a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Lincoln de Souza

Descrição

Lendas . Contam que... Lincoln de Souza
Palestra: "O papel do escritor sob a ótica do sanjoanense Lincoln de Souza"
Palestra de defesa do patrono da cadeira de nº22, Lincoln de Souza . IHG-Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei

Lincoln de Souza: um são-joanense fantástico


Lincoln de Souza nasceu a 20 de junho de 1894, portanto estaria completando agora 115 anos.
"Sua inclinação para as letras e rabiscar bonecos não começou cedo. Seu pai, relojoeiro de profissão, apesar de ter cursado apenas escola primária, escrevia e fazia quadrinhas com facilidade.
Durante a sua vida, Lincoln de Souza escreveu poesias (Versos tristes), crônicas (Águas passadas), lendas (Contam que...), pensamentos (Jardins de ouro e névoa), Prosa e verso (O ritmo do fogo-fátuo e berceuse), verso (Para teus olhos; Lenita), reportagens (Entre os xavantes do Roncador), biografia (O condor sergipano), prosa (Vida literária).
Faleceu em 11/08/1969.

Trechos retirados:
A presença do fantástico maravilhoso nas lendas em Contam que...
Três Corações 2006 . Aurea Lúcia de Oliveira Chitarra

Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Vale do Rio Verde de Três Corações- UNINCOR- como parte das exigências do programa de Mestrado em Letras para obtenção do título de Mestre em Letras.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Roberto Almeida"

Fonte: Lendas São-joanenses

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O Imortal Lincoln de Souza, um autêntico intelectual são-joanense
Por Francisco José dos Santos Braga

OBS.: Este artigo foi publicado na Revista EM VOGA, Ano I, nº 1, março 2013, p. 12. Por outro lado, este material constituiu base para uma palestra minha na Associação Médica de Barbacena, intitulada "O papel do escritor sob a ótica do são-joanense Lincoln de Souza", a convite do Centro de Memória Belisário Pena e da Academia Barbacenense de Letras, ocorrida no dia 15 de março de 2013.

Lincoln de Souza (1894-1969) é um dos mais célebres autores são-joanenses, tendo se destacado como escritor, jornalista, poeta, folclorista e indigenista. Como jornalista, foi especialmente admirado por suas reportagens sobre diversas cidades e regiões do mundo que visitou a serviço de grandes jornais cariocas, na década de 1940. Nessa época, encontramo-lo a fazer a cobertura da crise do Oriente Médio, sobre a qual produziu várias matérias; além disso, visitou, como repórter de grandes jornais e revistas cariocas, as cidades de Miami, Buenos Aires, Paris, Bordeaux, Lille, Le Havre, Vigo (Espanha), Bruges (Bélgica), Dakar, Lisboa, bem como Recife, Aracaju, Salvador, Santos, Florianópolis, Lambari, as cidades históricas mineiras e, é claro, São João del-Rei. Nós, cidadãos são-joanenses, muito devemos a LS (sigla que usarei nesta matéria para Lincoln de Souza) pela divulgação do patrimônio histórico-cultural de nosso povo e da nossa cidade, através de suas inúmeras reportagens, relatando "coisas e aspectos" curiosos, pitorescos e desconhecidos para os leitores de nosso País. Por exemplo, em reportagem publicada em 8/4/1941, em jornal não identificado, cunhou a inédita expressão “Cidade dos Sinos”, tão em voga hoje em dia, identificadora da cidade de São João del-Rei. Esses recortes foram meticulosamente selecionados pelo próprio LS  para constar de seu acervo na Biblioteca Batista Caetano de Almeida, achando-se excelentemente preservados no álbum Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro (Caderno de Viagem). Outros cinco álbuns encadernados por LS referem-se a seus livros, contendo correspondências recebidas e dedicatórias de livros que lhe foram oferecidos e autógrafos. Finalmente, dois álbuns relatam, através de matérias e fotografias, suas quatro viagens ao Brasil Central, o que ocorreu no início da década de 1950. Esse material se revela de importância ímpar para o pesquisador, porquanto foi encadernado e selecionado de acordo com a ótica muito particular do próprio LS.
Publicou 19 livros, sendo a maioria de poesias (entre os quais cabe mencionar Versos Tristes, Para os Teus Olhos, Lenita, Poemas e Cantigas do Meu Crepúsculo, este de trovas e quadras), um de crônicas, um de contos (1922) constituído por doze lendas são-joanenses (Contam que…), dois dedicados a suas aventuras entre os xavantes, um dedicado a Tobias Barreto, um (Vida Literária, 1961) composto de crônicas, ensaios, escritos diversos e anotações autobiográficas. Cabe aqui salientar que o seu livro “Entre os Xavantes do Roncador” (1952)  foi premiado pela ABL-Academia Brasileira de Letras, em 1953, com o Prêmio João Ribeiro, e reflete a aventura que se constituíram as suas quatro viagens ao "Hinterland" brasileiro, documentadas por sua câmera e com farto material de relevância antropológica.
De todos os seus livros, “Contam que...”, a coletânea de lendas são-joanenses, caiu no gosto do público, tendo merecido diversas edições. Esse livro granjeou-lhe termos elogiosos do folclorista e antropólogo Luis da Câmara Cascudo. Segundo este, “Contam que...” lhe agradou pela “linguagem lépida e nítida”, pela “precisão vocabular fixando definitivamente o tema”, pelo “encanto das escolhas dos assuntos”, pelas “soluções terminais”, enfim, pela “maneira de comunicação ao leitor na mesma intensidade emocional como sentia o mineiro cheio de recordações e de lembranças de sua terra”.
LS viveu no Rio de Janeiro durante quase 50 anos, de 1921 a 1969. O fato que o levou a abandonar Belo Horizonte (onde trabalhava na E.F.O.M.) em meado de 1921 e a mudar-se precipitadamente para o Rio foi que ficou noivo da poetisa Cecília Meireles, que ele chamava de “formosa morena, de uns grandes e sugestivos olhos de zíngara”. Infelizmente, não concretizou o sonho de casar-se com a autora de “Romanceiro da Inconfidência” e essa relação amorosa se desfez em fevereiro de 1922. Relatou Gentil Palhares que LS costumava dizer: “Não quis o destino que eu me unisse à fascinante criatura dos olhos verdes...”. Esse incidente, nunca completamente superado, causou profunda impressão no jovem Lincoln e teve funestas consequências para a sua vida emocional, marcando de profunda melancolia e desilusão quase toda a sua produção poética.
LS orgulhava-se de não ser um intelectual esquecido. Também não lamentava que a crítica não lhe tivesse sido favorável. Viveu admirado pelos intelectuais brasileiros e pela imprensa em geral. Em suas palavras, "sem que partisse dele a mais leve insinuação", foi homenageado  por inúmeras instituições de comunicações. Na sua cidade natal, o C.A.C.- Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei, sob a Presidência do esloveno Pe. Luiz Zver, homenageou-o em três ocasiões entre 1960 e 1961. Também, no transcurso do 70º aniversário de LS, Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva organizou uma singela festa em homenagem a seu amigo no salão paroquial, o que o deixou profundamente sensibilizado.
Com justo merecimento, a sua memória é homenageada na sua terra natal, primeiro no Instituto Histórico e Geográfico, onde sua figura resplandece na Galeria de Patronos, emprestando seu nome à cadeira nº 22, que tenho a honra de ocupar. Depois, a Academia de Letras destinou a cadeira nº 18 a esse notável são-joanense. Também, em 2008, a UFSJ prestou sua homenagem ao autor de "Contam que...", publicando a Agenda UFSJ 2008, tendo adotado como tema de cada mês daquele ano um conto desse livro, obedecendo à sequência dada pelo autor. Finalmente, com quase seis anos de atuação (2007-2013), o passeio cultural “LENDAS SÃO-JOANENSES” (curiosamente, também com a sigla LS), em espetáculo noturno, contribui para a divulgação dos casos de "Contam que..." a grupos de turistas que visitam a nossa região e para a divulgação turística de nossa cidade.
Do rico acervo de obras de arte, doado por LS em 1965 ao Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier para compor a Sala Lincoln de Souza, constituído de 144 itens, incluindo pinacoteca, livros, teares, baús, busto de LS, desenhos de crayon e souvenirs de países por onde ele passou e de suas viagens aos indígenas do Brasil Central, além de uma mesa originária de Beirut, em madeira com madrepérola, lamentavelmente pouca coisa resta para se ver. Tendo esse precioso acervo sido cedido em 1979 à Secretaria Municipal de Turismo, representada pelo Museu Tomé Portes del Rei, sediado na Casa de Bárbara Eliodora, o seu desaparecimento se deu quando da última reforma do Museu Tomé Portes del Rei, sendo hoje ignorado o seu paradeiro. Tristemente, a Sala Lincoln de Souza fica apenas em nossa memória e nas fotografias preservadas pelos pesquisadores são-joanenses.
Na qualidade de espírita convicto, ao longo de sua vida deu provas de elevação espiritual, situando-se num patamar acima das dissensões religiosas. Sentindo a proximidade de sua morte, legou no seu testamento uma quitinete no Rio de Janeiro e uma pequena casa de morada na Rua Santa Teresa em São João del-Rei em favor das Obras Sociais da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Para obras eminentemente espíritas, legou em testamento uma casa para sede da A.M.E.-Aliança Municipal Espírita de São João del-Rei e uma casa para funcionamento da "Sopa Vovô Faleiro", dentre muitas outras doações.






















Imagens: 11 fotografias, pertencentes ao acervo do historiador Silvério Parada, das obras artísticas então permanentemente expostas no Museu Tomé Portes del Rei, sediado na Casa de Bárbara Eliodora, antes da última reforma, incluindo as que emolduravam a "Sala Lincoln de Souza". 

Fonte: Blog do Braga, publicação em 11 de Abril de 2013

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Lincoln de Souza . Francisco José dos Santos Braga
Discurso de Defesa do Patrono da cadeira nº 22, patronímica de Lincoln de Souza, no Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei por Francisco José dos Santos Braga

"Tal como Bruges, no extremo norte belga, que possue varias denominações: Bruges-la-Morte, La Venise du Nord e Bruges la Belle, São João del Rei é tambem conhecida como "A cidade dos sinos, Princesa do Oeste, A Meca de Minas Gerais, A Cidade das Lendas", etc.
A Cidade dos Sinos, porem, é a denominação que melhor lhe assenta, dado o vultoso número de seus templos e o badalar constante dos sinos, que põem na Terra de Tiradentes uma nota profundamente claustral.
O som dos sinos em S. João del Rei tem significações desconhecidas em outra qualquer parte: não apenas chamam os fieis para a missa ou outras solenidades religiosas, mas anunciam tambem que alguem agoniza ou que se foi, então, para a eterna viagem." (trecho da matéria jornalística "A Cidade dos Sinos", publicada em 08/04/1941 em jornal não identificado, e que cunhou a inédita expressão Cidade dos Sinos, identificadora da cidade de São João del-Rei) ¹

Orador: Francisco José dos Santos Braga
Cadeira nº 22 - Patrono: Lincoln de Souza
Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei

Ilmo. Sr. Artur Cláudio da Costa Moreira, D.D. Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, em cuja pessoa cumprimento todos os integrantes da Diretoria;
Prezados Amigos, Confrades e Confreiras deste egrégio Sodalício;
Ilmo. Sr. Dr. Roque Camêllo, D.D. Presidente da Casa de Cultura-Academia Marianense de Letras;
Ilmo. Secretário Municipal da Cultura e Turismo, Sr. Pedro Leão Souza Reis; 
Prezada Sra. Marilucy Teixeira Trindade, em cuja pessoa quero cumprimentar todos os familiares de Lincoln de Souza;
Prezados Amigos que atenderam o nosso convite, aqui presentes;

Senhores e Senhoras,

No dia 7 de agosto de 2011, tive a elevada honra de tomar posse como Membro Efetivo deste egrégio IHG, ocupando desde então a Cadeira nº 22, patronímica do escritor, jornalista e poeta são-joanense Lincoln Teixeira de Souza (1894-1969), em virtude de ter solicitado alteração de minha categoria anterior de Sócio Correspondente, estando este meu pedido amparado no fato de estar residindo na cidade de São João del-Rei desde o ano anterior. Devo confessar que o presidente Artur Cláudio da Costa Moreira acolheu-me então com afeição e simpatia, designando-me para ocupar a cadeira nº 22, patroneada por Lincoln de Souza, que se encontrava vaga, e mais tarde honrando-me com o convite de participar de sua Diretoria, na qualidade de Secretário.
 
Naquela oportunidade, afirmei que meu ingresso no IHG tinha sido fruto da insistência solidária e magnânima do saudoso confrade Dr. Álvaro Bosco Lopes de Oliveira, o qual, em reconhecendo minha aptidão para a pesquisa histórica, me conduziu à presença do Presidente do IHG de então, o Sr. José Antônio de Ávila Sacramento. Este mostrou-se extremamente interessado no meu ingresso e empenhou-se pessoalmente para que eu fosse nomeado Sócio Correspondente deste ilustre Sodalício, o que ocorreu em 3 de junho de 2007. Tive, pois, a sorte de ser admitido como confrade deste Instituto no ano em que nossa cidade estava em festa, pois tinha sido escolhida para receber o título de Capital Brasileira da Cultura 2007. Desde então, estando eu ainda em Brasília, José Antônio manifestou amizade sincera para comigo, inclusive entusiasmando-se com minha produção no campo da História e das Letras, como se pode comprovar por seus comentários registrados às minhas postagens nos blogs que gerencio, por suas constantes manifestações públicas a meu respeito e por seus registros escritos e fotográficos dos eventos em que tomo parte, tudo feito com a maior diligência e amizade. Nada alterou com a minha mudança de Brasília para São João del-Rei; pelo contrário, maiores se tornaram seu desvelo e consideração em relação a mim. Sem medo de errar, considero a minha presença nesta Casa, bem como a distinção com que tenho sido tratado por todos os Confrades, uma dádiva de José Antônio. Fiquem, pois, aqui registradas, o mais solenemente possível, a minha homenagem e gratidão ao homem e historiador José Antônio de Ávila Sacramento.

Neste meu Discurso de Defesa do Patrono, cabe-me, inicialmente, nomear o confrade que me antecedeu na Cadeira nº 22 patroneada por Lincoln de Souza. Trata-se do historiador, folclorista renomado e professor universitário Ulisses Passarelli, que soube honrá-la e dignificá-la, durante o tempo em que a ocupou. Seu discurso de Defesa de Patrono, que ele intitulou "Lembrando Lincoln de Souza", proferido em 2 de novembro de 2008, é uma peça literária que merece ser lida por todo estudioso da obra de Lincoln de Souza.
 
Importa também lembrar que Lincoln de Souza não emoldura apenas a galeria de próceres desta Casa, mas também figura entre os patronos da Academia de Letras local, cuja cadeira nº 18 é hoje ocupada pela Acadêmica Rosy Mara de Oliveira.

Senhores Confrades,
A presença massiva de autoridades locais e de figuras de destaque da intelectualidade mineira no recinto desta Casa de Cultura, nesta manhã de domingo, dá a exata dimensão do meu Patrono e do interesse que ele desperta ainda hoje na mente e coração de todos os presentes, além do prestígio que me prestam naturalmente os convidados vindos de tão distante.

No intuito de prestar uma merecida homenagem a meu Patrono neste egrégio Instituto, escolhi alguns tópicos. É claro que, devido a essa seleção discricionária da minha parte, provavelmente ocorram inevitáveis omissões neste trabalho no que se refere ao tratamento de certos aspectos da vida e obra de Lincoln de Souza, dada a enorme variedade de habilidades do meu homenageado, — o seu pioneirismo como repórter do "Hinterland" brasileiro, o seu  cosmopolitismo, o seu enorme campo de interesse intelectual e a sua mente eclética, — razão por que, desde já, apresento minhas excusas.

Inicialmente, apresento breves notas biográficas do autor de "Vida Literária", mormente me utilizando de seu registro de dados autobiográficos presentes nesse seu livro de crônicas, ensaios e escritos diversos. ²

I. NOTAS BIOGRÁFICAS
 
Em 20 de junho de 1894, nasceu em São João del-Rei o jornalista, poeta e escritor Lincoln Teixeira de Souza, filho de Fernando Manoel Pereira de Souza (falecido a 28/10/1913), ourives, natural de Macaé-RJ e da são-joanense Constança Cândida Teixeira. Era neto paterno de José Joaquim Domesmil e de Narcisa Amélia Pereira de Souza; neto materno de Antônio Teixeira do Carmo Pinho (maestro e ex-diretor da Orquestra Lira Sanjoanense, durante a década de 1860) ³  e de Luiza Augusta Gaede. Em 5/8/1910 foi admitido como funcionário da E.F.O.M.-Estrada de Ferro Oeste de Minas. Lincoln relatou que, "de 1915 a 1919, entrou num período de intensa atividade não só literária como artística: percorreu várias localidades mineiras fazendo caricaturas no palco, após a projeção de filmes e começou a colaborar com outros jornais além do Minas-Jornal de sua terra", o qual circulou pela primeira vez em 1º de maio de 1918.  Conforme ele, "atulhou de tolos devaneios as páginas da Gazeta de Minas, de Oliveira, e da Cidade de Barbacena, da cidade do mesmo nome." Narrou ainda que, graças a esse jornal, fez a sua primeira exposição de caricaturas e pôde produzir sua primeira reportagem moderna, ilustrada por ele próprio, em torno de um curandeiro analfabeto, estimado e respeitado pela população são-joanense.
Em 1917 lançou seu primeiro livro de poemas, "Bosque Sagrado", editado no Rio de Janeiro.
LS, que é como passarei a tratá-lo de agora em diante,  não conseguiu precisar quando, se em 1918 ou 1919, participou de uma exposição de bonecos em São João del-Rei.
Em 1919, publicou seu livro "Versos Tristes", editado em São João del-Rei, com prefácio de Belmiro Braga e crítica muito favorável por parte de Manuel Bandeira publicada no Diário Mercantil, de Juiz de Fora.

Intelectual inquieto, buscou novos caminhos durante toda a sua vida. Em 1920, Lincoln de Souza deixou sua mãe e irmãos em sua terra natal, indo ganhar a vida como escriturário da E.F.O.M., em Belo Horizonte. Ali, pelas mãos de Osvaldo de Araújo, começou a colaborar no Diário de Minas, tendo mantido estreito contato com o grupo modernista, especialmente com Carlos Drummond de Andrade.

Ainda em 1920, foi ao Rio encontrar-se com seu amigo Basílio de Magalhães e após esse encontro deparou-se com o retrato de uma "formosa morena, de uns grandes e sugestivos olhos de zíngara", ex-aluna de Basílio e poetisa, e logo em seguida tomou conhecimento de um poema dela (cujo nome LS manteve em completo segredo). Achou os versos dela magníficos. Dias depois, tendo escrito um artigo sobre nossas melhores poetisas, ocorreu a LS enviar um exemplar da revista que o publicara (Revista Gil Blas), à poetisa do retrato. A carta que recebeu dela, em resposta, deixou-o deslumbrado. Houve uma troca de correspondência que se tornou frequente, o que o levou a   apaixonar-se por ela a tal ponto que, em meado de 1921, abandonou seu emprego na Oeste de Minas, foi para o Rio noivar-se e procurar uma colocação, para ali residir e instalar o seu lar. Infelizmente, não concretizou esse sonho e essa relação amorosa se desfez em fevereiro de 1922. Esse incidente, nunca completamente superado causou profunda impressão no jovem Lincoln e teve funestas consequências para a sua vida emocional, marcando de profunda melancolia e desilusão toda a sua produção poética. ⁴

Instalado no Rio de Janeiro, atuou no jornal A Pátria, de João do Rio, um dos pseudônimos de Paulo Barreto, onde trabalhou por oito anos, tendo assinado para esse jornal reportagens em Portugal e na França. Visitou a Europa, enviando para o jornal reportagens da França e de Portugal.

