe deve na sua formação sacerdotal. Foram também seus professores nos Seminários Menor e Maior: Dom Oscar de Oliveira, Padre Ely Carneiro, Padre Antônio, Padre Pedro Sarnel e Padre Laje.
Monsenhor Paiva demonstrou, em todo o seu tempo de estudos em Mariana, uma grande dedicação aos estudos, aplicação e, mais que tudo, uma vontade férrea e inabalável de trabalhar na Messe como Pastor de Almas. Em 1949, 1951, 1952 e 1953, respectivamente, recebeu as Ordens Menores de Tonsura, Ostiariato e Leitorato, Exorcistato e Acolitato, Subdiaconato e Diaconato
Em 1953 concluiu seus estudos e, a 30 de novembro desse ano, foi ordenado presbítero, recebendo na Matriz de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, das mãos de D. Carlo Chiarlo, Núncio Apostólico, as unções sagradas que o transformaram num sacerdote. Em 1º de dezembro de 1953, recebeu Provisão de Uso de Ordens, celebrando sua primeira missa solene no dia 8 de dezembro de 1953, solenidade da Imaculada Conceição de Maria Santíssima, na então Matriz de Nossa Senhora do Pilar, sendo pregador o Rev.mo. Monsenhor Dr. Francisco Tortoriello. À noite, no Te Deum laudamus, usou a tribuna sacra o Pároco do Pilar, Padre Almir de Rezende Aquino.
Por determinação arquidiocesana, passou a prestar serviços na Paróquia de Nossa Senhora do Pilar e, a 2 de março de 1955, foi provido no cargo de Vigário Cooperador, exercido com grande dedicação até 16 de janeiro de 1967, quando foi provisionado Pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, cargo que exerce até o presente e no qual sempre demonstrou um grande zelo em tudo o que se propõe a fazer tanto no plano material quanto espiritual, especialmente com integral dedicação à Catequese de seus paroquianos.
No início de suas atividades na Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, participou das comissões organizadoras da Coroação Pontifícia da imagem da padroeira de São João del-Rei, Nossa Senhora do Pilar, que culminou com grandes solenidades no dia 12 de outubro de 1954 para justo orgulho e alegria de todos os são-joanenses. Sempre coeso e obediente às ordens superiores, trabalhou em todas as comissões paroquiais e grandes trabalhos sempre foram realizados pela Paróquia, deles sempre participando, adquirindo sólida formação e prática administrativa paroquial. Participou ativamente da criação e fundação das Obras Sociais da Paróquia de N. S. do Pilar – OSP -, com a elaboração do Estatuto e início das atividades concretas em 1959. A Diretoria das Obras Sociais, tendo à frente o Pároco e o Vigário Cooperador, iniciou um grande trabalho social visando, sobretudo a promoção humana com dignidade, com assistência material e espiritual permanentes, através da Escola Doméstica, dos Centros Catequéticos, Clube de Mães, etc.
Com a criação da Diocese de São João del-Rei e sua instalação em dezembro de 1960, recebeu o título de Cônego Catedrático a 27 de julho de 1961. Na Cúria Diocesana, prestou relevantes serviços e, no impedimento dos titulares dos mais cargos, era sempre indicado para substituí-los pela sua eficiência e dedicação em servir. Exerceu, ao longo desses 38 anos de existência da Diocese, todos os cargos, sendo o atual Ecônomo, desde 1984.
Reconhecendo no Cônego Sebastião Raimundo de Paiva as melhores qualidades que se podem exigir de um sacerdote, como zelo, piedade, dedicação e, mais que tudo, total entrega ao sacerdócio, recebeu do Papa Paulo VI, em 15 de maio de 1971, o honroso título de Monsenhor, título esse que lhe dá uma série de privilégios e regalias das quais, por extrema humildade, ele nunca quis utilizar e gozar.
Como Pároco, iniciou uma série de obras, construindo 4 Centros Catequéticos: Nossa Senhora do Pilar, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora Auxiliadora e Senhor Bom Jesus dos Montes. Nesses centros, com o apoio de catequistas, reorganizou toda a Catequese Paroquial usando sempre de todos os recursos para dotá-los do que há de melhor para que o ensino e a prática religiosa se desenvolvam com toda a seriedade que o assunto merece.