Em 1931, divulgou, através da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, algo da arte oriental, num programa de canto, música e poesia do Líbano, Síria e Egito.
Em 1932, foi nomeado para a Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e na Pauliceia colaborou com O Globo. Logo, foi promovido, mas tendo que servir fora de São Paulo, isto é, em Sergipe.

Extintos os tribunais eleitorais em 1937, regressou ao Rio e, após longo período de inação no setor jornalístico, foi trabalhar, em regime de "pro labore", em A Noite Ilustrada e, em seguida, em A Noite (ultimamente como redator), "até 1957, data em que o jornal foi fechado pelo Governo".

Como repórter de A Noite Ilustrada, fez várias viagens ao exterior e à Amazônia, onde conheceu a cultura dos xavantes, de que resultou a publicação das obras especializadas "Entre os Xavantes do Roncador" (livro premiado pela ABL-Academia Brasileira de Letras) e "Os Xavantes e a Civilização", ambos na década de 50.

Segundo LS, em A Noite deu o melhor de seu esforço, inteligência e dedicação durante longos doze anos e para esse jornal realizou importantes coberturas jornalísticas. Além disso, dirigiu a seção escolar desse jornal, tendo prestado inestimáveis serviços à causa do ensino.

O próprio LS confessou que, fazendo um balanço do que produziu em meio século de vida profissional, tiveram bom resultado suas atividades literárias, artísticas e jornalísticas. Afirmou ainda que, tendo reconhecido a mediocridade de sua produção como desenhista e caricaturista, afastara-se dessa vida havia muito tempo. O que escreveu como introdução a seu livro "Vida Literária" (1961), sob o título de Depoimento, antes de traçar suas breves notas autobiográficas, pode ser entendido como o credo de um autêntico homem de letras e de alguém, tendo atingido o patamar da iluminação, não faz mais distinção entre as pessoas:

"DEPOIMENTO
 
O que vou fixar aqui não é uma autobiografia, o que daria assunto a um alentado volume, mas apenas alguns aspectos das minhas atividades de modesto homem de letras, jornalista e ex-amador de artes plásticas. E o faço tão sòmente animado pela justa afirmação do meu eminente coestaduano Daniel de Carvalho, em seus "Capítulos de Memórias", de que "Por mais obscura que seja uma vida, contém ela uma região de interêsse para os seus semelhantes."A prova temo-la aí em "Quarto de Despejo", de humilde mulher de côr, egressa de uma favela paulista, do qual já se tiraram mais de 80 mil exemplares e que constitui, sem dúvida, um dos maiores "best sellers" da atualidade.

A vida de um varredor de rua ou de um limpador de esgotos — cada qual dentro de sua esfera de ação — é tão digna de curiosidade como a de qualquer famoso escritor. Pena é que aquêle não saiba exteriorizar suas idéias e emoções, embora de forma primária, como essa Carolina Maria de Jesus, que, até há pouco, já havia recebido mais de um milhão de cruzeiros de direitos autorais de seu livro, o qual já tem contrato para ser editado em doze línguas."

LS orgulhava-se de não ser um intelectual esquecido. Também não podia lamentar que a crítica não lhe tivesse sido favorável. Em suas palavras, "sem que partisse dele a mais leve insinuação", foi homenageado pelas seguintes instituições de comunicações: em 1946, no programa "Pátria Distante", pela Rádio Nacional;  em setembro de 1947, na A.B.I., pela Sociedade dos Homens de Letras do Brasil, ao ensejo da publicação da "plaquette" LENITA; em dezembro de 1949, no programa "Vitrine Literária", pela Rádio Inconfidência Mineira; em 1952, no programa "Lendo e Contando", dirigido então pela poetisa Chiang-Sing, pela Rádio MEC; em março de 1953, por intelectuais sergipanos, no auditório da Rádio-Difusora de Sergipe; e, em 1954, pelo Sindicato dos Jornalistas profissionais do Rio de Janeiro, por ocasião da entrega de diplomas aos decanos da imprensa carioca.

LS foi, pelo menos, três vezes homenageado em sua terra natal, e em todas elas pelo C.A.C.-Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei, sob a Presidência de Pe. Luiz Zver.

Primeiro, em maio de 1960, esse sodalício o homenageou conjuntamente com os poetas Oranice Franco, José Geraldo Dângelo ("Jota Dângelo") e Cândido Martins de Oliveira ⁵, e com o compositor Gustavo de Carvalho, vulgo "Maestro Guaraná". 
Depois, em dezembro de 1960, no II Salão de Pintura promovido pelo mesmo sodalício, LS expôs ilustrações de livros, caricaturas e uma aquarela, todos trabalhos antigos.
Ainda mais tarde, em 18 de junho de 1961, o C.A.C. patrocinou sua IV Noite de Autógrafos, ocorrida no Salão de Festas do Minas Futebol Clube, onde foi lançado o livro de crônicas e ensaios, "Vida Literária", de LS, que foi saudado por José do Carmo Barbosa, Secretário do sodalício. Após a parte artístico-musical constante do programa da festa, LS pediu a palavra para pronunciar o seu discurso de despedida à vida literária.

Embora já tivesse se despedido conscientemente da sua vida literária em 1961, mesmo assim ainda publicou dois livros — "Cantigas do Meu Crepúsculo (trovas e quadras)", de 1965, e "Poemas de Minha Ternura", de 1966, ambos editados no Rio de Janeiro. O próprio Lincoln, na introdução ao seu último livro, declarou  o seguinte: "Evito afirmar que não farei mais versos. Mas, se os fizer, não serão para dar à publicidade em livro. Êste será, pois, o livro ponto final da minha obscura carreira de rimador." E cumpriu a promessa.

Cabe ainda lembrar que, no transcurso do 70º aniversário de LS, Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva organizou uma singela festa em homenagem a seu amigo no salão paroquial, tendo este ficado muito sensibilizado com a comemoração.
 
II. SUAS MATÉRIAS JORNALÍSTICAS PRESERVADAS NA BIBLIOTECA MUNICIPAL BAPTISTA CAETANO DE ALMEIDA (RECORTES)
 
Entre os recortes preservados no acervo de LS na Biblioteca Municipal, encontram-se reportagens que fez para O Globo, incluindo, especialmente, os que tratam da crise política envolvendo o Oriente Médio. Além disso, há uma reportagem sobre turismo em Miami, fazendo um comparativo entre os preços praticados lá e os do Brasil; há outra reportagem sobre Buenos Aires. Há ainda uma reportagem sobre Lambari. Também, encontram-se oito reportagens sobre sua terra natal. Finalmente, há uma reportagem sobre Sergipe e outra sobre Recife, que ele chamou de "Quatro Horas na Veneza Americana", onde narra a entrevista feita com o cangaceiro Antônio Silvino, então detido num presídio de Recife. 

Importante destacar que foi o próprio LS que selecionou esses recortes, de seu vasto acervo de reportagens, certamente por considerá-los de maior relevância, para doá-los à Biblioteca Municipal.
Tudo isso LS encadernou sob o título Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro (Caderno de Viagem), contendo reportagens e fotos coladas e encadernadas pelo próprio autor, onde o pesquisador pode consultar sobre os seguintes temas:
1) Na página 1: "O interior dos templos da França e do Brasil": A penumbra das igrejas francesas em contraste com a excessiva claridade das nossas casas de oração — A quase completa escuridão da Nôtre Dame de Paris — A igreja de São Francisco de Assis, na cidade do Salvador, e a de São João del-Rei, no Estado de Minas Gerais), para o Jornal Carioca, s/ data
2) Nas páginas 2-3: "Quatro horas na Veneza americana  — A evolução vertiginosa de Recife  — Na Penitenciaria do Estado  — Uma entrevista com Antonio Silvino" (A razão do cangaceirismo explicada pelo famoso bandoleiro  — O que Silvino pensa da justiça, dos governadores de Estado, do escriptor Carlos Dias Fernandes e dos doutores  — Uma aventura de Antonio Silvino e seu espirito pratico  — Lampeão julgado por Silvino  — Uma lembrança do celebre presidiario), reportagem escrita durante uma parada de quatro horas do vapor Mosella no porto do Recife.
3) Na página 4: "Do meu diario de bordo", ainda como passageiro no vapor Mosella.
"Escalando os mais altos picos da terra do cruzeiro": As arrojadas realizações dos montanhistas do Distrito Federal — Um esporte util ao corpo e ao espírito — Os principais picos da Cidade Maravilhosa e suas altitudes — Serra dos Orgãos: o mais completo conjunto orográfico para os amadores do montanhismo, para o Jornal Carioca, 22/8/1942 
4) Nas páginas 5-6: "Dakar-Lisboa-Bordeaux (Notas de um viajante apressado)"
5) Na página 7: "Paris à entrada da Primavera": O mez do Muguet — Muguet, o "porte-bonheur" dos parisienses — A defesa do franco — Era uma vez o proverbial bom-humor e gentileza dos francezes — A "revanche" da Alemanha — O estribilho dos estudantes de Berlim — A capitulação de Abd-El-Krim — As festas em louvor de Jeanne d'Arc e os disturbios que se verificaram — O que escreve o Sr. Léon Daudet na "Action Française" — No Père Lachaise — Uma homenagem a Oscar Wilde
6) Na página 8: "Paris à entrada da Primavera": Um domingo em Paris — Do Boulevard S. Germain ao boulevard des Capucines — A miseria que não se occulta sob as pontes — A alma encantadora dos Boulevards — O discreto "maquillage" das parisienses — Os cabellos à la Garçonne tenderão a desaparecer? — O que me disse um "fígaro" da Magdalena — Os inglezes em Paris — Do meu mirante do Café de la Paix (além da reportagem, há quatro fotos dos principais pontos turísticos)
7) Na página 9: "O que me disse Mlle. Mistinguett num intervallo da Revista Mistinguett": Uma noite no Moulin Rouge - A mise-en-scène de uma grande revista parisiense - Scenarios e toilettes - O nú quasi absoluto das coristas - Cinco minutos de palestra com Mlle. mistinguett - O que Mistinguett pensa do Brasil e do publico carioca - A vinda da festejada artista no proximo anno ao Rio
8) Na página 10: "Na cidade dos canaes e das rendeiras" (reportagem sobre Bruges, na Bélgica)
9) Na página 11: "Em Bruges, à procura de um Rodenbach"
10) Na página 12: "Uma ilha que é um oasis: Florianopolis"
11) Nas páginas 13-14: "As páginas vivas da nossa historia": Ouro Preto, Marianna, Santa Luzia, Sabará vistas por um viajante passadista — Museus e curiosidades mineiras
12) Na página 15: "A feira de Aracajú": O que se encontra e o que não se encontra na feira — Medidas e pesos de outros tempos — O curioso linguajar dos vendedores e freguezes — Manga rosa a $150, melões a $500, cajús a 3 e 6 por um tostão e côcos a 200 réis, para Jornal Carioca
13) Nas páginas 16-17: "Coisas e Aspectos do Brasil": A cidade em que nasceu Hermes Fontes  — Algumas horas em Boquim  — O scenario biblico da Fonte da Matta  — A extrema penuria em que se encontram duas irmãs do autor de "Apotheose"  — Um appello aos amigos do maior poeta de Sergipe, para o Jornal Carioca, s/ data ⁶
14) Nas páginas 17-18: "Lambarí  — a cidade presepe" 
Digno de registro aqui o trecho que se refere ao encontro de dois dos maiores homens de letras são-joanenses e que encerra a reportagem:
"No último domingo que passei na terra natal da poetiza Henriqueta Lisboa, autora de Enternecimento — êste breviario de poesia e de doçura — tive oportunidade de assistir à palestra que, no edificio do grupo escolar, realizou o historiador patricio Basilio de Magalhães, a proposito da nossa formação etnica.
Apesar o assunto não me ser extranho, contudo alguma coisa aprendí com o autor da Renascença Florentina e isso no que diz respeito à mescla das populações européas, em varios ciclos de sua existência, maxime na peninsula iberica, o que lhes vem tirar toda a razão de nos taxar, desdenhosamente, de mestiços.
Terminada a palestra, extendi cordialmente a mão ao meu velho amigo dos tempos literários e adversario politico, quando prefeito de S. João del-Rei.
Esquecendo maguas passadas, Basilio de Magalhães, num gesto profundamente nobre, correspondeu ao meu cumprimento e poz-se a palestrar comigo, como antigos camaradas que nem por um momento siquer se tivessem desavindo.
Da minha rapida passagem por Lambarí foi, talvez, a lembrança desse encontro o que mais profundamente ficou gravada na minha memoria e no meu coração." 
15) Nas páginas 18-21: apenas fotos da cidade de Salvador, Santos, Lille, Le Havre, Sainte-Adresse (local que abriga o mausoléu, conhecido por Pão de Açúcar, erguido em memória ao General Conde Lebfevre-Desnouettes, por sua viúva) e Vigo (cidade localizada no norte da Espanha).

Até aqui, o próprio autor fez a numeração das páginas duplas. A partir desse ponto, parou de numerá-las, continuando porém a colar reportagens e fotos até o fim do livro. Há ainda algumas reportagens apenas incluídas, como se fizessem parte de um 2º Caderno de Viagem que nunca conseguiu  encadernar.

A seguir, vêm então reportages que revelam o cosmopolitismo de LS, com os seguintes títulos:
15) "Só há um passo no Cairo: da Opulência à Miséria", para O Globo, 4/8/1960
16) "Vive-se sob o terror no Egito de Nasser", para O Globo, 5/8/1960, p. 3
17)"A encantada visão das montanhas do Líbano", para O Globo, 10/8/1960
18) "Sôbre as ruínas de Jerusalém o halo de uma eterna presença", para O Globo, 9/8/1960
19) "Flagrantes americanos" (assuntos turísticos sobre Miami, fazendo um  comparativo com custo de vida brasileiro), para o "Shopping News do Rio", 10/1/1960
20) "Flagrantes da capital portenha": Aspectos da urbs portenha — Comércio, casa de diversões, cafés e restaurantes — Rádio e televisão — O pandemônio das ruas, sem sinais luminosos e sem guardas de trânsito — A vida é cara, mas come-se barato — Os transportes em Buenos Aires — A "Broadway" platina — Sem exagêro a denominação de "a Paris da América do Sul", na Revista da Semana, nº 35, de 27/8/1955

Por fim, vêm as matérias de LS ufanista, colocando em destaque a sua cidade natal, esplendorosa, sobressaindo-se em meio a todas as outras:
21) "São J. del Rey, o novo Eldorado das Alterosas", para jornal não identificado, 15/10/1940
22) "As mais belas expressões da arte religiosa em Minas Gerais": Os trabalhos do Aleijadinho em São João del Rey — A Igreja de São Francisco de Assis — Notaveis lavores de arte em pedra-sabão — O Cristo inacabado e a imagem de Jesus do Mont'Alverne, para jornal não identificado, 15/3/1941. Nessa reportagem, LS atribui a Igreja de São Francisco de Assis, "um dos mais belos templos do Brasil, verdadeira epopéia em pedra" a Antonio Francisco Lisboa, incluindo ainda altares, púlpitos e o lavatorio da sacristia, todo aberto em pedra-sabão, bem como menciona trabalhos de Aleijadinho na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, "entre os quais sobressai a ponta principal do templo, que recorda, de resto, a de São Francisco de Assis". ⁷
23) "Coisas e Aspectos do Brasil" (Curiosidades da terra de Tiradentes  — São João del Rei e a sua famosa Casa da Pedra  — As gameleiras  — Um predio de quase dois seculos (do IHG)  — Pontes que não se fazem mais  — Raridades da Biblioteca Publica  — Chafarizes coloniais, etc.), para o Jornal Carioca, 15/02/1941
24) Predios e sitios historicos de São João Del-Rei  — Ruinas da Fazenda do Pombal, berço do proto-martir da Inconfidencia Mineira (O local onde a cidade nasceu  — O "Capão da Traição" a tres quilometros da urbs sanjoanense  — O predio que serviu de fortaleza aos brasileiros na luta contra os emboabas  — A casa em que nasceu Barbara Heleodora — Ruinas o predio em que viu a luz do dia o proto-martir da Independencia nacional  — Outros predios historicos), para jornal não identificado, 18/2/1941
25) "Coisas e Aspectos do Brasil": Uma obra maravilhosa da Natureza: a Casa da Pedra de S. João Del Rey (Salões imensos com tetos em forma de docel  — Púlpitos e candelabros de granito rendilhado  — Formações calcáreas à maneira de nuvens e "icebergs"  — Subterrâneos escuríssimos e passagens impressionantes  — O que sobre a Casa da Pedra escreveram Bernardo Guimarães e Olavo Bilac), para o Jornal Carioca, 23/08/1941(onde narrou a lenda do índio Irabussu)
26) "A Cidade dos Sinos": S. João del Rei e seus famosos templos  — S. Francisco de Assis, a obra prima do Aleijadinho em Minas Gerais  — A Semana Santa na Terra de Tiradentes  — Tradições que se foram  — O espirito de religiosidade do povo sanjoanense, para jornal não identificado, 8/4/1941
27) "Ouro! Ouro!": Uma fonte de riqueza que se deve ao Estado Novo — O trabalho nas betas sob moldes ainda primitivos — Os que triunfam e os que fracassam na busca do valioso metal — Uma oportuna advertencia aos que sonham com fortunas faceis, para jornal não identificado, em outubro de 1940
28) "Ouro! Ouro!": Triunfos e fracassos na busca do precioso metal  — Da mais negra miseria para a inesperada riqueza  — Fortunas faceis que facilmente se vão  — O homem que vendeu a alma ao diabo  — Aspectos curiosos da exploração do ouro em S. João del Rei), para jornal não identificado, 25/3/1941 (onde escreve sobre atividades mineradoras remanescentes e narra "causos" envolvendo famosos mineradores das nossas bêtas)
29) "Visões de história e de arte na Terra dos Inconfidentes": Páginas vivas da nossa história  — Obras-primas de arte religiosa e profana  — Museus e coleções particulares  — O que há de interessante, sob o ponto de vista artístico e histórico, em algumas velhas cidades mineiras (Juiz de Fora, Santos Dumont, S. João del-Rei, Ouro Preto, Santa Luzia, Mariana, Sabará, Tiradentes e Congonhas do Campo), em jornal não identificado, s/ data

Obs.: Será que Valdo Tôrres era o pseudônimo de LS? Pois, dentro do seu Caderno de Viagem, há a matéria "O Estranho Mundo de Veloso", que curiosamente é apresentada com o subtítulo por temas, nos mesmos moldes que as outras reportagens de LS, a saber: A razão do nome — A terra e seus habitantes — Um ponto de apoio no meio de árvores frondosas e água doce, na Revista da Semana, ano 56, nº 11, de 17/3/1956, p. 8-10. Acresce ainda o fato que a matéria é sobre índios, especialidade de LS, que viajou muito ao "Hinterland" brasileiro, tendo estado entre as grandes raças indígenas (xavantes, gorotires, acuens, etc.). Então, avento a hipótese de Valdo Tôrres ser o pseudônimo de LS e ser do próprio LS a referida matéria assinada por Valdo Tôrres. Tentei localizar alguma referência a esse jornalista na Internet, mas ali não há notícias dele. Porventura, haveria outra razão para LS ter deixado, junto de seu material, apenas uma reportagem de um terceiro e doá-la, juntamente com sua produção jornalística, à Biblioteca Municipal?
 