Um aspecto que ressalta a personalidade de Monsenhor Paiva é a sua dedicação à Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e as mais igrejas sob a sua jurisdição paroquial. A conservação desses monumentos religiosos, que a fé do povo são-joanense levantou para louvar a Deus, encontra em Monsenhor Paiva um lutador sempre disposto a tudo para o enriquecimento do patrimônio artístico e cultural de nossas igrejas e a preservação de nossas mais caras tradições através das aquisições de ricas alfaias e mobiliários, vasos sagrados, imaginária sacra, edição de livros e impressos, promoção de festas e solenidades religiosas, onde fica patente o zelo que ele tem pela Casa de Deus. Uma frase que pode bem caracterizar esta faceta de nosso homenageado é extraída do Salmo 68: “O zelo de Sua casa me consome”.
Não param aqui as atividades de Monsenhor Paiva. Preocupado com a assistência infantil conseguiu, através de D. Risoleta Tolentino Neves, a construção de uma creche no Bairro do Senhor dos Montes, que assiste mais de 80 crianças provendo-lhes todo o necessário, especialmente o calor humano, para que seus pais possam trabalhar.
Ao longo desses 60 anos de profícuo sacerdócio, Monsenhor Paiva tem sido agraciado com medalhas e diplomas como reconhecimento público do muito que ele tem feito por São João del-Rei, sua querida terra natal.
Monsenhor Paiva: um grande homem da Igreja!
Célio de Oliveira Goulart
é o bispo diocesano de São João del-Rei
No dia 30 de novembro, comemoramos o Jubileu de Diamante da Ordenação Presbiteral do Mons. Sebastião Raimundo de Paiva. Nossa Igreja Particular de São João Del-Rei alegra-se muitíssimo em celebrar esse momento da vida de alguém que demonstra seu imenso amor à Igreja.
Desde sua Ordenação Presbiteral, em 30 de novembro de 1953, o são-joanense Mons. Paiva, como todos o chamam carinhosamente, participa da vida e da história de nossa cidade como aquele que deu sua vida à Igreja, como o Padre da Igreja Matriz da cidade. Assim é conhecida a Paróquia e a Igreja Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora do Pilar. E ali vive o Mons. Paiva, filho de família profundamente religiosa que doou com alegria este filho para ser o Padre da Igreja Matriz! Assim que foi ordenado, o Mons. Paiva inicialmente exerceu o ofício de Padre Coadjutor de Mons. Almir de Resende Aquino. Posteriormente o substituiu como Pároco até o mês de outubro de 2010. E, a partir daquele momento, torna-se o Pároco Emérito da Paróquia Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar.
Por mais que escolhamos palavras de agradecimento ao Mons. Paiva pelo seu trabalho pastoral nestes 60 anos como Padre da Igreja Matriz de São João Del-Rei, seremos incapazes de englobar todas as manifestações de reconhecimento, de gratidão e de carinho para com ele. Nós o vemos como aquele Padre que foi profundamente fiel à sua missão no seguimento a Jesus Cristo, como homem capaz de assumir cada dia a sua cruz e fazer a experiência de alguém que se doou totalmente à causa do Evangelho no cumprimento de seus deveres: de ensinar, de pastorear e de santificar as pessoas que estavam sob sua direção. Nós o vemos como aquele que nunca deixou em falta o povo fiel que o procurou para o atendimento de confissão; para visitar os enfermos nos hospitais e nas casas; nas celebrações do cotidiano e das grandes solenidades da Paróquia; no atendimento aos mais carentes pelas Obras Sociais da Paróquia; na atenção para com os necessitados do Alto das Mercês, da Rua do Ouro, do Presépio e do alto do Senhor do Monte. Ele conhece por nome os pobres, os humildes; como também os benfeitores e pessoas assíduas na vivência de sua fé na vida da Paróquia da Igreja Catedral. Defende todo o patrimônio histórico, cultural e religioso da cidade.
Sua maneira de acolher os irmãos Presbíteros e os Bispos na Casa Paroquial sempre foi de uma fidalguia refinada. Alegre, soube receber a todos, partilhando com senso de humor e vivacidade os fatos da Igreja, os acontecimentos da vida paroquial e os acontecimentos do cotidiano da cidade.
Com tenacidade, luta contra os limites que seu estado físico vem enfrentando nestes últimos anos: os diabetes, a taquicardia, o enfraquecimento. Mas sempre está lá, pela manhã celebrando a Eucaristia e tomando conhecimento de tudo que acontece na vida da Paróquia da Igreja Catedral.
Assim são os grandes homens da Igreja! Têm ideais e convicção por aquilo que fazem e pela opção de uma vida totalmente devotada a Deus e à sua Igreja.
Mons. Paiva deixa um testemunho de vida e de coerência para nós, Bispos, Presbíteros, Lideranças Leigas de nossa Diocese. Por isso celebramos seu Jubileu de Diamante alegres e felizes por aquilo que ele é e significa para nós. Que da parte do Senhor da Vida, a Quem tudo devemos, sejam derramadas copiosas bênçãos sobre Mons. Paiva. Que ele tenha uma vida longa e saudável junto de todos nós.
Depoimentos:
“Ao longa da minha vida pública, por inúmeras vezes, fui solicitado a dar o meu depoimento sobre personalidades da vida nacional.
No entanto, não me recordo de outra oportunidade em que tenha partido de mim a iniciativa de querer trazer a público o meu testemunho pessoal sobre uma pessoa cuja vida tem especial significado para toda a nossa comunidade.
É com enorme alegria que somo a minha voz e o meu reconhecimento aos de todos os amigos que, nesse momento, manifestam a sua admiração pelo nosso Monsenhor Paiva.
Tenho certeza de que somos muitos os que guardam a lembrança de uma passagem ou um episódio no qual a palavra e a presença amiga do Monsenhor Paiva fez especial diferença.
A amizade do Padre Paiva (foi assim que nós o chamamos por tantos anos) é um exemplo da valiosa herança que recebi de meus avós, nosso presidente Tancredo e D. Risoleta: amigos.
Como bom mineiro, meu avô colecionava casos, memórias e alguns amigos que ele nunca confundia com conhecidos ou correligionários, embora convivesse com todos. Padre Paiva era um amigo.
Foi pelos olhos de minha avó, ainda muito jovem, que o conheci. Sua perseverança, sua dedicação às pessoas e às causas de São João são conhecidas por todos nós.
Ele nos ensina que não basta apenas o que fazemos. A forma como fazemos é igualmente importante. Por isso, sua calma, sua paciência, sua disponibilidade para todos e para cada um de nós é tão relevante.
Iniciei essas palavras falando do testemunho que gostaria de dar. A verdade é que a obra do Monsenhor Paiva não precisa do testemunho de ninguém: a sua vida é um cotidiano e comovente testemunho de fé e amor ao próximo”.
* Senador Aécio Neves
“O Monsenhor Paiva personifica a força e a humildade da verdadeira fé e da vida Cristã. Parabéns, estimado Monsenhor Paiva, por mais esse jubileu sacerdotal!
* Auro Aparecido Maia de Andrade
Juiz de Direito
“O Papa Francisco disse que ‘o bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido seu povo’. Ao ouvir tantos testemunhos luminosos sobre o ministério sacerdotal do Monsenhor Paiva, ao constatar o amor e o respeito que a cidade de São João del-Rei tem por ele em todos os seus estratos sociais, podemos constatar a sua alta estatura sacerdotal. De fato, Monsenhor Paiva é um verdadeiro homem de Deus!
Agradeço a Ele por conceder-me a graça de conviver com esse grande sacerdote. Com ele tenho, também, aprendido a ser Padre. Monsenhor Paiva, obrigado por seus ensinamentos, pela convivência e pela confiança que o senhor tem depositado em mim. Parabéns pelo Jubileu Sacerdotal”!