Conforme se pôde observar, os são-joanenses muito devemos a LS pela divulgação do patrimônio histórico-cultural de nosso povo e da cidade, através de suas inúmeras reportagens, relatando "coisas e aspectos" curiosos, pitorescos e desconhecidos para os seus leitores.
 
III. MATERIAL AUTÊNTICO ORGANIZADO PELO PRÓPRIO LINCOLN DE SOUZA (coleção de recortes)

1) Álbum de Autógrafos e parte de Correspondência Recebida nº 04
No verso da capa, o próprio LS colou o seu conteúdo, ou seja:
"ÊSTE ÁLBUM CONTÉM:
- pequena parte da correspondência (na sua quase totalidade de cunho literário) por mim recebida;
- dedicatórias de livros que me foram oferecidos pelos seus autores;
- autógrafos vários, por mim solicitados, pessoalmente, a intelectuais, artistas, etc.; e, finalmente,
- autógrafos não a mim destinados, colhidos em fontes diversas: livros adquiridos em "sebos", cessão por parte de terceiros, etc."

2) Álbum "ÍNDIOS, SELVA, LOCALIDADES  DO HINTERLAND  E EXPEDIÇÕES Nº 3", dividido em três partes: 1) 1946. Expedição Meireles — ... E os Xavantes não apareceram!...  — 6 de setembro a 24 de outubro (fotos das localidades de Aragarças, Barra, Xavantina e cenas do cotidiano, documentando a Expedição Meireles ; 2) Os Xavantes no Pôsto Pimentel Barbosa — Maio de 1950 (retratando Goiânia e os xavantes no Posto Pimentel Barbosa); 3) 2ª Expedição da Aeronáutica ao Brasil Central — 1950.

3) Álbum "ÍNDIOS-AIRES E DIACUÍ-VISITA AOS XAVANTES, CARAJÁS, GOROTIRES E ÍNDIOS DO PÔSTO DO XINGU Nº 4", contendo fotos e dividido em duas partes: primeiro, o casamento de Aires, um branco da expedição de LS, com a índia Diacuí, no Rio de Janeiro, bem como sua volta festiva à tribo, devidamente documentada por LS; a segunda parte registrou sua visita aos xavantes, carajás, gorotires e índios do Posto do Xingu. Existem ainda fotos que L.S. tirou do francês Edgard Maufrais, o qual tentava desvendar o desaparecimento do seu filho Raymond Maufrais na região do Rio Tapajós. LS comenta na abertura desta seção de fotos: "TRAGADO PELA AMAZÔNIA" — filme feito por Genil Vasconcelos na região do Tapajós, sôbre o desaparecimento do jornalista francês Raymond Maufrais." ⁸

4) Álbum "Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro", já citado anteriormente,  considerado por ele seu Caderno de Viagem, é um relatório das viagens que o próprio LS encadernou, contendo vários de seus artigos recortados, fotografias tiradas e cartões-postais), colados em páginas numeradas, de duas em duas, pelo próprio autor, retratando características históricas e sócio-econômicas das cidades visitadas, a saber: Paris, Bruges, Dakar, Lisboa, Bordeaux, Lille, Le Havre, Vigo, Buenos Aires, Recife, Florianópolis, Ouro Preto, Aracaju, Lambari, Salvador, Santos e, inclusive é claro, São João del-Rei.

5) Álbum com o seguinte título e contéudo: I. Poemas de LENITA / II. POEMAS DE LS NÃO APROVEITADOS EM LIVROS, E VERSOS ÍNTIMOS / III. CANÇÕES. 3 COMPOSIÇÕES COM LETRA DE LS E MÚSICA DE MOZART BICALHO; 1 LETRA E MÚSICA DE LS ... PARA "LA CUCARACHA"

6) Caderno intitulado Referências a Vida Literária, foi como chamou o que colecionou relativamente ao lançamento de "Vida Literária" (1961), cobrindo os seguintes eventos:

1) Tarde de Autógrafos na Livraria S. José - Rio - em 7/6/1961
2) Notícias de "Vida Literária"
3) Noite de Autógrafos em S. João del-Rei. Em 18/6/1961
4) Aniversário em S. João del-Rei (1961)
5) Correspondência recebida a propósito de "Vida Literária"

7) Caderno intitulado Cantigas do Meu Crepúsculo (1965), em cujas páginas colou todas as correspondências referentes ao seu penúltimo livro.

8) Caderno intitulado Poemas da Minha Ternura (1966), em cujas páginas colou todas as correspondências referentes ao seu último livro. 

IV. CORRESPONDÊNCIAS DE GRANDES ESCRITORES E PESSOAS NOTÁVEIS A LINCOLN DE SOUZA
 
Aqui serão reproduzidas, apenas exemplificativamente, as correspondências que constam do acervo deixado pelo autor, sem me ocupar com as muitíssimas e de grande expressão, que estão apresentadas nas obras editadas. Por alguma razão não explicitada, LS escolheu estas, e não outras, correspondências para fazerem parte do seu acervo destinado aos pesquisadores.

1) Rio de Janeiro, 5 de abril de 1948: "Lincoln de Souza: 
Você ha de desculpar-me, meu caro confrade, a demora desta carta, que lhe vai agradecer o obsequio de seus livros — tão amavelmente oferecidos a mim e à Biblioteca Nacional. Quando se alcança a posição que você hoje ocupa, como escritor e homem de jornal, os louvores não servem mais como estímulo ou recompensa — o que realmente tem importancia é a consciencia de que se dedicou à vida literária o melhor das horas proporcionadas por Deus. Você, em verdade, com seu espirito lirico, mantem-se fiel ao poeta que nunca deixou de ser, mesmo quando se transviou pela experiencia do jornal. Receba um grande abraço pelos companheiros que me trouxe com seus livros de ontem e de hoje — e continue a dar as suas ordens ao confrade e amigo
Josué Montello" -  JOSUÉ MONTELLO, Diretor Geral da Biblioteca Nacional

2) Natal de 1957: "Amigo e poeta Lincoln de Souza.
Muito obrigado pela nova edição de "Poemas":
E hoje, entre ruínas sôltas ao vento,
na longa estrada crepuscular,
só quero a esmola do Esquecimento
antes da noite,
da noite eterna que há de chegar.

Que beleza!" - MALBA TAHAN

3) Buenos Aires, sábado, 10 de setembro de 1955: "Cher et illustre confrère,
avec la lettre que j' ai écrit à Monsieur le Directeur de Votre journal, j' ai mis à la poste une lettre pour Vous. Il ne pouvait pas être autrement. Je vous prie de croire qu' il me serait moralement, psychologiquement impossible de recevoir de Votre part tant de gestes de sympathie sans m' empresser à Vous écrire. Mais Vous savez meilleur que moi, que le courrier aérien est un peu problématique, et que dans les rédactions des journaux les lettres se perdent dans le tas de papier que chaque distribution de courrier apporte. Je regrette que cette lettre ne Vous soit pas arrivée.
Elle contenait mes remerciements pour notre photo, pour votre livre, pour le(s) journaux que Vous avez eu la bonté de m' envoyer. Je vous promettais d' apprendre le portugais sur Votre livre, qui est énormément intérressant, captivant et curieux. Je Vous faisais mes éloges pour votre habilité de photographe et je Vous disais ma reconnaissance pour les charmantes heures que Vous m' avez fait passer sur le beau navire de la Marine Brésilienne.
Veuillez remercier le Directeur pour la note qu' il a publiée à propos de ma lettre sur les qualités excepcionnelles de son périodique. C' est un grand honneur que ma lettre ait eu la consacration d' une colonne, avec photo.
J' espère de Vous voir bientôt "quelque part dans le monde". Si Vous revenez à Buenos Aires, prevenez-moi d' avance. Nous passerons ensembles quelques soirées, et nous irons manger dans un restaurant italien, dont les specialités sont appréciables.
Acceptez, cher et illustre confrère, une poignée de main de votre
Ass. Pitigrilli
Galeria Güemes
Calle Florida 171-BUENOS AIRES (Argentina)" - PITIGRILLI

4) São João del-Rei, 15 de novembro de 1962 (em papel com carimbo da Biblioteca Municipal Baptista Caetano d' Almeida) : "Caro Lincoln
Afetuosas saudações.
Só hoje lhe mando meu agradecimento pelo magnifico presente - "Vida Literária", com que me mimoseiou e no qual, às cintilações da mesma inteligencia, rebrilham as virtudes de escritor, que enriquecem a vasta coleção de suas preciosas obras já publicadas.
Com cordial abraço me subscrevo, amigo, atº, admirador,
Ass. Augusto Viegas" - AUGUSTO VIEGAS

5) (Em cartão em que estão impressos o nome na parte central e o endereço na parte inferior)

Rio de Janeiro, setembro de 1953 (?): "Ao Sr. Lincoln de Souza
Todos os agradecimentos pela bondade do envio de "Vida Literária" que está sendo lida com o natural júbilo deste admirador
LUIS DA CÂMARA CASCUDO
377 Av. Junqueira Aires - NATAL R. N. " - LUIS DA CÂMARA CASCUDO

6) (Em papel timbrado com brasão "ex libris" do com os seguintes dizeres: DUM SPIRO SPERO - LUIS DA CÂMARA CASCUDO)
Natal-RN, 30/03/1954: "Lincoln de Souza meu caro confrade
Seu delicioso, claro e agil CONTAM QUE... foi relido no Rio e trazido para agradecer-lhe em Natal. Sucedeu que pessoa da familia socializou o volume e levou-o, tornando agóra para ouvir discurso de desaforo e a significação da responsabilidade de não ter ainda enviado uma palavra afetuosa ao tão amavel autor. Esta é a explicação do silencio e nela o pedido para desculpar o retardamento de um abraço justamente merecido pela remessa que teve a bondade de fazer para o Hotel Gloria em setembro do ano passado. 
Do texto não ha sinão louvor e sonhos de continuação. Tudo ali me agrada, na linguagem lepida e nitida, na precisão vocabular fixando definitivamente o tema, o encanto das escolhas dos assuntos, as soluções terminais, enfim, a maneira, que será sinonimo de processo, de comunicação ao leitor na mesma intensidade emocional como sentiu o mineiro cheio de recordações e de lembranças de sua terra.
Quero agradecer-lhe e dizer que estimarei ter outros livros ou artigos seus no genero. As lendas de Minas Gerais bem mereciam um tomo que as sistematizasse na paisagem geral. Ha muita cousa publicada mas esparsa no meio de livros de historia. As lendas amariam ter o seu ambiente privativo, doce e ensopado de ternura contagiante, como tão bem sabe realizar o Lincoln de Souza. Para mim o essencial é a honestidade, o sentido de uma fidelidade simples à beleza da lenda que todos sabem e ninguem aprendeu nos livros. Esta fixação só pode ser feita por quem possua a coragem de ser claro e natural, segurando o demonio da complicação literaria pelas orelhas e não permitindo passo e vadêo no registo lendário. São justamente as suas virtudes de escritor, meu caro amigo. 
Aqui, nesta sua casa e muito cordialmente, às suas ordens.
Seu grato admirador e amigo
Ass. Luis da Camara Cascudo" - LUIS DA CÂMARA CASCUDO

7) Local ignorado, s/d: "Foi com enorme satisfação que recebí seu lindo livro. Agradeço-lhe sinceramente as palavras gentís da dedicatoria e queira aceitar meus cumprimentos por tão grande livro.

Trata-se de uma seleção de pensamentos e anotações que só uma pessôa de fino gosto poderia fazer com tanto brilhantismo.
Mais uma vez grata, envio-lhe meus sinceros aplausos e votos de felicidades no ano entrante.
Atenciosamente,
Bibi Ferreira" - BIBI FERREIRA

8) Rio de Janeiro, 31/03/1966: "Ilustre poeta Lincoln de Souza:
Muito obrigado pela sua 'Berceuse', que me deu muitos sonhos de legítima poesia.
Com um abraço do
Catullo da Paixão Cearense" - CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE

9) São João del-Rei, 29/07/1966: "Prezado Lincoln de Souza.

Seu último livro, "Poemas de Minha Ternura", é algo de notável. Nem posso acreditar que o mesmo fosse a chave de ouro de sua criação artística.
Sentimento é uma realidade amadurecida, porquanto o dos jovens, ainda que exista febril, é desordenado e incoerente.
A sua experiência da vida agora atinge o clímax, dando frutos consistentes da interpretação das vicissitudes reais.
Aguardando outras publicações de sua lavra, envio-lhe agradecimentos e meu cordial abraço.
Ass. Fábio N. Guimarães" - FÁBIO NELSON GUIMARÃES
 
10) (Em papel timbrado com brasão e impressos os dizeres: Estado da Guanabara - Gabinete do Governador, na parte superior)
Rio de Janeiro, 23/07/1966: "Ao caro Lincoln de Souza, obrigado pelo belo livro de poemas. Abraços afetuosos.
Ass. Negrão" - GOVERNADOR FRANCISCO NEGRÃO DE LIMA

11) (Em cartão em que estão impressos o nome na parte central e o endereço na parte inferior)

São João del-Rei, s/ data: "Caríssimo sr. Lincoln de Souza,
Agradeço-lhe, de coração, a gentileza de ofertar-me seu valioso livro "Poemas da Minha Ternura". Comoveu-me a dedicatória.
Abgar Antônio Campos Tirado" - ABGAR ANTÔNIO CAMPOS TIRADO

12) (Em papel timbrado do Correio da Manhã)
"Rio, 11/6/61
Meu caro Lincoln de Souza:
Já tive a honra e o prazer de receber vários livros seus. Mas este último, "Vida Literária", não pode passar sem um especial agradecimento.
É uma coleção de estudos magníficos — destaco o sobre Bilac e o parnasianismo (que me forneceu documentação exata de uma velha suspeita minha) ou aquele outro sobre Bruges. A leitura dessas páginas foi para mim um real enriquecimento.
Não posso, portanto, aprovar a exagerada modéstia das suas páginas autobiográficas. Seu livro revela o verdadeiro escritor. No entanto, aquelas páginas revelam o verdadeiro homem. E este e aquele são muito bons.
Com os agradecimentos e o abraço do seu amigo
Otto Maria Carpeaux (que, por terrível falta de tempo, não é capaz de agradecer livros recebidos, mas fez desta vez uma exceção justificada)" - OTTO MARIA CARPEAUX

13) Cantagalo, 11/6/1961
"Lincoln,
Recebi seu belo livro. Livro que eu esperava há muito tempo e tinha certeza havia de ser coroado de êxito.
Por Sylvia soube do sucesso da Tarde de Autógrafos e da estada de Castanheira aí no Rio. No dia dos autógrafos, telegrafei a você, aí para a Livraria S. José. Se não recebeu, procure o telegrama.
Agora, os agradecimentos. Primeiro — a dedicatória tão carinhosa, que me dá mostras de sua amizade, amizade que me envaidece; segundo — o ocupar-se você com a minha "Rosa de Jericó", pondo em destaque meu despretensioso livrinho e por último, aquela opinião, logo em primeiro lugar, como se meu nome fulgisse na constelação das letras.
Lincoln: seu livro é todo cheio de interêsse, entre os múltiplos aspectos que focaliza.
Aprendi muito com você no capítulo de "O primeiro romance ou novela dos nossos escritores". Sempre dou como o (...) romance escrito por brasileiro, o de Teresa Margarida da Silva e Horta ⁹, em minhas resumidas aulas de literatura no Curso Normal ou no 3º ano do Técnico de Comércio. No mesmo dia em que recebi seu livro, as alunas do Curso Normal, que resolveram organizar uma Biblioteca, começaram pelo nome e escolheram o meu. Venci Humberto de Campos, Casimiro e Raquel de Queiroz. Quem diria?
Sôbre Bilac, você sabia que êle, professor no Pedagogium (creio que é êsse o nome) namorava a filha do prof. Hemeterio dos Santos? Ela se chamava Coema e era prêta. Contei isso, certa vez a Elmo Elton, sob o testemunho de minha amiga D. Leonor Santos Eyer, que foi colega e amiga de Coema. Ela me narrou a coisa.
As amigas troçavam quando Coema escrevia — Coema dos Santos Bilac e esta retrucava: "Não sou mas hei de ser!" Talvez para Coema tenha o poeta escrito o "Diamante Negro".
Assim que nosso jornalzinho puder normalizar a saída, mencionarei seu livro, para que os cantagalenses tomem conhecimento dêle.
Também recordei seu romance de 45 dias d' éblouissantes heures... Já mandou o livro à morena?
Caro amigo: muito e muito obrigada pelas horas de prazer intelectual que me deu "Vida Literária".
Há no seu livro rosas de poesia,
Há lições de cultura e de verdade:
Algumas punhaladas de ironia
E uma sombra de amor que hoje é saudade.
Com um apêrto de mão agradecido, nesta noite fria de junho, envio-lhe o meu cordial boa-noite, desejando que o seu êxito literário seja tão grande como o é a minha admiração.
Amélia Tomazi" - AMÉLIA TOMAZI

14) "A arte só é grande quando é sincera. Escrever com a consciência é muito difícil. Em geral, o homem se divorcia tanto do artista que o resultado é obra sem sensibilidade, preconceituosa, descolorida dêsses matizes da alma que são os grandes motivos de encantamento. Em 'Jardins de Ouro e Névoa' você fêz o seu auto-retrato. Pensa, sente e transmite-nos tudo isso com tal vigor que não podemos fugir à meditação e à emoção. Bravos, meu caro amigo. Seja sempre assim, fiel a si mesmo. Um afetuoso abraço do seu melhor amigo e admirador.
Procópio Ferreira" - PROCÓPIO FERREIRA

15) "... venho agradecer o prazer que me proporcionou a leitura dessa deliciosa 'Berceuse', de tão verlaineana ressonância e envolvente encantamento. 
Maria Eugênia Celso" - MARIA EUGÊNIA CELSO 
 
16) Sobre o livro "Entre os Xavantes do Roncador" assim se expressou o jornal A Noite:
"Trata-se de um livro objetivo, claro e delicioso em seu estilo direto e não raro familiar. Quatro viagens fês Lincoln de Souza às terras de nossos índios. Mas não foi apenas com olhos curiosos de improvisaador. Olhou através de sua cultura histórica, etnográfica e sociológica as cenas que se lhe apresentaram. Agiu, pois, como verdadeiro repórter no mais nobre e belo sentido da palavra.
A reportagem de Lincoln de Souza merece ser lida. É uma contribuição preciosa e definitiva para o estudo de um grupo indígena que tem papel preponderante no estudo completo do homem primitivo do Brasil."
A NOITE (7/1/1953)
 
17) ... "ENTRE OS XAVANTES DO RONCADOR reúne trinta e uma reportagens abordando os mais curiosos aspectos das selvas brasileiras: a vida heróica do sertanejo do Brasil Central, a garimpagem, o estado sanitário dos índios do Roncador, a vida tribal, as danças e os costumes dos carajás, calapalos e javaés, focalizando ainda as figuras dos abnegados sertanistas — como é o caso de Francisco Meireles, pacificador dos xavantes, que se enbrenham naquelas matas, indiferentes aos perigos que os rondam dia e noite.
Excelente documentário fotográfico ilustra as páginas de ENTRE OS XAVANTES DO RONCADOR."
CORREIO DA MANHÃ (8/1/1953)
 
18) Sobre o livro "Vida Literária" assim escreveram grandes escritores:
 
..."valioso repertório da nossa melhor crítica e que se lê com o interêsse de sempre. São páginas que ficam." - LUIZ VIANNA FILHO
..."compendia primorosas páginas de crítica, informação e beleza." - PEDRO CALMON
 
V. DEDICATÓRIAS DE GRANDES ESCRITORES A LINCOLN DE SOUZA

Nesta seção, somente serão mostradas as dedicatórias que foram localizadas no acervo de LS e que são perfeitamente legíveis.