* Padre Geraldo Magela da Silva
Pároco da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar
* Antônio Carlos de Jesus Fuzatto
Presidente da Câmara de Vereadores
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PAIVA: um sacerdote, vários significados
“Finis venit, venit finis” (Ez. 7,6)
A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja sempre conosco.
(Espécie de Testamento)
Senhor, quero morrer para cumprir a Vossa Vontade.
Ó Senhor, pelos merecimentos de Vossa Paixão Sacratíssima, dai-me a graça de que nesta vida seja resignado e obediente às Vossas disposições e, na hora da minha morte, fazei, Senhor, que abrace e aceite com inteira conformidade a Vossa vontade santíssima”.
(Santo Afonso Maria de Ligório – Preparação para a morte)
Testamento do Monsenhor Paiva emociona em cada palavra . Foto: Gazeta
Rogai por mim, Santa Mãe de Deus, agora e na hora de minha morte.
Por intermédio de Nossa Senhora, recebi, da misericórdia de Deus, muitíssimas graças. Deo gratias!
O pouco que fiz ou procurei realizar não se compara com o que recebi de Deus.
Procurei amar a Deus e foi a minha constante alegria e paz.
Amei fielmente a minha Mãe do Pilar e foi o meu consolo.
Amei vivamente a Igreja e por ela dei a minha vida.
Amei meus irmãos em Cristo procurando realizar em minha vida o “Da mihi animas, coetera tolle”
(Gen. 14,21) - (S. João Bosco.)
Humildemente peço a Deus, à Virgem Maria e à Igreja, o perdão por minhas omissões, negligências e infidelidades.
Rezem por mim,
Padre Paiva
Recomendações:
1.ª) Desde o início do meu paroquiato tenho passado à Paróquia tudo o que me pertence, exceto minhas roupas e objetos pessoais.
2.ª) Não tenho dinheiro em Banco algum.
3.ª) Deixei, com minha irmã Delia, apenas economias que fiz para minhas despesas após a morte.
4.ª) Para os pobres procurei fazer alguma coisa em vida.
5.ª) Não deixo bens.
6.ª) Minha família só retirará da Casa Paroquial, com o consentimento da autoridade eclesiástica, somente as minhas roupas e objetos pessoais.
7.ª) Espero todos no céu. Assim seja.
São João del-Rei, 12 de março de 1989
P.e Sebastião Raimundo de Paiva
“O Padre Paiva, como o chamamos durante tantos e tantos anos, teve grande significado na vida de muitos de nós… No dia 2 de dezembro de 2013, em artigo para a Folha de S. Paulo, me referi a ele dizendo: ‘Lembro-me dele desde muito cedo. É uma das poucas unanimidades que conheço, não apenas pela dedicação às causas e às pessoas da cidade, mas, sobretudo, pelo profundo senso ético que imprime à sua vida. Assim como ele, muitos de nós sabemos que, no mundo, existem a verdade e a mentira. O certo e o errado, por mais que insistam em nos convencer do contrário’”.
Senador Aécio Neves
“Padre Paiva foi uma pessoa muito especial, tanto como sacerdote quanto como ser humano. Acredito que nós, que tivemos a oportunidade de conviver com ele, vamos guardar a memória de um homem inteiro. Porque no seu olhar, no seu gesto e nas suas atitudes, Monsenhor Paiva sempre foi o que a Igreja é: acolhimento, generosidade, amor e solidariedade. Saí da missa muito emocionada, lamentando não ter a oportunidade de abraçar cada pessoa aqui em São João del-Rei que, como eu, guarda por ele imenso respeito e gratidão”.
Jornalista Andréa Neves
“Foi uma grande perda para nossa Igreja. Nos despedimos de uma pessoa que dedicou 60 anos da sua vida como padre aqui na nossa Catedral. Ele ensinou a palavra de Deus, deu um testemunho de acolhida, piedade e exigência consigo mesmo. Era um mestre no ensino da doutrina, do Evangelho, do bem. Ele marcou e representou a religiosidade do nosso povo”.
Dom Célio de Oliveira Goulart, bispo diocesano
“O Monsenhor Paiva deixou para nós um testemunho de fidelidade ao Senhor antes de tudo. Porque amava Deus e amava a Igreja, amou o ser humano. Como é bonito ver a maravilhosa obra de caridade que ele realizou na cidade de São João del-Rei”.
Padre Geraldo Magela, pároco na Paróquia de Nossa Senhora do Pilar
“Padre Paiva, o senhor foi tudo para nós: amigo, conselheiro… Não existe São João del-Rei sem o senhor e por isso mesmo vamos sentir muito a sua falta. Mas ao mesmo tempo sabemos que no céu temos agora um grande intercessor. Nós te amamos”.
Maria José Fonseca, amiga e parceira de projetos sociais
Amizade, solidariedade, compaixão. Palavras são pouco para descrever a devoção e o amor que Monsenhor Paiva demonstrou a todos os amigos, familiares e fiéis que conviveram com sua figura emblemática por 86 anos.
Quem viveu de perto e pode ajudá-lo, aprendeu e procura levar em frente o exemplo de bondade do sacerdote, que deixou como herança as lembranças e todos os frutos colhidos nas inúmeras obras de caridade idealizadas e defendidas por ele.
Amigo de longa data, Aluízio José Viegas fez parte de toda a jornada de Monsenhor Paiva na Paróquia do Pilar. Desde criança, o paroquiano ajudou e dedicou parte do seu tempo às obras da igreja, auxiliando diretamente o padre. Viegas fez parte dos 60 anos que sacerdote permaneceu na Matriz Basílica de Nossa Senhora do Pilar e alguns fatos marcantes fizeram parte das seis décadas que ambos conviveram.
Memória
Segundo Viegas, um dos momentos de maior emoção nessa história de convivência e engajamento foi quando participou junto com Padre Paiva do processo de escolha dos objetos a serem expostos no Museu de Arte Sacra.
Houve, ainda, a união com vários colaboradores para editar o Livro da Semana Santa, com novenas.
“Ele nem divulgou seu nome como autor da obra. Padre Paiva foi um homem humilde e também muito importante para a cultura são-joanense. Hoje, o que vemos da tradição católica na cidade se mantém graças a ele. O que foi modificado e o que permaneceu foram feitos com muito bom senso. Não esquecendo também do valor dado à música sacra. Padre Paiva ajudou a preservar esse acervo. Sem o apoio dele, talvez, essa tradição teria acabado”, enfatizou o paroquiano.
Caridade
Viegas ainda lembra de outros aspectos que marcaram a história do sacerdote. Um deles foi ter fundado, junto a Padre Almir, as Obras Sociais da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, primeira na cidade. Tudo isso além da construção da própria Casa Paroquial, estendendo o alcance das benfeitorias. Havia mais: a devoção e a piedade. “Algo impressionante era a dedicação em rezar diariamente na Capela do Santíssimo. A mesma que todos viam quando ele participava da cerimônia de Descendimento da Cruz, na Semana Santa, ou quando ouvia e ajudava um irmão. Era notável no semblante do Padre Padre sua entrega, seu exercício de doação a tudo o que fazia”, contou.
Saudade
O lamento pela perda, de Viegas, se une a várias outras demonstrações de afeto em relação a Monsenhor Paiva. “Não preciso de nenhuma lembrança física. A memória da amizade dele vou levar pro resto da vida. Esse convívio diário, as lições que aprendi, o carinho que ele sempre dispensou a mim e minha família são de grande importância”, frisou. E concluiu. “Padre Paiva foi um pastor que velou pelo rebanho que foi confiado. Sempre demonstrou zelo grande em tudo e para todos. Nunca discriminou ninguém. Foi mesmo um servo de Deus”.
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Padre Paiva. O Patriarca da Fé, da Cultura e do Amor - Triunfo Eucarístico de São João del-Rei
Sebastião Raimundo de Paiva. Tatão, para as crianças de sua infância, no chalé da Rua Santo Antônio, altura dos números quinhentos. A ele, poderia-se dizer que São João del-Rei muito deve. Mas isto não é verdade. Quem a ele muito deve é a humanidade, pelo que ele sabiamente conseguiu manter das tradições religiosas setecentistas da cidade onde os sinos falam e os homens antigos ainda entendem.