1) Rio de Janeiro, no lançamento de "Minha Rua de Minas", 9/10/1949: "Lincoln de Souza,
Você melhor do que eu, conhece as ruas de nossa terra. Procurei, em versos modernos, cantar aquelas velhas ruas - não sei se consegui. Mas você, cuja lira é mais afinada do que a minha, perdoará êste poeta menor, mas seu grande amigo e admirador.
Oranice" - ORANICE FRANCO
 
2) Rio de Janeiro, no lançamento de "A Literatura Árabe: Fonte de Beleza e de Sabedoria", 20/9/1962: "Ao

Sr. Lincoln de Souza, meu amigo e amigo da cultura árabe, em homenagem ao seu magnífico talento poético.
O autor. 
Ass. Mansour Challita" - MANSOUR CHALLITA

3) Rio de Janeiro, num evento não identificado: "A Lincoln de Souza,

fino artista da prosa 
e do verso, offerece
Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça" - ANNA AMELIA DE QUEIROZ CARNEIRO DE MENDONÇA

4) Belo Horizonte, 1946, no lançamento de "O Menino Poeta": "A Lincoln de Souza,

lembrança cordial de 
Ass. Henriqueta Lisboa" - HENRIQUETA LISBOA

Obs. O cartão manuscrito (que acompanhava o livro supracitado?) tem os seguintes dizeres: 
"Ao fino poeta Lincoln de Souza,
homenagem de
Ass. Henriqueta Lisboa." - HENRIQUETA LISBOA

5) São João del-Rei, 5/1/1962, num evento não identificado:

"Para Lincoln de Souza, o mais fecundo escritor contemporâneo de São João del-Rei, com estima abraça-o o
Ass. Fábio N. Guimarães" - FÁBIO NELSON GUIMARÃES

VI. LIVROS PUBLICADOS

Bosque Sagrado, Rio de Janeiro: Livraria Editora Leite Ribeiro & Maurillo, 1917, 203 p. (livro contendo 105 poemas e dedicado por LS "à memoria dos poetas que morreram sem cantar")

Versos Tristes (poesias), São João del-Rei: Typ. S. José, 1919, s/ pág. numeradas (11 poemas)
Águas Passadas (Chronicas), Rio de Janeiro: Imprensa e Papelaria Popular, 1920, 63 p.
Contam que ... - Lendas da histórica e tradicional cidade mineira de S. João del-Rei, 1922 
À guisa de prefácio a essa edição, LS registrou o seguinte trecho que merece ser destacado: "Não passará despercebida, de certo, a um observador a interferência de Deus, dos santos, do demônio e dos defuntos na quase totalidade destas lendas. Isto se explica pelo espírito profundamente religioso do povo mineiro, máxime do sanjoanense."

Este livro pode ser considerado como de reminiscências, de memória e de pesquisa, pois no prefácio da primeira edição de "Contam que...", LS informou que, em sua pesquisa, ouviu "dias seguidos os mais antigos habitantes da cidade", tendo recorrido ainda a outros registros como ao único subsídio impresso, o livro Maurício ou os paulistas em São João del-Rei, de Bernardo Guimarães (cujo capítulo relativo à lenda da Casa da Pedra LS sintetizou), e aos arquivos da biblioteca da Câmara Municipal.
 
A quinta edição de "Contam que...", de 1956, pela Gráfica Olímpica Editora-RJ, é ilustrada com desenhos de Armando Pacheco, segundo fotos fornecidas pelo autor.

A sexta edição de "Contam que...", de 1957, pela Livraria São José-RJ, traz em sua orelha a informação de que Gustavo Barroso, autor de "O Sertão e o Mundo", um dos mais destacados líderes do movimento folclórico nacional, ao fazer entrega, por solicitação de LS, de um exemplar da obra oferecido à ABL, assim se expressou: "Em nome do autor, o escritor e jornalista Lincoln de Souza, ofereço à Academia o livro que acaba de publicar — "Contam que...". É um volume òtimamente impresso e ilustrado de lendas da histórica e tradicional cidade mineira de São João del-Rei, em 5ª edição, em que a história ombreia com a história. Estas páginas, além de estarem perfumadas pela saudade do passado, foram traçadas com bom gôsto literário e com vivo sentimento. O sr. Lincoln de Souza é um artista e um dedicado amigo da nossa tradição. São João del-Rei tem nêle admirável intérprete das suas lendas e tradições." (Notícia do Jornal do Comércio de 19/09/1956).
 
Jardins de Ouro e Névoa (pensamentos, anotações e reflexões), Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1ª edição, 1923; 2ª edição, 1947 ; 3ª edição, 1948 
 O Ritmo do Fogo-fátuo (prosa e verso), 1924
Para os Teus Olhos (versos), 1927
Berceuse (poemas em prosa e verso), Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1ª edição, 1933; 2ª edição, 1946, 61 p. A edição de Berceuse de 1938, editada em Aracaju, é em prosa; a de 1946 (só com poemas em verso), da Editora A Noite (Rio de Janeiro). 

Na introdução do livro, LS faz a seguinte declaração:
..."Os poemas de BERCEUSE eu devo, quase todos, às mulheres que o destino colocou no meu caminho.
Não há aqui mentirinhas de poeta visando agir sôbre as sensibilidades delicadas, mas tão somente sonho ou sofrimento: — o que elas me ofertaram e que eu, não importa qual, recebi de joelhos, porque foram êles, unicamente êles, que me fizeram compor as páginas de encantamento ou de tortura que se vão ler.
A tôdas, pois, que juncaram de rosas ou de cardos a minha senda, — o ouro, o incenso, a mirra do meu reconhecimento e da minha homenagem.
L. S.
Rio, fevereiro de 1946." 
 
Lenita (verso), 1ª edição, Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1947; 2ª edição, 1952; 3ª edição, 1957  
L.S. confessa na sua 3ª edição:
"Conheci Lenita, ou melhor Lenita Cunha durante rápida estação de águas, numa estância termal de Minas, o ano passado. Éramos hóspedes do mesmo Palace, confortável e alegre. Ao vê-la pela primeira vez, em claro e festivo domingo, sentada numa larga poltrona forrada de veludo, no 'hall' do hotel, com um livro de versos sôbre os joelhos, senti logo, naquele instante, uma indefinível emoção..."
Mais tarde, por intermédio de um amigo comum, foi apresentado àquela encantadora mulher que, "além de belo perfil e de irradiante simpatia pessoal, possuía uma requintada sensibilidade e um estranho temperamento de artista." LS esclarece, em nota, que Lenita "não é nome e sim pseudônimo. Ninguém sabe quem é, e os que a conhecem, ignoram (até mesmo o amigo, há pouco falecido, que m'a apresentou) que ela faz versos."
 
Flôres Mortas (pequenos poemas em prosa e velhas páginas esquecidas), Rio de Janeiro: Editôra A Noite, 1ª edição, 1947, 70 p. 
Poemas (reunião de poesias constantes dos seguintes livros: Versos Tristes, Para os Teus Olhos, Berceuse e Lenita, acrescidos de outros publicados apenas em jornais e revistas), 1ª edição, 1952; 2ª edição, 1957, 94 p., juntamente com uma reedição do livro Lenita (no mesmo volume)
Entre os Xavantes do Roncador (reportagens para o jornal "A Noite" relatando oito meses de vida entre os nativos), Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde (Serviço de Documentação), 1952.
Esta obra foi premiada pela ABL-Academia Brasileira de Letras, em 1953, com o Prêmio João Ribeiro, e reflete a aventura que se constituíram as suas quatro viagens ao "Hinterland" brasileiro, documentadas por sua câmera e com farto material de relevância antropológica.  
Os Xavantes e a Civilização (Ensaio Histórico), Rio de Janeiro: IBGE, 1953.  
Numa espécie de introdução ao livro propriamente dito, LS delimita assim o escopo de seu trabalho:
"Depois da publicação do meu livro — ENTRE OS XAVANTES DO RONCADOR (ed. do Serviço de docuentação do Ministério da Educação e Saúde), dou à estampa êste trabalho, que completa aquêle, e que nada mais é senão um rápido ensaio histórico da tribo acuen.
No citado livro — constituído de reportagens selecionadas, insertas no vespertino A NOITE, desta capital, reumi os principais acontecimentos registados nas viagens que realizei aos sertões goiano-matogrossenses, ilustrados com cêrca de 50 gravuras e onde, após descrever o tipo físico, adornos, usos e costumes, govêrno, vida tribal, etc., dos silvícolas do roncador, bem como, de passagem, dos calapalos, carajás e tapirapés, traço, em linhas sintéticas, o quadro confrangedor do nosso 'hinterland', com sua população de párias, doentia, semi-faminta, analfabeta e embrutecida pelo sofrimento — retrato autêntico, aliás, da massa rural brasileira. (...)
Confesso que foi com grande esfôrço que pude terminar o presente trabalho. De inúmeras tribos que povoaram, ou que povoam ainda, o nosso país há monografias, algumas longas e completas. Nenhuma, porém, existe com relação aos xavantes do subgrupo acuen. Sôbre êstes, o que se lê são breves referências aqui e ali, menções vagas, em poucas obras ou em documentos oficiais, excetuado um ou outro episódio descrito menos lacônicamente, como, por exmplo, o da fundação da aldeia de Pedro III, ou Carretão, por Alencastre e outros.
Não obstante tratar-se de mero ensaio, para levá-lo a têrmo foram precisos vários meses de pacientes buscas, não só nesta capital, como na do Estado de Goiás. No Rio, além das fontes de consulta proporcionadas pelo Insituto Histórico e Geográfico Brasileiro e pelo Arquivo Público Nacional — onde colhi os melhores elementos informativos — vali-me das coleções da Biblioteca Nacional e das da Biblioteca Castro Alves (esta do Insituto Nacional do Livro), bem como de documentos existentes nos arquivos das ordens dos capuchinhos, dominicanos e salesianos, merecendo um especial registo a obra do brilhante historiador Coemar Natal e Silva — HISTÓRIA DE GOIÁS — 2º tomo, que foi o ponto de partida para as minhas pesquisas em tôrno dos xavantes. (...)"

O Condor Sergipano (Síntese bio-bibliográfica de Tobias Barreto de Menezes), Rio de Janeiro: Ed. ?, 1954. 
Vida Literária (crônicas, ensaios, escritos diversos, anotações autobiográficas), Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti - Editores, 1961, 169 p.
Ao final de artigos de diversa natureza, LS encerra esse livro sua palestra literária, intitulada "A Propósito de Crianças" (p. 147-166), que LS proferiu nas seguintes localidades: Aracaju, na Associação Comercial, em 1933; Cantagalo, no Cantagalo Esporte Clube, em 1958 e S. João del-Rei, na sede social do Minas Futebol Clube, sob o patrocínio do C.A.C.-Centro Artístico e Cultural, em 1960.
Cantigas do Meu Crepúsculo (trovas e quadras), Rio de Janeiro: Editora São José, 1965

Nesse livro, à p. 60, em "Estranha Coincidência", a título de esclarecimento, LS relata que, em setembro ou outubro de 1964, compôs para este livro a seguinte quadra, que "não foi divulgada pela imprensa, tendo-a apenas lido, juntamente com outras, para pessoas de minhas relações. Antes disso, porém, dela tomaram conhecimento três poetas amigos, que tiveram em mãos os originais destas Cantigas", a saber:
É deveras infeliz
quem acredita em mulher:
— Nunca ela pensa o que diz
nem nunca sabe o que quer.
Em meados de janeiro corrente, eis que ouve, estarrecido, Carlos Galhardo cantar através de uma TV carioca:
Mulher não sabe o que diz.
Mulher não sabe o que quer.
Todo homem é infeliz
quando acredita em mulher.
Sem demora, busca saber quem é o autor dessa quadra. Informam-lhe: o radialista Celso Teixeira. Procura-o na Rádio Tupi e este lhe informa que "Mulher não sabe o que diz" é criação exclusivamente de seu espírito. Fica a dúvida do autor da quadra, diante da impressionante coincidência dos seus quatro versos quase completamente iguais aos dele. Resultado: LS achou prudente modificar os próprios versos, ficando a quadra algo descolorida no capítulo "Mulheres":
É conhecida a sentença
no que respeita à mulher:
—Nunca ela diz o que pensa
nem nunca sabe o que quer.
 
Na Biblioteca Municipal há um exemplar de "Cantigas do Meu Crepúsculo" com a seguinte dedicatória de LS:
"Ao prezado amigo Augusto Magalhães, legítimo continuador do talento paterno, como afirmo em minha síntese bio-bibliográfica de Basílio de Magalhães. Com admiração e estima,
Lincoln de Souza
Rio, 2/6/1965"  
Ainda na Biblioteca Municipal há outro exemplar desse mesmo livro com a seguinte dedicatória de LS:
"À Biblioteca do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier,
oferece
Lincoln de Souza
São João, 25/2/1965."  

Poemas de Minha Ternura (versos, pequenos poemas em prosa e uma palestra que fez em São João del-Rei), Rio de Janeiro: Livraria São José, 1966, 44 p.  
Além de poemas em verso e em prosa, LS encerrou esse livro com sua palestra "A Arte Divina da Música"(p. 35-44), fazendo a seguinte anotação após o título: 
"Ao se iniciarem os cursos, em 1965, do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, de S. João del-Rei, fui convidado para dar a aula inicial, o que, todavia, não pude fazer, por motivo de moléstia.
Gravada no meu GELOSO, só dias mais tarde, foi ouvida, perante numeroso público, no auditório daquela casa de ensino artístico."
 
VII. AMOSTRAGEM DE POEMAS REPUBLICADOS COM MODIFICAÇÕES 
 
"Qualquer que seja a coisa que se queira dizer, não há senão uma palavra para expressá-la, um verbo para animá-la e um adjetivo para qualificá-la. É preciso então buscar, até tê-los descoberto, essa palavra, esse verbo e esse adjetivo, e jamais se contentar com aproximações, não recorrer a subterfúgios, mesmo felizes, a truques de língua para evitar a dificuldade." (Guy de Maupassant, prefácio de "Pedro e João") ¹⁰

LS era dotado de algumas qualidades, inclusive no campo literário, que nos faltam às vezes. Nós, escritores, muitas vezes não gostamos de burilar o nosso texto e escolher a palavra certa. A busca da perfeição de LS no trato da literatura nos serve, portanto, como alerta e como exemplo. Para fundamentar esse ponto de vista, citei a autoridade de Guy de Maupassant, que no prefácio do seu livro "Pierre e Jean" nos apresenta o seu enunciado de escritor. Rever, reler o próprio texto e se autocriticar foi a recomendação de Maupassant para um escritor que quisesse ser chamado como tal. Assim fazendo, o escritor assume o papel triplo de escritor, leitor e crítico, através de aperfeiçoamentos na sua própria obra. É sobretudo na sua função de leitor crítico da sua própria obra que um autor revela sua luta incansável com as palavras. 
 
Conforme outras estudiosas que me precederam no exame do acervo deixado por LS na Biblioteca Municipal (FARIAS & TOLENTINO, 2002), "o papel do pesquisador de fontes primárias é rastrear as rasuras e as repetições, bem como as substituições em alguns poemas do escritor numa tentativa de flagrar Lincoln de Souza enquanto leitor de sua própria obra, numa reescritura constante, em busca da palavra poética." Principalmente na revisão, releitura ou refazimento de seus poemas, LS impressiona pela conquista de maior concisão de seu texto poético, pelo descarte do supérfluo e pela busca da palavra correta. Ainda, as mesmas autoras assim se expressaram quanto aos processos utilizados por LS na revisão de seu trabalho, em busca da palavra poética:
" O escritor, ao rasurar a sua criação, está rasurando a si mesmo, está se desnudando, deixando transparecer nela as suas intenções. (...) Assim, revendo, relendo e se autocriticando, Lincoln de Souza apaga, elimina, refaz o poema, descartando o que lhe parece supérfluo. Num reescrever constante, substituir, acrescentar, cortar, deslocar palavras, aproveitar títulos de poemas em outros livros, são operações constantes utilizadas pelo escritor Lincoln de Souza. A cada nova edição, o poeta modificava os seus poemas. Lincoln criava e recriava, deixando em destaque seu autocontrole, seu trabalho paciente, metódico e organizado."
 
Na introdução ao seu livro "Poemas", LS fez a seguinte confissão: "Eu havia deliberado, por várias razões, não mais cuidar de livros de poesias, o que não importava, entretanto, em afastar-me do suave convívio das Musas. Muitos poemas, porém, de minha lavra, insertos em obras anteriores, que não me desagradavam e pediam modificações, despertaram-me o desejo de torná-los mais apresentáveis, dando-lhes a forma definitiva. Feito isso, e juntando-os a outros divulgados apenas em jornais e revistas, pensei em publicar um volume com o título genérico de POEMAS."
 