Sem sua sabedoria, discernimento, temperança, habilidade, amor cristão, patriotismo, cidadania, convicção e firmeza de caráter, entre outras qualidades e habilidades, com certeza não se conheceria mais liturgias como os Ofícios de Ramos e de Trevas, as encantadoras procissões barrocas e todas as celebrações religiosas que fazem de São João del-Rei um torrão singular. Preservando-as, o sacerdote-cidadão preservou ao homem "da terra" um dom que Deus deu unicamente aos filhos de Adão: a cultura. Também deste modo zelando da alma da criatura, louvou e serviu ao Criador.
O que o povo de São João del-Rei tem para com este Patriarca não é dívida. É Gratidão, Reconhecimento, Orgulho e Amor - com iniciais maíusculas! Este sentimento complexo e vigoroso foi construído no convívio diário durante uma existência de 31 mil e 400 dias em que se cumpriu, na plenitude, o maior mandamento de Jesus Cristo - Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
É por isto que São João del-Rei, no silêncio sereno do encontro com sua própria alma, diz:
- Obrigado, Padre Paiva! Em ensinamento, memória e obras, você está sempre conosco...
Despedida de Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva
Fonte: Direto de São João del-Rei . março de 2014
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Editorial: O homem que para muitos já era santo
O dia em que a cidade se calou em pleno Carnaval. As cores, as plumas e os brilhos se ofuscaram e os sinos falaram uma linguagem fúnebre, triste. O dia em que a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar se encheu de flores, mas não exalou o aroma doce dos jardins primaveris.
O dia em que São João del-Rei chorou a perda de um dos mais dedicados e queridos sacerdotes, filhos da terra: Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva. Essa data, 3 de março de 2014, ficará marcada no calendário são-joanense. Não apenas para os cristãos católicos, mas para todos que puderam desfrutar da generosidade ímpar de um homem que praticou, com maestria, o primeiro mandamento da lei de Deus: ele amou ao próximo como a si mesmo.
Isso se reflete diretamente na sociedade. Exemplo claro pode ser comprovado em cada sorriso das crianças assistidas pelo Centro Infantil Dona Risoleta Neves, entidade pela qual Monsenhor se empenhou durante anos.
Ou pelas lágrimas das centenas de paroquianos e amigos que lotaram a Catedral para rezar e se despedir pela última vez do religioso. Monsenhor Paiva foi responsável por manter tradições que fazem da Semana Santa de São João del-Rei singular em todo o planeta.
Foi ele quem encontrou o livro de batismo de Nhá Chica, contribuindo para o reconhecimento civil da religiosa são-joanense. Foi ele quem exerceu por 60 anos o sacerdócio na Diocese de São João del-Rei. E mais: foi ele quem, com sua partida, parou por minutos os tamborins são-joanenses em pleno Carnaval.
Na Avenida, um paradoxo. Contraste entre luto e festa, entre bateria e minutos de silêncio. Assim, os desfiles das escolas de samba da Cidade dos Sinos tiveram tom especial de homenagem. Entre sambas, ecoou o som da Ave Maria e das palmas que saudaram um são-joanense, com toda certeza, especial. Agora, além do luto que desafia o tempo, a comunidade católica celebra 40 dias de penitência e de reflexão. É Quaresma e a igreja se empenha na Campanha da Fraternidade. É hora de pensar no outro, de amar ao próximo, de exercer a solidariedade. E – por que não? – é hora de transformar Monsenhor Paiva em inspiração.
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O gigantesco Monsenhor Paiva
Por Rogério Medeiros Garcia de Lima
“Quem é Apolo? Quem é Paulo? Apenas servidores, através dos quais vocês foram levados à fé; cada um deles agiu conforme os dons que o Senhor lhes concedeu” (Coríntios, 3,5).