Como foge ao escopo desse trabalho apresentar o resultado exaustivo das minhas observações a respeito dessas modificações efetuadas por LS, pelo menos citarei os poemas em que aparecem as mais relevantes, com as observações do autor, quando for o caso:
Tu nunca saberás!... : publicado em Lenita (1947), teve seu título modificado para Tu nunca saberás, em "Poemas" (1952)  
Castello em Ruínas: publicado em "Versos Tristes" (1919), muito modificado na 2ª edição de "Berceuse" com o título Castelos de Areia - Anotação do autor em "Versos Tristes": "Este soneto foi reeditado com modificações na 2ª edição de "Berceuse", Editora A Noite, março de 1946 - Rio, 11/4/1946 Ass. L. Souza" - Mais tarde, levemente modificado de novo, na 1ª edição de "Poemas" (1952)
Névoas (publicado em "Versos Tristes" (1919), com algumas modificações na 2ª edição de "Berceuse" e totalmente modificado em "Poemas" (2ª edição, 1957) - Anotação do autor em "Versos Tristes": "Este soneto foi reeditado com modificações na 2ª edição de "Berceuse", Editora A Noite, março de 1946 - Rio, 11/4/1946 Ass. L. Souza"
Saudade: publicado em "Berceuse", perde uma estrofe em "Poemas" (1952), perde outra estrofe em "Poemas" (2ª edição, 1957); só o título coincide em "Cantigas do meu crepúsculo" (1965) e "Poemas de minha ternura" (1966)
Confidência: publicado em "Lenita" (1947); depois, modificadas a primeira e segunda estrofes, em "Lenita" (2ª edição, 1952)
Beijei teus Olhos: publicado em "Lenita" (1947); depois, levemente modificadas a primeira e segunda estrofes, em "Lenita" (2ª edição, 1952)
Às Margens do Araguaia: publicado em "Lenita" (1947); depois, levemente modificado o segundo verso da primeira estrofe, em "Lenita" (2ª edição, 1952)

VIII. ARRANJOS MUSICAIS DE MOZART BICALHO PARA POEMAS DE LINCOLN DE SOUZA

MANHÃ NO MAR (Anotação do músico ao final da partitura: 3ª parte do poema composta em agosto de 1968 na casa do poeta no Rio, datado definitivamente em 16/01/1969, com o seguinte carimbo: Av. Amazonas 1464, telefone 24-3916, Belo Horizonte) ¹¹
PAISAGEM JAPONESA (24/02/1969)
ETERNA LEMBRANÇA, do livro "Lenita" (Anotação do músico: título Fado, andamento Lento e, ao final da partitura, "Ao caríssimo poeta Lincoln de Souza, com um abraço Mozart Bicalho 24/0l/1961" e, também, "Com agradecimento por sua nobre visita 07/03/1961"
ADORAÇÃO (Anotação superior: "Letra e música de Lincoln de Souza. Cantado por Jorge Fernandes para uma gravação particular de LS")
SAUDADE (Anotação do músico: título Balada, andamento Lento e, ao lado, o seguinte carimbo: SERESTEIRO DAS ALTEROSAS Solista do programa VELHA GUARDA Radio Guarani - toda 3ª feira às 23,30 hs. s/ anotações ao final)

IX. ESCRITOS SOBRE LINCOLN DE SOUZA
 
1) À guisa de prefácio em "Versos Tristes"- Trechos de uma carta do festejado cantor de "Rosas", "Montezinas" e "Contas do meu Rosário":

"Juiz de Fora, 28/3/1919.
Meu joven poeta
Li os teus bellos versos e sabendo que tens em mente reunil-os em plaquette, uma cousa unica lastimo: ser o numero delles tão limitado.
É certo que pelo dedo se conhece o gigante e essa pequenina amostra com que a tua gentileza me honrou, basta para o publico leitor avaliar da espontaneidade do teu estro, da cultura do teu espirito e do sentimento de tua alma moça e querida dos deuses.
Applaude de coração esse teu gesto e abraça-te o
amigo e admirador
Belmiro Braga." 
 
2) "... Lincoln de Souza foi ouvido e aplaudido, por uma numerosa assistência, destacando-se o elemento feminino, na fôrça da sua graça e da sua mais alta expressão de cultura, por isso que se achavam presentes grande número de nossas educadoras e de alunas do Colégio N. S. das Dores. O tema foi a CRIANÇA, e o conferencista, verdadeiro esteta dos segredos literários, garimpeiro das rimas, fêz aflorar, com habilidade e arte, um filão desconhecido, desenvolvendo um assunto pedagógico-educacional sob admirável forma lírica, em que se casavam a prosa e o verso, para transformar em verdadeiro poema a sua palestra de cunho tão delicado. 'Acabamos de ser transportados aos páramos, num enlêvo dulcíssimo e inesquecível!'
Pe. Luiz Zver
Presidente do C.A.C." (Em entrevista ao "Diário do Comércio" (edição de 18/5/1960), após a palestra de LS intitulada A Propósito de Crianças, realizada em São João del-Rei, na sede social do Minas Futebol Clube, sob o patrocínio do C.A.C.-Centro Artístico e Cultural) 
 
3) "A melancolia de Lincoln de Souza! Melancolia discreta, deliciosa, que transforma os seus versos em 'música de camara', que se ouve de olhos fechados, numa concentração profunda, a alma em prece...
Os seus versos teem a mesma sonoridade misteriosa de sua frase. E a sua frase ora lembra uma 'fuga' de Bach, ora um 'noturno' de Chopin, ora uma 'sonata' de Beethoven.
Passam por ela résteas de sol, ouros pálidos de poentes, raios de luar, névoas de manhãs frias, sussurros de águas distantes e plumas brancas que mãos luminosas agitam..."
Leoncio Correia 
 
4) Na matéria intitulada "Lincoln de Souza", em comovente elogio fúnebre (sem referências infelizmente): "Minas perdeu há pouco, já na altura dos setenta anos, um lavrador das letras, que trabalhava muito, tinha encanto pelo seu labor, mas dêle não fazia alarde. Era assim, muito do feitio mineiro, Lincoln de Souza, de S. João del-Rei. (...) É mais um grande intelectual mineiro que perdemos. E mineiro, não só porque aqui nasceu. Suas obras contêm o espírito mineiro e era o homem prêso ao berço, embora as circunstâncias da vida o levassem para longe do nosso Estado.
De S. João del-Rei era o enamorado. Visitou-a pela última vez há três anos e, numa dádiva material generosa a diversas instituições pias da cidade, marcou aquela visita, que seria a última do filho amoroso à terra natal."
José Clemente (pseudônimo do jornalista mineiro Moacir Andrade, autor de crônicas publicadas no jornal Estado de Minas) 
 
5) "Nos últimos anos de sua vida dedicou-se com especial desvelo à terra natal. Fez importante doação de livros à Biblioteca Municipal e ofereceu ao Conservatório Estadual de Música valiosa coleção de obras de arte, principalmente pintura. Deixou para as obras sociais da Paróquia do Pilar um apartamento na cidade do Rio de Janeiro, onde faleceu viúvo e sem filhos a 11/08/1969." 
Sebastião de Oliveira Cintra ¹²
 
Sobre essa efeméride de Oliveira Cintra, visitei o ilustre pesquisador Aluízio Viegas, do qual obtive as seguintes informações, confirmadas pelo Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva: de que LS fora casado e só tivera um filho, que faleceu muito jovem num desastre ocorrido no Paraná. Comunicou-me  ainda que, na missa de sétimo dia por falecimento de LS, Monsenhor Paiva foi informado por familiares de que, ao abrirem o testamento deixado por ele, se depararam com a cláusula de que ele legara em testamento uma quitinete no Rio de Janeiro e uma pequena casa de morada à Rua Santa Teresa em São João del-Rei em favor das Obras Sociais da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Para tomar posse do imóvel no Rio de Janeiro, seguiu para lá o Monsenhor Paiva, acompanhado pelo saudoso Pe. Zamagna. A quitinete foi então alugada, mas logo em seguida, devido à dificuldade de se receberem os valores do aluguel, se optou pela sua venda e reverter o produto da venda nas Obras Sociais da Paróquia. Por ocasião do falecimento de LS, o mesmo Monsenhor Paiva esclareceu que ficou em seu poder, além da cópia da carteira de identidade de LS, o registro de sua morte feito por José Clemente, em jornal infelizmente não identificado. Narrou ainda Monsenhor Paiva que a casa em São João del-Rei esteve alugada a um particular por algum tempo, após o que foi alugada à Prefeitura Municipal, tendo ali inicialmente funcionado o FUNRURAL, depois um abrigo temporário para atender pessoas pobres que estavam em trânsito para outras cidades. Nessa ocasião, os vizinhos da referida casa reclamaram sobre o uso indevido da casa por parte de usuários de drogas, alcoólicos e malfeitores. Foi então que se optou pela venda dessa casa e reverter também o produto dessa venda às Obras Sociais da Paróquia. Além disso, fui informado que LS legou em testamento às Obras Sociais da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar o direito de publicar seu livro "Contam que...". Na impossibilidade de explorar esse direito na sua integralidade, decidiu-se transferi-lo à Casa Colegial, na pessoa do seu proprietário Sr. Jorge Haddad. Monsenhor Paiva narrou ainda que LS deixou para ele inúmeros livros de sua biblioteca. Também informou que, no 70º aniversário de LS, organizou uma singela festa em homenagem a seu amigo no salão paroquial, tendo este ficado muito sensibilizado com a comemoração. Em razão de tanta consideração recebida em vida e depois de morto, Monsenhor Paiva celebra anualmente missa em sufrágio da alma de seu saudoso e dileto amigo LS.

Além disso, em visita a Dolores Olívia Ferraz de Oliveira, tomei conhecimento de que LS legou em testamento uma casa para sede da A.M.E.-Aliança Municipal Espírita de São João del-Rei e uma casa para funcionamento da "Sopa Vovô Faleiro", tradicional ponto de socorro para os mendigos e famintos. Informou-me ainda que a esposa de LS era excelente declamadora de poesias e que seu filho falecera vítima de um assalto no Paraná, na saída de um cinema e em companhia de sua namorada.

6) "Lincoln de Souza não é bem o tipo da espécie humana que eu imaginava e, só agora, lhe sendo apresentado, pude reparar.
Lidando com os índios, metido nas florestas ou nas matas densas, ao lado dos irmãos Meireles, êsse sanjoanense, há 35 anos ausente de sua terra natal, seria, no meu modo de ver, e como tal o imaginava, dessas criaturas enrijadas, a face tisnada, o bronzeado que caracteriza os que se entregam à vida exposta às intempéries. Para quem, como eu, se delicia com seus artigos em "A NOITE", nos quais nos fala de cobras, índios, rêdes, igarapés, foi entre surpreso e admirado, que verifiquei o engano em que eu incorria. E o Lincoln de Souza que eu agora fiquei conhecendo e que abracei é bem diferente daquele que eu de fato supunha. Figura simpática, atraente, de tez clara, o escritor são-joanense desfez por completo a minha impressão a seu respeito. Muito conhecido na sua terra natal, de todos admirado e por todos aplaudido, de mim sòmente tinha êle os aplausos e a admiração. É que, em 1920, quando eu batia às portas desta cidade, Lincoln de Souza aqui deixava a sua mãe e seus irmãos, para curtir a fase mais dura de sua vida, como escriturário da E.F.O.M., em Belo Horizonte. Eu chegava, menino ainda, e êle, já moço, partia para a batalha da vida, sustentáculo que era de sua mãe viúva. Daí o não ter conhecido essa criatura que se fêz por esforço próprio, pela inteligência, pelo desejo de vencer, de subir, conquistar os conhecimentos e a elevação do espírito, para nos legar, como nos legará, as belezas da sua imaginação poética, a fulgurância da sua verve, a graça do seu estilo nos versos, na prosa, nas narrativas de suas lendas sanjoanenses, na história das selvas, dos índios, da luta contra a natureza nas matas virgens que tem percorrido.
Escritor, jornalista, poeta, historiador, ora metido nas salas asfixiantes do jornal em que milita, ora se embarafustando mato a dentro, à cata de sensacionalismo jornalístico, Lincoln de Souza é, todavia, a despeito dos anos que o retêm afastado de sua terra natal, um verdadeiro sanjoanense. Lhano, afável, prende e encanta e tudo nele, em dizer que a vida dos grandes centros não lhe modificou o temperamento, não lhe mesclou a índole. Falando dos índios, dos sertões inóspitos que tem palmilhado na sua peregrinação de jornalista, recordando Maufrais*, o aventureiro francês, falando dos irmãos Meireles, dos quais é admirador; do filme sôbre a sua passagem pelas florestas desconhecidas e que o sanjoanense deve assistir com orgulho; falando das cobras, dos mosquitos, considerando piores êstes do que aquelas; rememorando os igarapés e a vida das selvas, a que por duas vezes já se expôs, não olvidou - é digno e é justo que aqui se diga e se exalte - a sua terra natal, a sua São João del-Rei. E com a sua prosa mansa, pausada e boa, recordou seus velhos tempos nesta cidade, onde êle, e é com acentuado orgulho que o diz, começou sua vida de moço pobre, de órfão de pai. Lembrou seus antigos professores, seus mestres, todos ainda bem vivos em sua memória assaz fértil, môça, admirável. Não esquece nomes, não olvida as datas, e os fatos sanjoanenses vêm à sua lembrança como se fossem vividos ontem, como se o tempo não tivesse avançado impetuoso e destruidor."
(...) "Lincoln de Souza, sôbre ser jornalista, é amante das letras, da história, da literatura, dos livros; é homem do pensamento, da palavra fácil, da elegância no falar e no escrever, porém há nêle algo que o torna mais admirável: a simplicidade, a modéstia, predicados que caracterizam os verdadeiros homens da sua cultura e do seu saber. Conversar com êsse sanjoanense culto, com essa criatura de cérebro atilado, irrequieto, vibrátil, extraordinariamente vivo, é algo que agrada e prende, é ter diante de nós uma enciclopédia, é vasculhar a história, reter nas mãos e no cérebro, a um só tempo, o gênio e a obra do Brasil virgem, com a poesia das paisagens e com seus perigos naturais; é suspirar a donzela na leitura dos versos, é deleitar-se o curioso no estudo da obra e da vida nativista. É, também, nessa época de descaso pelas belezas do espírito, quando se fala e só se cuida de política, um refrigério para os corações revoltados, uma esperança e um consôlo, enfim, para a humanidade que se debate na intolerância, no êrro, na ambição, na inveja, chafurdando-se na lama de suas próprias imperfeições."
Gentil Palhares ¹³ (matéria escrita para o "Diário de Comércio", de São João del-Rei, edição de 22/09/1956)

7) "Por intermédio de José Maria Fontes, grande poeta, companheiro e amigo que aqui vive, perdido como um grão de ouro no sem fim das areias, soube que, dentro em breve, Lincoln de Souza - o joalheiro magnífico de 'Berceuse' e 'Jardins de Ouro e Névoa', lançará à luz mais um maravilhoso canto de sua sensibilidade tão alta, tão nobre, tão encantadora e tão pura. Podemos dizer que o novo livro de Lincoln de Souza será, no desespero asfixiante das horas aflitas que são o presente, um cântico embriagador acalentando as almas superiores, isto é, aqueles que, na miséria da vida, sonham e conversam com os astros distantes que nos falam do amor. De longe, d'um passado lírico, vem a nossa amizade,  — rio de prata que se constela dos violáceos nelumbros da saudade. Lincoln de Souza viu nascer os meus primeiros versos e aplaudiu os primeiros vôos do meu sonho adolescente, à procura do sol."
(...) "Lincoln de Souza voltou ao Rio, deixando Sergipe. Viajou outras terras, contemplou outros mundos, sentiu os tremores da Europa medrosa do futuro, no coração vibrante da 'Cidade-Luz'... Buscou também as nossas selvas conversando com o Brasil-caboclo, desnudo ao sol, d' arco e flecha, vivendo nas tabas primitivas. Há poucos meses tive o prazer de abraçá-lo nesta cidade nossa... O mesmo artista, o mesmo homem, o mesmo 'gentleman'. Seu coração  — o coração de Lincoln de Souza, não se deixara envolver pelos fumos da vaidade, pelas trevas da noite, pelo cabotinismo que empavona os medíocres. Quanta recordação me trouxe êste encontro! Quanta festa, quanta alegria a vê-lo junto ao meu coração, dentro no meu lar sereno e calmo, onde, Deus louvado, até hoje o Simum não soprou!...
Retornando ao Rio, mandou-me o poema que ora transcrevo para os que me lêem e são, através dos aplausos que me enviam, confôrto para o meu coração: 
'BEDUÍNO: Que as bençãos de Alá povoem de oásis e de estrêlas os desertos da tua Vida; que a Bem-Amada companheira seja perenemente o canto de pássaro de tua tenda, a luz de teus olhos, o luar dormente do teu coração; e que a Poesia,  — invisível traço de união entre a terra e o céu  — continue embalando as tuas horas coroadas de músicas e de sonhos!'
Caro Lincoln: Que a luz de Alá  — a que se não apaga na tempestade  — a luz eterna da eterna alvorada, jamais se afaste dos teus olhos, que penetram e sentem os mistérios da Beleza imortal!
Que os teus poemas sejam levados aos confins da Terra pela voz dos mares e dos ventos eternos; que o Anjo Asrael fuja do teu caminho e que a tua vida se elasteça no tempo, sob as bençãos de Alá e que jamais te esqueças do beduíno que te escreve e aguarda, no teu novo livro, a colorida e maravilhosa mensagem da tua ternura e do teu coração." 
João Freire Ribeiro
Matéria escrita para o "Correio de Aracaju", edição de 29/08/1953   

8) PRETENSO PREFÁCIO AO LIVRO "ENTRE OS XAVANTES DO RONCADOR" (duas páginas originais de Basílio de Magalhães, com corrigendas)

"Desde anos muito em flor, fez-se Lincoln de Souza conversado das musas e folclorista, como se vê dos livros "Versos tristes" (1919), "Para os teus olhos" (1927), "O ritmo do fogo-fátuo (1924) e "Berceuse" (1933), assim como de "Contam que... Lendas de São João del Rei, Minas" (1922). Entregando-se depois à labuta jornalística, publicou ainda "Águas passadas - Crônicas" (1920), "Jardins de ouro e névoa" (1923) e "Flôres mortas" (1948). Algumas dessas brochuras já foram reeditadas.
Seduzido, mais do que nunca, pela serêia da imprensa, poude ultimamente, graças à boa saude e intrepidez que possúi, transmudar-se de redator em repórter, e enfrentar as incomodidades e perigos de quatro sucessivas excursões ao coração do nosso país. Visitou e examinou detidamente, tanto as instalações da sede administrativa da Fundação Brasil-Central, quantos os aldeamentos indígenas das regiões circunvizinhas. E o curioso foi que se apaixonou pelo estudo, até hoje imperfeitamente realizado, da evolução históricos dos acuêns do Roncador, aos quais se refere, enaltecendo a glória de Francisco Meireles, êste seu novo e magnífico trabalho.
Sem se haver embrenhado no aranhol antropo-social dos sobreditos índios, deles nos proporciona o escritor mineiro o que de mais fidedigno e instrutivo se lhe deparou com relação aos mesmos, pois foi com a paciência de beneditino que pesquisou os respectivos elementos histórico-geográficos e étnico-políticos. E entre as figuras beméritas, a que rende preito de justiça, contam-se os irmãos Vilasboas (Cláudio, Leonardo e Orlando, paulistas de origem mineira), cujos nomes ......... expedição Roncador.
Leu e aproveitou, com inatacável probidade, a não pequena bibliografia que já existe sobre os acuêns, de origem estrangeira e de autoria brasileira, tendo manuseado até as "falas" e "relatórios" dos presidentes da província de Goiás, que lhe podiam indicar o surto e a progressão ou declínio dos antigos aldeamentos de xerentes e xavantes. Êstes, como tive ensejo de afirmar (num prefácio de trabalho de meu falecido amigo Urbino Viana), enfileiram-se no subgrupo dos bús, um dos maiores e mais notáveis do grande grupo gé. São consanguíneos os seguintes íncolas primitivos do Brasil-Central: caiapós (caiabús, chamados caiamos pelos pelos seus inimigos borôros), caraús (caraôs ou craôs), apinagés, aponegicrãs, acroás-mirins, xavantes e xerentes. Com os dois últimos ocorreu um facto singular: irmãos da mesma família acuên, separaram-se em época não muito remota, mas ignorada por nós, e, enquanto os xavantes permaneciam em pé de guerra contra os civilizados, viviam êstes em plena paz com os xerentes.
Estou que o admirável ensaio, agora saido da pena ágil de Líncoln de Sousa, contribuirá valiosamente para pôr em foco os árduos problemas da pacificação dos xavantes e de um mais idôneo aparelhamento da Fundação Brasil-Central, benfazejas emprêsas de que precipuamente dependem a nossa 'marcha para o oeste' e a integral execução do 'Plano Salte'."
Ass. Basílio de Magalhães.
Rio de Janeiro, 03/V/1951
 
9) "Contam que..." foi um dos maiores sucessos do autor. Sucessivas edições se esgotaram: 1922, ... 27, 38, 42, 56, 57 e 91 (?), esta com uma reedição xerográfica de 2007-8, com encadernação em espiral, pela Colegial. De alguma forma pode-se considerar ainda como edição a agenda 2008 da Universidade Federal de São João del-Rei, que inclui um texto em sua homenagem como apresentação e ainda cada uma das lendas de "Contam que..."separando os meses do ano, provando mais uma vez o sucesso de sua empreitada.
Neste livro o autor transcreve em sua linguagem muito fluente os mitos, lendas e causos são-joanenses. Até hoje é uma referência fundamental para quem se aventura a estudar as narrativas orais, dado seu pioneirismo, quando quase ninguém voltava a atenção para elas.
Independente de ser um folclorista, sua simples leitura é agradável e de um realismo que é como se estivéssemos a presenciar a própria cena. Ultimamente tem servido de base para teatralização.  
Ulisses Passarelli 
São João del-Rei, em 2/11/2008 (em discurso de Defesa do Patrono no IHGSJDR intitulado "Lembrando Lincoln de Souza") 

10) A UFSJ prestou sua homenagem ao autor de "Contam que...", publicando em 2008 a Agenda UFSJ 2008, em que a proposta foi revisitar essa referida obra e não fazer uma sua reedição, adotando como tema de cada mês daquele ano um conto, obedecendo à sequência dada pelo autor. Essa foi a forma encontrada de "contribuir para a preservação da memória cultural da cidade, cumprindo com sua responsabilidade social através de uma ação que resgata, presenteia e divulga a cultura local." Cabe aqui saudar essa iniciativa da UFSJ, louvável em todos os sentidos.
 
11) Ao encenar quase todas as lendas de "Contam que...", o passeio "LENDAS SÃO-JOANENSES", conforme divulgado, "é um espetáculo noturno que proporciona momentos de suspense e descontração, despertando o imaginário através das lendas da história de São João del-Rei. Foi premiado regionalmente pelo IPHAN na categoria de Salvaguarda de Bens de Natureza Imaterial e indicado ao prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade no ano de 2010." Com quase seis anos de atuação (2007-2013), o passeio cultural contribui para a divulgação dos casos de "Contam que..." a grupos de turistas que visitam a nossa região e para a divulgação turística de nossa cidade.

12) Como ocupante da cadeira nº 22 deste IHG, patronímica de LS, quero aqui consignar o fato de já ter prestado, em pelo menos duas ocasiões anteriores, homenagem a meu patrono, dedicando duas matérias ao engenho e arte do escritor são-joanense. No ensaio intitulado "Adeus à Vida Literária do Poeta e Jornalista Lincoln de Souza", integralmente dedicado a meu patrono, e em "Comentários à 1ª Edição do Jornal Tribuna Sanjoanense", publicados respectivamente no Blog do Braga e Blog de São João del-Rei, pesquisei e disponibilizei material ainda inédito colhido diretamente do acervo do escritor na Biblioteca Municipal e do arquivo do Conservatório Estadual Pe. José Maria Xavier. Além disso, esse meu último trabalho foi ainda publicado na Revista da Academia de Letras de São João del-Rei.

X. ALGUNS EXCERTOS DE SUA IMENSA PRODUÇÃO
 
1) A alguns amigos de S. João del-Rei (soneto extraído do livro "Poemas da Minha Ternura", p. 16)

Meus amigos Palhares e Mozart,
Padre Luís, Asterac — que é uma flor —
sou-vos tão grato...  por que, pois, falar?
se palavras não há para o louvor!

As expressões que ouvi de vós, há pouco, 
tão cheias de carinho e de bondade,
me deram a ilusão de um sonho louco:
— sonho de Glória e de Imortalidade...  

Mas antes aí não fôsse para as rosas 
de todos, à minh'alma, que se aterra
com certas perspectivas angustiosas...

Porque vou vos dizer qual a razão:
com a mais linda mulher da minha terra
deixei — sem que ela o saiba — o coração...

2) Teus Olhos (quadra extraída do livro "Cantigas do Meu Crepúsculo", p. 35)

Teus olhos, de luz macia,
são dois agudos punhais.
Quem nêles se fere um dia
não tem cura nunca mais! 
 
3) Arte (quadra extraída do livro "Cantigas do Meu Crepúsculo", p. 59 e encerrando a sua palestra A Arte Divina da Música) 

Ó Arte, que por mim passas
tornando-me a alma florida,
eu, de joelhos, te dou graças
porque me levas da vida! 

4) Nos umbrais do além... (soneto extraído do Caderno intitulado I. Poemas de LENITA / II POEMAS DE LS... / III. CANÇÕES...) 

Sou uma vela que se apaga aos poucos:
dentro em minh'alma tudo se acabou...
Meus sonhos mais ardentes e mais loucos
nem sequer a Saudade perfumou...

À lei do Karma, que jamais perdoa,
que grande paz!... Frios o peito e a mente.
O mal que eu fiz, creia que fiz à-tôa,
sem saber que pecava, simplesmente.

Vida inútil! A vela se consome...
Nem meus versos, tão puros como o luar,
de rosas cobrirão meu pobre nome...

JESUS, que tudo vês, do átomo à flor,
peço-te um instante mais, só para dar
melhor abrigo ao pobre, em teu louvor.

(20/10/1968)

Senhor Presidente,
Espera-se que um discurso de Defesa do Patrono seja laudatório e trate de temas amenos e leves sobre a vida e obra do patrono. Lamento, entretanto, que eu tenha algo grave a relatar. Solicito, portanto, a quebra do protocolo para tratar de fatos de extrema seriedade para o nosso Município, que atingem diretamente a memória do grande intelectual são-joanense.
 
Desde 2011, venho alertando a sociedade são-joanense para o desaparecimento das obras de arte que emolduravam a Sala Lincoln de Souza, instalada na Casa de Bárbara Eliodora. Esse acervo de inegável valor artístico e cultural, conforme a relação completa constante do dossiê que este pesquisador disponibilizou à nova equipe da Secretaria Municipal da Cultura e Turismo, Esporte e Lazer empossada recentemente pelo novo Prefeito, consistia de uma coleção de quadros a óleo, crayons, aquarelas, desenhos e objetos de arte, tudo abrigado na Sala Lincoln de Souza, outrora existente na Casa de Bárbara Eliodora. Anteriormente, de 1965 a 1979, esse repositório de cultura e arte permanecera guardado numa das salas do Conservatório Estadual de Música Pe. José Maria Xavier, tendo em vista que fora doado a esse estabelecimento de ensino pelo próprio LS. Em 28 de março de 1979, a Diretora da Secretaria de Estado da Educação, certamente considerando precária a custódia das obras de arte de LS entulhadas numa das salas do Conservatório Estadual, decidiu que a cessão do acervo a um órgão municipal de turismo redundaria em melhor visibilidade do importante acervo, tendo então autorizado o Diretor do dito Conservatório a transferi-lo para a Casa de Bárbara Eliodora, bem ao lado. Em 9 de julho de 1979, finalmente a cessão foi realizada pelo Conservatório Estadual, passando a responsabilidade da custódia do acervo à então Secretaria Municipal de Turismo, tudo feito com discriminação e identificação de todos os itens cedidos. Através da citada matéria de minha autoria,  datada de 2011, a sociedade são-joanense e os turistas que apreciavam a Sala Lincoln de Souza, outrora existente naquele Museu, tomaram conhecimento do seu desaparecimento. ¹⁴

Até bem recentemente, o site do Brasilviagem.com ainda trazia a seguinte descrição da Sala Lincoln de Souza existente no Museu Casa de Bárbara Heliodora (na qual é omitido o material referente aos índios do Roncador), a saber:
"Museu Casa de Bárbara Heliodora
O Museu está instalado na casa onde nasceu e casou Bárbara Heliodora. O sobrado, em estilo colonial do século XVIII, conserva algumas caracterísiticas de sua arquitetura original. O acervo é composto por:
- telas, - fotos, - utensílios domésticos e - imaginária e oratórios. Entre as peças destacam-se: - o poderoso braço da justiça, vindo de Portugal, onde a mão pendia a balança da arrecadação do dízimo de ouro usado na Casa de Fundição de São João del Rei; o piano de Bárbara Heliodora, atualmente em restauração; - alguns instrumentos de tortura; e - uma mesa italiana em ébano com mármore, do século XX.
Sala Lincoln de Souza
Ainda fazendo parte do museu, está a Sala Lincoln Souza, em homenagem ao poeta e jornalista são-joanense. Seu acervo consta de pinacoteca, livros, teares, baús, busto de Lincoln, desenhos de crayon e souvenirs de países por onde ele passou, além de uma mesa originária de Beirut, em madeira com madrepérola. No mesmo prédio funciona a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura.
Créditos: SETUR/MG
Endereço: Praça Frei Orlando, 90" ¹⁵
 
Segundo informações de pessoas igualmente preocupadas com o sumiço do acervo de LS, essas obras de arte teriam desaparecido durante a última reforma por que passou a Casa de Bárbara Eliodora. Consta que elas teriam saído de lá completamente mal embaladas e acondicionadas, sem a devida identificação, tendo circulado por pelo menos três locais distintos: o Grupo Escolar Maria Tereza e prédios da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Esporte e Lazer (Av. Tiradentes, 136 e Praça Embaixador Gastão da Cunha, 70), onde, segundo as informações citadas, ficaram empilhadas e sem os mínimos cuidados requeridos para um bom estado de conservação de obras de arte. Fui ainda informado pela nova equipe da Secretaria que possivelmente parte daquele material continue amontoado nos fundos do andar térreo da Casa de Bárbara Eliodora. Em meu primeiro contato com essa nova equipe, verifiquei que o que está visível e se salvou do acervo se encontra em péssimo estado: aquarelas e telas mofadas e rasgadas, molduras sem as antigas telas, telas sem as antigas molduras, etc. Sugeri-lhe, enfim, fazer um inventário das obras de arte ainda existentes do referido acervo, fazendo uma comparação com as 144 obras de arte que constam do dossiê que lhe entreguei.

Para finalizar esta minha palestra, gostaria de solicitar a todos os presentes, especialmente ao elemento feminino aqui presente, para entoar o samba-canção "Teus Olhos", cuja autoria (letra e música) a confreira Maria Lúcia Monteiro Guimarães atribui a LS e que tradicionalmente é cantado em festas e rodas de samba na cidade de São João del-Rei, com a seguinte letra:

TEUS OLHOS

Lincoln de Souza

Teus olhos, quando estão a brilhar,
Até parecem uma noite de luar,
Quando estou a cantar
E você a chorar. ¹⁶

Refrão:
Eu vou partir para bem longe daqui
Eu vou sentir muita saudade de ti.

Mas algum dia eu voltarei
Para bem perto de ti
Juro por Deus
Pelos olhinhos teus.
 
Finalmente gostaria de deixar aqui a minha sugestão para que, dos muitos existentes nesta cidade, algum bloco carnavalesco ou escola de samba adote o samba-enredo "Teus Olhos", pretensamente da autoria do poeta são-joanense Lincoln de Souza, em homenagem àquele cujas "obras contêm o espírito mineiro" e que "era o homem prêso ao berço", segundo as corretíssimas palavras de José Clemente.
 
À Câmara Municipal de Vereadores encaminho ainda a sugestão de aprovar a instituição da comenda Medalha Lincoln de Souza, a ser concedida àqueles cidadãos, são-joanenses ou não, que tenham se destacado em ações em prol do crescimento e desenvolvimento sócio-econômico do Município de São João del-Rei, especialmente nas áreas jornalística, histórica, folclórica, indigenista e poética, na de rememorar as lendas são-joanenses que LS tanto prezava.

Muito obrigado!

XI. NOTAS DO AUTOR

¹ Todos os textos utilizados neste trabalho terão sua ortografia respeitada.
 
² Cf. SOUZA, L.: Vida Literária, p. 6-15. Já utilizei seus dados bio-bibliográficos em outra matéria, transcrevendo-os literalmente, os quais disponibilizei no seguinte endereço eletrônico:
http://bragamusician.blogspot.com.br/2011/08/adeus-vida-literaria-em-1961-do-poeta-e.html

³ Para maiores informações sobre esse ilustre flautista e regente são-joanense, queira consultar CINTRA, S.O.: Efemérides de São João del-Rei, vol. 1, efeméride do dia 25/01/1898, p. 46-47.
 
⁴ Quando alguém usa tanta discrição para contar um seu caso amoroso, é natural que aguce nossa curiosidade e nos desafie a tentar decifrar o enigma proposto à nossa imaginação.
No livro "Vida Literária", LS declara que, na ocasião desses fatos, contava com 25-26 anos de idade. Ele sempre se mostrou muito discreto e reticente em relação à sua vida amorosa, mas sobretudo neste "caso de um retrato", em que deixa entrever que houve uma ocorrência que o marcou indelevelmente. Embora não tenha declinado o nome de sua "musa morena", LS deixou alguma pista a respeito da misteriosa "autora dos belos versos" e "fascinante criatura dos olhos de zíngara". Ele declara em 1961, quando contava com quase 67 anos, para um possível leitor-detetive, possivelmente desafiando-o a decifrar o enigma: "Ela é hoje, um nome de projeção internacional e ainda bela, malgrado a mocidade que lhe fugiu." Ou seja, ela ainda estava viva em 1961, conhecida internacionalmente, fato que reduz a  lista de nossas poetisas candidatas a dona do coração do meu biografado.

LS reconhece que houve precipitação de sua parte, tendo havido apenas troca de correspondências, mas nenhum contato pessoal antes do noivado, mas também esclarece que, diante de seu pedido de casamento por carta, "ela, com uma sutileza muito feminina, deu-lhe esperança..." Teria ela incentivado LS a mudar-se para o Rio de Janeiro ou ele próprio é que agiu precipitadamente, "tão perturbado estava o seu espírito"?

De concreto, temos que LS omite do leitor de "Vida Literária" as reais circunstâncias envolvendo esse seu caso amoroso. A sua mudança de Belo Horizonte para o Rio, em busca de sua amada, foi muito difícil a ponto de colocar todo o seu empenho nesta empreitada? Ele acreditava que essa decisão de mudança de vida tinha que dar certo? Foi ele ou ela que rompeu o romance? Se ela, o que levou a sua "musa morena" a descartar a proposta de casamento do grande escritor são-joanense?  Se ele, qual teria sido o motivo de sua desilusão?
 
Segundo relato de José Clemente (pseudônimo do grande escritor e jornalista mineiro Moacir Andrade, da Academia Mineira de Letras, responsável por uma crônica diária no jornal Estado de Minas), em texto que nos deixou como elogio fúnebre para o autor de "Vida Literária", cuja cópia me foi repassada pelo grande amigo deste, Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, embora sem referência ao periódico que o publicara, LS "foi noivo, ainda antes dos 30 anos, de CECÍLIA MEIRELES, conforme informação de Gentil Palhares, seu grande amigo, que ternamente escreveu sôbre êle, relembrando até o que Lincoln dizia daquele noivado efêmero: 'Não quis o destino que eu me unisse à fascinante criatura dos olhos verdes'...". (grifo meu)

Colhi também a seguinte declaração curiosa num trabalho acadêmico sobre Drummond e Cecília, o que vem corroborar a informação de Gentil Palhares: "O início de 1920 apanha Carlos Drummond de Andrade, então com dezessete anos, deitado na cama do Hotel Internacional, em Belo Horizonte, observando o companheiro de quarto ler em silêncio as cartas que recebia da noiva do Rio de Janeiro. Ele chamava-se LINCOLN DE SOUZA, era aspirante a poeta. Vivia um pouco inchado demais com as cartas enviadas pela noiva, cujo nome ele mostrava a Drummond no envelope: uma também jovem poeta carioca chamada Cecília Meireles. Carlos Drummond de Andrade não chegou a ler nenhuma dessas cartas, nunca indo além do envelope — o que de alguma forma antecipa uma frustração que o acompanharia quase toda a sua vida: a de não ter conseguido se aproximar mais de Cecília Meireles (de quem teve durante muitos anos um retrato a óleo no seu escritório). A autora de Mar absoluto sempre repeliu as tentativas de aproximação do poeta, dando-lhe pouca corda e conversa e cortando-lhe as asas com sua atitude majestática." (CANÇADO, J.M.: Os Sapatos de Orfeu — Biografia de Carlos Drummond de Andrade. 1ª ed. São Paulo: Página Aberta, 1993, pp. 72-73 apud ROCHA, E.: Drummond e Cecília: Atlas e Fênix na poesia moderna brasileira, disponível em arquivo PDF na Internet, pp. 10-11, citando ). (grifo meu)
 
Para essa "musa morena", "fascinante criatura dos olhos verdes" certamente compôs o soneto "Única" que vem a seguir, selecionado por J. G. de Araújo Jorge e incluído em sua coletânea entre "Os Mais Belos Sonetos que o Amor Inspirou" (Vol. I - Poesia Brasileira - 1ª edição, 1963):

"Única"

Lincoln de Souza

Todas passaram... Todas, na verdade.
Algumas bem depressa... Almas de vento!
Outras, com menos volubilidade,
também passaram, para  o meu tormento.

Por elas conheci traição, maldade,
desprezo, humilhação, o ódio violento,
o adeus e o pranto... o espinho da saudade
e o desespero atroz do esquecimento.

Todas passaram... Todas, menos uma,
que eu não tenho, e por quem vivo sonhando
altos castelos... só de areia e espuma!...

Bênção do céu, porém, que anima e acalma,
sinto-a como uma estrela fulgurando
na solidão da noite de minh'alma... 