O historiador João Camilo de Oliveira Tôrres escreveu sobre a vida religiosa nas Minas Gerais: “Que a fé do povo era viva e quase dolorosa demonstra a profusão de igrejas e os testamentos dos homens rudes que fizeram esta terra, os quais eram grandes pecadores, como ninguém ignora. Viviam dentro dos pecados de cobiça e dos pecados de luxúria, como dentro da água dos riachos de onde tiravam o ouro. Morriam todos arrependidos, porém. Faziam penitências, construíam igrejas, alforriavam escravos na hora da morte (…), pediam missas e missas, na esperança de que Deus afinal fosse clemente. Principalmente apelavam para a Virgem” (História de Minas Gerais, 1980, v. 2, p. 631-634).
São João del-Rei completou, em 2013, 300 anos de gloriosa existência. Nesses três séculos, a cidade progrediu bastante. No entanto, a mudança de hábitos, trazida pela modernidade, não ofuscou as tradições religiosas (Augusto Viegas em Notícia de São João del-Rei, 1969).
A prosperidade econômica do Ciclo do Ouro fez com que Minas Gerais se tornasse a capitania mais culta do Brasil (conforme José Veríssimo em História da Literatura Brasileira, 1954, p. 107). Propiciou, além disso, o surgimento da Arte Barroca. Nas cidades históricas mineiras foram erguidos suntuosos templos católicos, adornados com ouro e valiosas peças de pintura e escultura religiosas. Os fiéis se impressionavam e eram atraídos para a fé católica.
Nossa terra é vivo exemplo da pujança artística e religiosa do barroco colonial. Ainda mais encantadora pela peculiar “linguagem” dos sinos, proclamava o escritor são-joanense Otto Lara Resende: “São João del-Rei é a capital dos sinos. Lá os sinos falam” (A árvore do menino, jornal O Globo, de 17 de março de 1985).
A cidade detentora dessa enorme tradição sacra pranteou intensamente o falecimento do Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, no dia 3 de março de 2014. Muitos sacerdotes católicos aqui nasceram ou aqui serviram. Diversos deles se destacaram na comunidade, no Brasil e até mesmo mundo afora. Porém, peço licença para cometer a ousadia de afirmar: Monsenhor Paiva era o padre dos são-joanenses por excelência.
O Cardeal Dom Lucas Moreira Neves refletiu: “As cidades, como as pessoas, são um composto de corpo e alma. O corpo é a estrutura externa, visível e palpável da cidade. A alma é a história, a tradição, a vida da cidade e a vida e a atitude das pessoas, que, num determinado período, representam o seu espírito” (prefácio ao livro Galeria das Personalidades Notáveis de São João del-Rei, de Sebastião de Oliveira Cintra, 1994).
Monsenhor Paiva agigantou-se no contexto religioso e social da cidade. O bispo diocesano Dom Célio de Oliveira Goulart, na celebração das exéquias, destacou-lhe a imensa fé, o imensurável trabalho em prol da Igreja Católica e a incessante dedicação às inúmeras obras sociais, em prol das pessoas carentes.
Monsenhor Paiva também zelava pelas tradições religiosas de São João del-Rei. Esmerava-se na preparação das festividades, notadamente a Semana Santa. Editou célebre livro sobre as celebrações da Paixão de Cristo. Empenhou-se na criação do Museu de Arte Sacra.
Tudo isso realizava na mais absoluta discrição, pois era desprovido de todas as vaidades. Como são-joanense e admirador de Monsenhor Paiva, perguntava-me ainda na celebração fúnebre: como ficaremos sem o saudoso sacerdote? Mirei o Padre Geraldo Magela no altar e pensei como Deus é grandioso. Deixa-nos o conforto de um sucessor à altura de manter toda a obra do sucedido.
Em vida, Monsenhor Paiva foi apenas servidor. Através dele, muitos fiéis foram arrebanhados para a Igreja. Sempre agiu conforme os dons que o Senhor lhe concedeu. Homem da Fé. Homem da Igreja. Homem do povo.
Encerrada a Liturgia, o esquife do Monsenhor Paiva foi carregado em cortejo pelos sacerdotes. Espontaneamente, irrompeu calorosa e prolongada salva de palmas no interior da Matriz do Pilar. Meus olhos ficaram marejados. Descanse em paz, filho dileto do Pai!