⁵ Cândido Martins de Oliveira (1896-1975) foi juiz, desembargador, Secretário de Justiça de Minas Gerais no governo de Crispim Jacques Bias Fortes e membro da Academia Mineira de Letras. No opúsculo intitulado "Arcádia do Rio das Mortes", que apareceu como separata da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, editada em 1959 como volume VI, Martins de Oliveira reproduziu quatro testemunhos para fundamentar a existência da referida arcádia. Dentre esses se destaca o escrito pelo Dr. Emílio Joaquim da Silva Maia (1808-1859), doutor em Medicina pela Escola de Paris, naturalista, sócio-fundador do IHGB e professor de História Natural e Ciências Físicas no Colégio Pedro II, segundo o qual ela recebeu tal nome "por achar-se estabelecida n'um logar perto d'este rio", estava supostamente sediada em São João del-Rei, cabeça da Comarca do Rio das Mortes, e teve duração efêmera (1760?-1782), como então acontecia a todas as outras sociedades literárias no Brasil Colônia. (Cf. SILVA, Joaquim Norberto de Souza: "Obras Poéticas de Manoel Ignacio da Silva Alvarenga (Alcindo Palmireno)". Paris: Garnier Irmãos, Editores, 1864, Nota do Autor nº 91, pp. 111-114, disponível na Internet como livro virtual; SACRAMENTO, J.A.A.: A arcádia do Rio das Mortes. Ouro Preto: Revista Memória Cult, Ano I, nº 3, abril de 2011, p. 29-30.)
⁶ A respeito dessa reportagem, o próprio LS confessa o seguinte: "Quando publiquei em "Vamos ler!" uma colaboração sôbre "A Fonte da Mata", em Boquim, berço natal de Hermes Fontes e descrevi a situação de penúria em que se encontravam as irmãs do poeta, o dr. Eronides de Carvalho, que era, à época, Interventor em Sergipe, mandou dar-lhes uma pensão, bem como a uma filha de Tobias Barreto, que também carecia de auxílio." (Vida Literária, 1961, p. 12)
 
⁷ Desde 6 de junho de 1937, o Monsenhor José Maria Fernandez, em artigos publicados na coluna "Escovilhando" do jornal A Tribuna, vinha deixando patente que "Aleijadinho nunca esteve em S. João, construindo igrejas, e quanto ao risco da igreja de S. Francisco, ali fica a duvida", tendo concluído: "A execução da obra de alvenaria é de Francisco de Lima Cerqueira. O risco não sabemos de quem seja, mas é possível que seja do próprio executor, que 'tambem fazia riscos', rezam os documentos. Como elle estava ao mesmo tempo construindo a igreja de S. Francisco, é possivel que tenha aproveitado o risco da igreja, um tanto modificado, e sobre elle levantado a do Carmo." E continua: "Uma cousa certa deduzimos dos documentos existentes que Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho) não veio a S. João del-Rei para construir igreja alguma. Isto é certo. Há uma cousa sobre que temos duvidas: si o risco da igreja de São Francisco é do Aleijadinho. Os documentos existentes não são bastante claros; o unico documento que lhe traz o nome, o tem à margem do termo, como emenda; no texto o nome de Antonio Mrz, (tendo sido este último) riscado e substituido pelo outro à margem (Francº Lxª). Que pensar disso?" Fernandez acrescenta mais a seguinte pitada de sal em 19 de dezembro de 1937: "A letra da emenda "Francº Lxª" parece differente das do termo. Os entendidos que a estudem e dêem seu parecer." (Apud RAMALHO, [2002])

⁸ Raymond Maufrais, jovem explorador audacioso, desaparecido no começo de 1950, em pleno coração do Território de Inini. Seu pai, Edgard Maufrais, deixou-nos um livro: "À la Recherche de mon Fils".
 
⁹ Teresa Margarida da Silva e Horta (São Paulo, 1711-Lisboa, 1792) é considerada a primeira mulher a escrever ficção em língua portuguesa. Irmã de Matias Aires, publicou inicialmente sob o pseudônimo de Dorothea Engrassia Tavareda Dalmira, um anagrama perfeito de seu nome. Escreveu as "Máximas de Virtude e Formosura" ou "Aventuras de Diófanes" (1752, reeditado em 1777 e 1790), livro de claro engajamento nas ideias iluministas, inspirado em Fénelon e dedicado à futura rainha D. Maria I, constitui não somente um libelo contra a tirania absolutista, mas também um registro vivo das inquietações próprias da condição feminina e estrangeirada na Corte. É a este livro que Amélia Tomazi se refere. Ele foi disponibilizado pela Biblioteca Nacional, na sua Rede da Memória Virtual Brasileira. Há ainda os textos que Teresa escreveu na clausura do Mosteiro de Santa Eufémia de Ferreira de Aves, para onde fora mandada pelo Marquês de Pombal por insubordinação, a saber: "Poema épico-trágico", "Novena do Patriarca São Bento" e a "Petição que a presa faz à rainha N. Senhora".
 
¹⁰ Minha tradução para o seguinte trecho: "Quelle que soit la chose qu'on veut dire, il n'y a qu'un mot pour l'exprimer, qu'un verbe pour l'animer et qu'un adjectif pour la qualifier. Il faut donc chercher, jusqu'à ce qu'on les ait découverts, ce mot, ce verbe et cet adjectif, et ne jamais se contenter de l'à peu près, ne jamais avoir recours à des supercheries, même heureuses, à des clowneries de langage pour éviter la difficulté." (Guy de Maupassant, préface de "Pierre et Jean")
 
¹¹ Junto à partitura para o poema Manhã no Mar, o compositor, violonista e poeta Mozart Bicalho (Santa Bárbara, 1901-Belo Horizonte, 1986) disponibilizou também aos pesquisadores o poema de sua lavra chamado "Guanabara" com os seguintes versos (segundo ele, com letra e música próprias):

O CRISTO DO CORCOVADO,
De um modo ameno e gentil, 
Abençôa extasiado
O nosso grande BRASIL!...

Com letras d'oiro gravei
Teu nome em meu coração;
Em prece sempre estarei
Pela tua exaltação!...

No alto da GUANABARA
Tens a glorificação, 
A maravilha mais rara
Do mundo, nesta NAÇÃO,

És a Cidade faustosa,
Picus de inspiração!o
CIDADE MARAVILHOSA,
Do amor consagração!...  
Rio, 21 de abril de 1969
 
Gostaria de falar pelo menos algumas palavras sobre Mozart Bicalho, esse parceiro de LS, pelo menos nos poemas mencionados, responsável por ter feito lindos arranjos musicais daquele para voz com acompanhamento de violão. Renato Sampaio escreveu um livro, "O Violão Brasileiro de Mozart Bicalho" (Edições Hematita), sobre este que foi um dos maiores violonistas populares brasileiros e um dos pioneiros da radiofonia brasileira, como instrumentista e diretor artístico de diversas emissoras, primeiro em Belo Horizonte a partir de 1920 e depois no Rio de Janeiro em 1923 em diante, quando conviveu com músicos notáveis, como Américo Jacomino, o "Canhoto", João Pernambuco, Heitor Villa-Lobos e Dilermando Reis. Entre 1929 e 1940, lançou pela Odeon cerca de nove discos. Além da Odeon, foi artista contratado pela RCA Victor, Bemol e Vista Son. Entre as inúmeras partituras de sua autoria, sobressai a valsa internacionalmente célebre Gotas de Lágrimas, um dos clássicos do repertório violonístico brasileiro, que foi gravada em 1963 por Dilermando Reis, versão muito apreciada pelos estudantes de música. Há um monumento dedicado a ele em Dom Joaquim-MG, cidade para a qual escreveu um hino.

¹² CINTRA, S.O.: Efemérides de São João del-Rei, vol. 1, relembrando o dia 20/06/1894, p. 261-2.

¹³ Gentil Palhares (Formiga, 1909-São João del-Rei, 1994) é patrono da cadeira nº 27 e membro fundador do IHG de São João del-Rei. Autor de vários livros, entre os quais cabe destacar: "De São João del-Rei ao Vale do Pó (ou a Epopeia do 11º R.I. na 2ª Guerra Mundial)" e "Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou".

¹⁴ Sobre o desaparecimento do acervo de obras de arte de Lincoln de Souza, constituído por 144 itens, sob a guarda do Museu Tomé Portes del Rei desde 1979, sediado na Casa de Bárbara Eliodora, já discorri longamente numa matéria intitulada "Comentários à 1ª edição do jornal Tribuna Sanjoanense", que também disponibilizei no seguinte endereço eletrônico: 
http://saojoaodel-rei.blogspot.com.br/2011/12/comentarios-1-edicao-do-jornal-tribuna.html
Ela foi também publicada na Revista da Academia de Letras de São João del-Rei, Ano V, nº 5, 2011, p. 43-76.
¹⁵ Esta descrição ainda pode ser encontrada no seguinte endereço eletrônico: http://www.comunicacao.cesjf.br/sites/comunicacao/lmd/2009_a/noite/sao_joao_del_rei/t15.html
 
¹⁶ Numa rápida pesquisa pela Internet, verifiquei que a letra desta primeira estrofe em linhas gerais corresponde à que era cantada por Nelson Paulo Rios no programa dominical "Rádio Clube Mirim", em Santa Cruz do Rio Pardo-SP, no início da década de 60, embora ignore se utilizava a mesma melodia utilizada em São João del-Rei. Em vista desse fato e de a letra da quadra "Teus Olhos", citada na seção X, item 2, diferir do poema ora visto, acredito que a autenticidade da autoria de LS para esta letra e música  carece de comprovação, particularmente porque a partitura de "Teus Olhos" não consta de nenhum dos álbuns deixados pelo poeta são-joanense sob a guarda da Biblioteca Municipal.
 
XII. OBRAS CONSULTADAS

CINTRA, S.O.: Efemérides de São João del-Rei. Belo-Horizonte: Imprensa Oficial de Minas Gerais, 2ª edição (revista e aumentada), volumes I e II, 622 p.
 
FARIAS, J.M. & TOLENTINO, E.C.: Lincoln de Souza: Leitor Crítico de Si Mesmo - Entre a Criação e a Reescrita. São João del-Rei: Jornal da Universidade (UFSJ), edição de 23/08/2002, disponível na Internet no seguinte endereço eletrônico:
http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/LCA/clca07.htm#1.1n

PASSARELLI, U.: Lembrando Lincoln de Souza, título de seu discurso de Defesa do Patrono no IHG-São João del-Rei em 2/11/2008, disponível na Internet no seguinte endereço eletrônico: http://www.ihgsaojoaodelrei.org.br/anexos/artigos/ulisses_passarelli/artigo_10.pdf

RAMALHO, O.A.: A Rasura, Francisco de Lima Cerqueira e Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, ainda..., São Paulo: Ipsis Gráfica e Editora com tratamento de imagens por RCS Arte Digital, 2002, 190 p.  Edição patrocinada pela Fundação Lusíada.

SOUZA, L.: Vida Literária, Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti-Editores, 1969, 169 p.
— Caderno intilulado Referências à Vida Literária [s.l.], 1961?, [sem paginação]
— Caderno intitulado Cantigas do Meu Crepúsculo [s.l.], 1966?, [sem paginação]
— Caderno intitulado Poemas da Minha Ternura [s.l.], 1967?, [sem paginação]
— Álbum de Autógrafos e parte de Correspondência Recebida nº 04 [s.l.], 1967?, [sem paginação]
— Álbum "ÍNDIOS,  SELVA,  LOCALIDADES  DO  HINTERLAND  E EXPEDIÇÕES Nº 3"
— Álbum "ÍNDIOS-AIRES E DIACUÍ-VISITA AOS XAVANTES, CARAJÁS, GOROTIRES E ÍNDIOS DO PÔSTO DO XINGU Nº 4" [s.l.], 1967?, [sem paginação]
— Álbum "Viagens pelo Brasil e ao Estrangeiro" [s.l.], 1967?, [sem paginação]
— Álbum com o seguinte título e contéudo: I. Poemas de LENITA / II. POEMAS DE LS NÃO APROVEITADOS EM LIVROS, E VERSOS ÍNTIMOS / III. CANÇÕES. 3 COMPOSIÇÕES COM LETRA DE LS E MÚSICA DE MOZART BICALHO; 1 LETRA E MÚSICA DE LS ... PARA "LA CUCARACHA"[s.l.], 1967?, [sem paginação]

XIII. AGRADECIMENTOS 

Gostaria de deixar aqui consignada minha gratidão a todos os que contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa, especialmente minha esposa Rute Pardini pela maioria das fotos exibidas neste evento e pelas boas ideias, incentivo permanente e tolerância sempre presente; ainda sou grato aos historiadores José Antônio de Ávila Sacramento e Silvério Parada, por terem disponibilizado material muito útil de seu acervo fotográfico a este pesquisador; a Monsenhor Sebastião Raimundo de Paiva, sócio-fundador deste IHG e amigo de LS, por ter fornecido informações importantes à presente pesquisa; ao pesquisador Aluízio José Viegas, por seu interesse demonstrado em colaborar para o bom resultado desta pesquisa, fornecendo informações valiosas; aos servidores da Biblioteca Municipal Batista Caetano de Almeida, em especial Maria da Glória Silva Simões Coelho, por seu empenho em atender as minhas demandas referentes ao acervo de LS na referida biblioteca; e, finalmente, meu agradecimento todo especial ao confrade e expert em informática Paulo Chaves Filho, que dedicou seu tempo precioso e conhecimento à formatação do material da pesquisa em Power Point, à amiga e Doutora em História Roseli Santaella Stella pela projeção em datashow e ao amigo e historiador Luiz Antônio Ferreira, pelos serviços de filmagem desta palestra.
Postado por

Fonte: Blog do Braga

***

Adeus à vida literária em 1961 do poeta e jornalista são-joanense Lincoln de Souza

Por Francisco José dos Santos Braga

Meus hai-kais
Beijos

Quando eu te beijava
punha em meu beijo todo o coração,
mas tu me beijavas só com a boca ...

Libertação
“Tout passe ...”
Um dia, na minha pobre memória,
serás uma flama extinta ... Felizmente.

Do céu caiu uma estrela ...
Quando à noite me levavas
qual cego, na escuridão,
cuidei que eras uma estrela
me levando pela mão ...

Arcozelo, 6/2/1967

Paisagem Japonesa

Eis aí a “Paisagem Japonesa”:
— O Fuji, cerejeira, uma “musmê”
contemplando o cenário, — uma beleza
que apenas no Japão é que se vê.

Olha tudo com calma e, com carinho,
numa nipônica toada então
tu, fazendo vibrar teu velho pinho,
manda o fruto da tua inspiração!

Rio, 8/1/1969
Lincoln de Souza: Miscelânea [s.l.], 1969?. [sem paginação].

I. Introdução

Neste meu presente trabalho, o tema principal é o da despedida do são-joanense Lincoln de Souza (1894-1969). Despedida da vida literária, da carreira do homem de letras. Antes já havia se despedido da sua carreira de desenhista e caricaturista nas artes plásticas. A certa altura do texto, que virá abaixo, confessa que "dela me afastei há muito tempo, sem nenhum pesar, por reconhecer a mediocridade das minhas produções" (desenhos e caricaturas). Restava-lhe, portanto, dar prosseguimento à sua vida de jornalista. É o que veremos nos textos abaixo, que nos dão a dimensão exata de um intelectual de peso através de seu depoimento honesto, ao decidir pelo encerramento de sua vida literária.
Antes, porém, de apreciarmos o material colhido em fontes primárias existente na Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, de São João del-Rei, vou fazer uma breve exposição do "state of the art" da crítica literária.

CAMPOS e CURY (1997) mostraram que um novo conceito de “apropriação” das fontes por parte do pesquisador/sujeito vai além do de preservação e de memória. Tais fontes não podem limitar-se a documentos, sobretudo os impressos; envolvem, antes, uma infinidade de objetos (documentos e objetos pessoais, fotos, lembranças de viagens, correspondências, anotações, recortes de jornais, etc.), que o pesquisador busca, ao tentar estabelecer uma relação com o seu objeto. Sob essa moderna epistemologia, que submete a investigação e a pesquisa a uma “radical força desconstrutora” dos sujeitos, as fontes saem da sua posição “primacial” para a de “ponto relacional”. Nessa condição, a linguagem se transforma em relação de intertextualidade, já que lhe é inerente o sentido da interdependência entre o sujeito e o objeto, e de interdisciplinaridade, já que são chamadas a dar explicações iluminadoras várias ciências que envolvem a linguagem e a memória.
“A crítica literária contemporânea, por exemplo, desvencilha-se da obsessão exclusivista com o 'texto' no seu sentido estrito, voltando-se também para os seus 'arredores', trazendo à frente da cena os rascunhos, as anotações, as sublinhas, a correspondência do autor, as fotos, a marginália, os objetos de uso pessoal do escritor. Tudo isso constitui o marginal: os arredores que acontecem à margem do texto e que hoje avultam em importância como determinantes da produção da escrita e da interpretação de seus significados.” (grifo nosso)

TOLENTINO (2001?), que se debruçou sobre as fontes primárias organizadas e deixadas pelos poetas Lincoln de Souza e José Severiano de Rezende, lembra que o que os dois nos deixaram, “textos, correspondências, anotações, recortes de jornais em gavetas, em pastas esquecidas nos gabinetes de escritores nos permitem flagrar a produção da escrita.”
Ela alerta para o fato de que “a crítica literária vê-se diante do novo. Todo esse acervo, constituído de pertences do escritor, bem como de produções que ele esquecera ou às vezes desprezara, torna-se passível de leitura como um texto em que se entrecruzam várias vozes no processo de constituição do sujeito escritor/leitor. (...) As Fontes Primárias são expressões de um tempo, de uma memória. Representam o momento artístico e são, além disso, objetos representativos da cultura. Sendo assim, podem ser tomadas como um texto, um grande livro. Cabe à crítica promover uma leitura desprendida de precedentes, pois as fontes possuem sua especificidade e no decorrer da pesquisa é que elas se apresentam. Atuando nos bastidores da memória cultural, a pesquisa em fontes primárias caracteriza-se como um cruzamento de textos. ‘A pesquisa é, enfim, uma forma de leitura de palimpsesto.’”
Além disso, defende que o pesquisador, “ciente de que a literatura não é um fato isolado e que dialoga com as séries literária, social e cultural, deve tentar aprofundar, buscando relações com a vida literária do poeta, analisando o meio em que estava inserido quando de sua formação.” Portanto, “o trabalho em fontes primárias tem como objetivo o resgate de produções culturais às vezes esquecidas, desconhecidas ou mesmo adormecidas nas estantes das bibliotecas ou em acervos particulares.” (grifo nosso)
Lembra igualmente que, às vezes, “nem todos os acervos e arquivos estão organizados ou seus documentos estão num mesmo local. O acervo de Lincoln de Souza, por exemplo, divide-se entre a Biblioteca Municipal Baptista Caetano de São João del-Rei, o Museu Bárbara Heliodora e as doações que o escritor fez a particulares.”
Inserido na linha de pesquisa de fontes primárias e levando em conta os pressupostos acima, este trabalho visa, fundamentalmente, revisitar a obra do escritor são-joanense Lincoln de Souza, que teve uma produção intelectual — poética, crítica e jornalística — de inestimável valor.
Isto posto, passemos ao objeto da presente matéria, que é o de apreciar como o escritor são-joanense se despede da sua carreira literária. Conforme prometido, seu livro VIDA LITERÁRIA, aqui abordado, seria, de fato, seu último livro.

II. Autobiografia de Lincoln de Souza
Das páginas 6-16 do livro “VIDA LITERÁRIA” do poeta e jornalista Lincoln de Souza extraí a seguinte autobiografia traçada pelo próprio escritor, respeitada a ortografia:
"Nasci na cidade mineira de S. João del-Rei, a 20 de junho de 1894.
A minha inclinação para as letras e garatujar bonecos (esta antes daquela) não começou cedo. Meu pai, relojoeiro de profissão, tendo cursado apenas escola primária, mas escrevendo e fazendo quadrinhas com facilidade, com o objetivo de me estimular, compôs um pequeno monólogo em versos de sete sílabas, publicando-o, com a minha assinatura, em “O Tico-Tico”. Eu devia ter uns 8 ou 10 anos à época. O fato não me causou a mínima impressão. Mais tarde, numa fôlha de almaço, redigiu um jornaleco a mão – “O Nico”, do qual me fêz tirar cópias. Também essa tentativa para despertar em mim o gosto pelas letras não surtiu o menor efeito. Eu tinha uma invencível ojeriza a escrever, fôsse o que fôsse. Só lá por volta dos meus 14 anos foi que comecei a rabiscar, em insignificantes jornaizinhos de minha terra, bobagens assim: “Dizem que o Zé da Farmácia Central está de namôro com uma garôta do Tijuco ... que o Antoninho Neves levou a lata da namorada ...” etc. Observo, agora, que essas futilidades de aldeia foram o embrião das mesmas futilidades que divulgam hoje os chamados cronistas do “Society”, nos maiores órgãos da nossa imprensa e com as quais usufruem alto prestígio e dinheiro grosso.
O ponto de partida verdadeiro das minhas atividades de literato provinciano foi assim: Eu gostava perdidamente de uma prima e, como de hábito no interior, naquele tempo, ia namorá-la todos os dias, postando-me a uns vinte metros em frente à sua residência. Para me fazer companhia, levava um amigo (da onça) que, ao fim de alguns meses, acabou conquistando-me a prima e casando-se com ela. O que sofri — como sofri! — nem é bom falar. E foi sob uma tremenda crise sentimental que, certa noite, o coração em pranto, me levantei da cama e escrevi “Recordações de Maria”, — uma baboseira incrível, só comparável ao que êsses colegiais suburbanos publicam no “Jornal das Moças”. Foi assim que comecei. Quando, quase quarenta anos depois, reli o tal escrito, não pude conter o riso que êle me provocou...
Passaram-se os tempos. Mas a sarna romântica continuava. Incurável. De 1915 a 1919, ou dos meus 21 aos 25 anos, entro num período de intensa atividade não só literária como artística: percorro várias localidades mineiras fazendo caricaturas no palco, após a projeção de filmes e começo a colaborar em jornais além dos de minha terra. Dessa forma, atulho de tolos devaneios as páginas da velha “Gazeta de Minas”, de Oliveira e da “Cidade de Barbacena”, da cidade do mesmo nome. Escrevo, mais tarde, no “Minas-Jornal”, uma fôlha que, à maneira de “A Noite” carioca, revolucionou os métodos jornalísticos de São João del-Rei. Promovida por êsse jornal, realizei a minha primeira exposição de caricaturas, juntamente com Alberto Thoréau e Murilo Monteiro, também fazendo ali a minha primeira reportagem moderna, ilustrada por mim mesmo, em tôrno de um curandeiro analfabeto, estimado e respeitado pela população sanjoanense.
Fui eu, igualmente, que criei na imprensa da minha terra natal a reportagem fotográfica de fatos esportivos e policiais, não publicada no jornal, mas apenas fixada à porta da redação, dada a dificuldade do preparo de clichês e a inexistência de oficina de gravura na cidade.
Antes da colaboração no “Minas-Jornal”, eu havia conseguido dos irmãos Faleiros, que exploravam o Teatro Municipal, permissão para fazer um jornalzinho, aproveitando os programas de cinema, aos domingos, daquela casa de diversões. Intitulava-se “Cine-Jornal” e foi nêle que publiquei o meu primeiro sonêto, depois de tomar umas lições de metrificação com o professor Campos da Cunha. Meu jornalzinho durou apenas alguns meses, mas foi para mim um treino excelente.
Em 1919, com um prefácio amigo de Belmiro Braga — Deus o tenha em sua santa paz! — dei à estampa as minhas primeiras rimas — “Versos Tristes”. As críticas foram boas, especialmente a de Manuel Bandeira, que me recebeu entusiàsticamente, chamando-me, a lembrar Wilde, de “King of life”, no “Diário Mercantil”, de Juiz de Fora. Devo dizer, a bem da verdade, que depois dos flamantes elogios do poeta de “A Cinza das Horas”, naquela época, nunca mais, até hoje, êle se dignou referir-se aos meus pobres versos, mesmo quando cita aedos mineiros. Isto, porém, não diminui o alto conceito em que tenho o atual acadêmico, que tanto me estimulou, com seus louvores, no comêço da minha carreira no mundo das letras.
Um ano depois, ou seja em 1920, com a transferência dos escritórios da então E. F. Oeste de Minas (integrada depois na Rêde Mineira de Viação) para Belo Horizonte, inicio ali, com Carlos Drummond de Andrade, minha colaboração no “Diário de Minas”, ao tempo dirigido por J. Osvaldo de Araujo, Noraldino Lima e Arduíno Bolivar. No mesmo ano, Alberto Haas, estudante de engenharia, não podendo cuidar de sua revista “Tank”, que se editava na capital das Alterosas, entregou-me a direção da mesma, com uma gratificação de 50 mil réis mensais (não estava ainda adotado o cruzeiro, que só apareceu em fins de 1942). Foi aí que me iniciei no jornalismo profissional. Na revista de Haas eu tinha de fazer tudo: correspondência, redação da matéria do texto, contrôle de colaboração, paginação, etc. Com efeito, 50 mil réis era pouco, mas é preciso esclarecer que com aquela quantia eu pagava a minha pensão (casa e comida) no bairro da Floresta. As pensões mais caras, as chamadas de luxo, na Rua da Bahia, cobravam 90 mil réis por mês. Por aí se vê o valor que tinha o dinheiro em 1920. A segunda paga, na imprensa, tive-a de Amadeu Amaral, que por um artigo que escrevi na “Gazeta de Notícias”, sôbre uma exposição de pintura em Belo Horizonte, me gratificou com 30 mil réis. Isso para mim foi um assombro: 30 pratas por um simples artigo! A terceira paga que recebi foi em 1936, por duas pequenas reportagens em “Vamos Ler!” — 40 mil réis cada uma, — o que me causou agradável surprêsa. Hoje recebo 1.000, 1.500 e 2.000 cruzeiros por uma colaboração, sem nenhum espanto. Também a nossa moeda caiu tão baixo ...
Agora um caso — o caso de um retrato — que transformou completamente o meu destino, a minha vida. Vou contá-lo muito resumidamente, e só abordando o seu ângulo literário. Quanto ao sentimental, nem uma linha, porque estas páginas devem limitar-se tão sòmente a assuntos vinculados às minhas atividades no setor das letras, das artes e do jornalismo, como assinalei em comêço.
O caso foi o seguinte: Eu residia em Belo Horizonte. Em 1920, vim ao Rio e lembrei-me de fazer uma visita ao meu erudito amigo Basílio de Magalhães. Depois de uma hora de palestra, mais ou menos, ao sair, já quase à porta da rua dou, sôbre uma estante, com o retrato de formosa morena, de uns grandes e sugestivos olhos de zíngara. Chamo a atenção do mestre para aquêle impressionante tipo de mulher que contemplávamos. Êle me diz, então, que se tratava de uma criatura inteligentíssima, sua ex-aluna, de quem, por sinal, havia recebido, na véspera, uns versos, cuja cópia , incontinenti, tirou de uma gaveta e me mostrou. Li-os: eram magníficos. A meu pedido, êle me deu o papel que tinha na mão. Ao despedir-me, ofereceu-se o autor de “O Folclore no Brasil” para apresentar-me à fascinante poetisa. Eu, temendo apaixonar-me por ela, pois que empolgado já estava pela foto e o poema, não disse que sim nem que não. Agradeci a gentileza e parti. Dias depois, escrevi um artigo em “Gil Blas”, de Alcebíades Delamare, sôbre as nossas melhores poetisas. Mandei um exemplar à autora dos belos versos que eu lera em casa de Basílio de Magalhães. A carta que recebi, em agradecimento, me deixou deslumbrado, e como um derivativo à horrível monotonia do antigo Curral del-Rei, eu pedi-lhe que me escrevesse de vez em quando, ou quando quisesse, mandando-me impressões de livros, de coisas de arte, etc., tal como fizera na sua primeira mensagem. As cartas vieram. E que cartas! Era tão encantadoras, que os meus amigos mais íntimos iam ao meu quarto lê-las, tal como se fôssem encantadores livros que me chegassem. A nossa correspondência tornava-se cada vez mais freqüente. O termômetro sentimental ia alto dentro de mim. Ao cabo de algum tempo eu, por carta, fi-la compreender que gostaria de ter ao meu lado a minha musa morena, por tôda a vida ... Ela, com uma sutileza muito feminina, deu-me esperança ... Para encurtar a narrativa: tornei-me noivo dela sem nunca a ter visto pessoalmente. De tal maneira eu me sentia, tão perturbado estava o meu espírito, que em meado de 1921 abandonei meu emprêgo na Oeste de Minas, vim para o Rio conhecer a minha noiva e procurar uma colocação, para aqui residir e instalar o meu lar.
Não quis, porém, o destino que eu me unisse à fascinante criatura dos olhos de zíngara. Em fevereiro de 1922 — lembro-me bem! — cada qual retomou o seu caminho. Ela é, hoje, um nome de projeção internacional e ainda bela, malgrado a mocidade que lhe fugiu.

* * *

Eis-me no Rio. Aqui, minha vida intelectual tomou outros rumos, expandiu-se. Do meu romance (romance ou drama?) resultaram apenas algumas páginas de prosa e poucos poemas. Publiquei depois livros. Fui trabalhar em “A Pátria”. Lá estive oito anos, tendo feito para êsse jornal reportagens em Portugal e na França e criado, em 1931, a crônica cotidiana de rádio, que não havia ainda na imprensa carioca, mas tão sòmente artigos esporádicos sôbre a matéria.
Ainda naquele ano, sem nenhuma finalidade lucrativa divulguei, através da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada e dirigida por Roquette Pinto, alguma coisa da arte oriental, num programa de canto, música e poesia do Líbano, Síria e Egito, que causou a mais viva repercussão, especialmente nos meios sírio-libaneses do Rio. Só anos depois foi que uma emissora daqui iniciou a irradiação de músicas e cantos do Oriente.
Em 1932 fui nomeado para a Secretaria do Tribunal Regional Eleitoral de S. Paulo. Na Paulicéia, entretanto, não tive nenhuma atuação literária; apenas ajudei um colega, José Calmon de Brito, na redação e transmissão de notícias para “O Globo”, desta capital, do qual era êle correspondente. Pouco depois fui promovido, mas tendo de servir fora de S. Paulo, em Sergipe. Reiniciando na terra de Tobias Barreto as minhas atividades literárias, colaborei na imprensa local, ocasião em que me empenhei em tremenda polêmica com redatores de uma fôlha de Aracaju. Extintos os tribunais eleitorais, regressei ao Rio e, após bem largo período de inação no setor das letras, das artes e do jornalismo, fui trabalhar, em regime de “pró-labore”, em “A Noite Ilustrada” e, em seguida, em “A Noite” (ùltimamente como redator) até dezembro de 1957, data em que o jornal foi fechado pelo Govêrno, sendo reaberto no ano passado pela Companhia Jornalística Castelar.
A “A Noite” dei o melhor do meu esfôrço, da minha inteligência e da minha dedicação durante longos doze anos. Realizei importantes coberturas jornalísticas e dirigi, por muito tempo, a seção escolar, que inestimáveis serviços prestou à causa do ensino, conseguindo dos proprietários de escolas centenas de bôlsas de estudo e premiando com medalhas, objetos de uso escolar e cofres com depósito em dinheiro milhares e milhares de alunos de estabelecimentos de instrução pública e particular do Rio.
De vez que menciono as minhas atividades em “A Noite”, será oportuno referir-me também a outros fatos mais expressivos da minha carreira na imprensa e que foram: evitar que centenas de alunos do internato de um padre, em Minas Gerais, continuassem a levar uma vida miserável, com a denúncia que fiz do que ali se passava ao então deputado Luiz da Gama Filho, que da tribuna da Câmara levantara a voz contra o regime de fome e maus tratos vigorante no tal internato, superintendido pelo SAM, a cujo diretor, na ocasião, o padre João Pedron, entreguei uma cópia da minha reportagem. Quando publiquei em “Vamos Ler!” uma colaboração sôbre “A Fonte da Mata”, em Boquim, berço natal de Hermes Fontes e descrevi a situação de penúria em que se encontravam as irmãs do poeta, o dr. Eronides de Carvalho, que era, à época, Interventor em Sergipe, mandou dar-lhes uma pensão, bem como a uma filha de Tobias Barreto, que também carecia de auxílio.
Em “A Pátria” tive a satisfação de desmascarar um engenheiro da Central do Brasil, que, quando da reforma daquela via-férrea, prometera, por carta a um amigo, ajudar os protegidos dêste. O referido engenheiro, no mesmo dia da publicação da carta no jornal, foi sumariamente demitido a bem do serviço público, embora a pseudo vestal José Américo de Almeida, que era o Ministro da Viação, fôsse coagido, depois, a mandar readmitir o sacripanta.
A minha vida de intelectual tem continuado a par da de jornalista. Quanto à de desenhista e caricaturista, confesso que é absolutamente nula. Dela me afastei há muito tempo, sem nenhum pesar, por reconhecer a mediocridade das minhas produções. Depois de caricaturas em palcos de cinemas e teatros, de desenhos e calungas em “O Albor”, uma revista que se publicava aqui, de propriedade de um sacerdote e da exposição de bonecos em S. João del-Rei, em 1918 (ou 1919), só vim a expor uma cabeça, a creiom, no hoje extinto Palace Hotel, no I Salão dos Jornalistas Liberais, em novembro último e, no mês seguinte, no II Salão de Pintura promovido pelo Centro Artístico e Cultural de S. João del-Rei. Mas os trabalhos que figuraram neste dois últimos salões (ilustrações de livros, caricaturas e uma aquarela) eram antigos, pois, como já escrevi, há muito eu abandonara as artes plásticas.
Dando um balanço do que produzi em cerca de meio século de atividades literárias, artísticas e jornalísticas, chego à conclusão de que não resultou de todo inútil o meu esfôrço, à exceção do que diz respeito à caricatura e ao desenho.
Não fui — apraz-me dizê-lo — um intelectual esquecido. Sem que partisse de mim a mais leve insinuação, fui homenageado: em 1946, no programa da Rádio Nacional — “Pátria Distante”, sob a direção de Maria Eduarda; em setembro de 1947, na A.B.I., por parte da Sociedade dos Homens de Letras do Brasil, ao ensejo da publicação da “plaquette” LENITA; em dezembro de 1949, na Rádio Inconfidência Mineira — programa “Vitrine Literária”, criado pelo jornalista e escritor Jorge Azevedo; em 1952, no programa “Lendo e Contando”, da Rádio Ministério da Educação, sob a responsabilidade da jornalista Helena Ferraz e dirigido, na oportunidade, pela poetisa Chiang-Sing; em março de 1953, por intelectuais sergipanos, no auditório da Rádio-Difusora de Sergipe, por iniciativa do escritor e ensaísta José Augusto Garcez; em 1954, no Sindicato dos Jornalistas profissionais do Rio de Janeiro, por ocasião da entrega de diplomas aos decanos da imprensa carioca e, finalmente, em maio do ano passado, no Centro Artístico e Cultural de S. João del-Rei, conjuntamente com os poetas Oranice Franco, José Geraldo Dângelo e Cândido Martins de Oliveira e o compositor Gustavo de Carvalho ¹.
Em 1953 tive um livro meu premiado pela Academia de Letras — “Entre os Xavantes do Roncador”.
A minha vida jornalística e literária não correu, todavia, sempre em mar de rosas. Como todo homem de letras e de jornal, recebi bordoadas fortes, suportei humilhantes silêncios e tive que manter polêmicas, bem contra a minha vontade. Um dos primeiros aborrecimentos, de que me lembro, foi o causado pelo artigo de um literatelho magro e anêmico como tudo que garatujava (se fôsse hoje, nenhuma impressão me faria) em defesa de Téo Filho, cujo livro “Dona Dolorosa”, eu desancara impiedosamente. Em 1922, em seguida a uma ferina crítica de Agrippino Grieco sobre a poesia da minha ex-musa de olhos de zíngara, escrevi-lhe uma carta desaforada, que trouxe como conseqüência a interrupção de nossa amizade por mais de trinta anos. Tendo censurado a conduta do filólogo José de Sá Nunes, no tocante à questão da reforma ortográfica, escreveu êste uma página inteiro no “Brasil-Portugal”, xingando-me dos piores nomes. Em S. João del-Rei houve entre mim e um médico local, no ano passado, um comêço de polêmica, que não tomou, entretanto, maiores proporções, graças à intervenção de amigos e o espírito conciliatório do referido médico. Polêmica de verdade, e polêmica braba, tive-a eu em Aracaju, com redatores de “O Estado de Sergipe”, em janeiro de 1934. Mas mesmo dessa não guardo nem malquerença aos meus ferozes contendores, nem maior lembrança do que se passou, pois tenho por hábito procurar esquecer os amargos acontecimentos de minha vida.
Ao revés, busco sempre recordar o que me é grato ao espírito. Nesse particular, estão as cento e tantas referências a propósito de trabalhos meus e da minha obscura personalidade, que se lêem na 1ª edição de “Poemas”, na 5ª de “Contam que ...” e ao fim dêste volume.
Também, como flôres atiradas no meu caminho, tenho a satisfação de possuir a página de dedicatória, em têrmos que muito me desvanecem, de quase cento e vinte livros que me foram ofertados pelas figuras mais eminentes do nosso mundo literário e artístico, — páginas que, reunidas, formaram um precioso e original álbum de autógrafos.

 * * *

Agora, êste livro. VIDA LITERÁRIA é uma série de CRÔNICAS e outros trabalhos publicados em jornais e revistas, em épocas diversas, sôbre assuntos literários ou acêrca de personalidades vinculadas ao mundo das letras. Há, também uma palestra a propósito de crianças, que é a única escrita, sendo tôdas as demais, citadas em outro local, feitas de improviso, bem como as anotações e comentários (“Espumas”) de vária ordem, que constituíam uma curta seção que, por algum tempo, mantive numa fôlha carioca. Reproduzo-os agora, aqui, não fragmentados como saíram, mas em bloco, ocupando cêrca de uma vintena de páginas.
São incluídos neste despretensioso volume umas poucas impressões de leitura e de uma exposição de quadros, não porque lhes dê especial valor, mas tão sòmente para tornar mais duradoura, fixada em livro, a lembrança de amigos que sinceramente admiro e particularmente estimo. Pelo mesmo motivo foram incluídos aqui dois poemas que, com efeito, não se justificam num livro de prosa, — fato que esclareço também na página competente.
VIDA LITERÁRIA será a minha derradeira obra. Depois desta, não pretendo publicar mais nenhuma outra, de vez que não mo permitem as minhas atuais e absorventes atividades jornalísticas. Foi por isso que quis dar um balanço completo das minhas apoucadas realizações, até hoje, no terreno da literatura, da arte e do jornalismo. Só me resta agora consignar aqui as expressões do meu mais profundo reconhecimento a todos quantos, na minha já longa mas pagada carreira das letras, me estimularam com sua palavra de louvor e sua generosa estima.
Rio, janeiro de 1961.
L. de S."
 
Esse histórico depoimento do poeta e jornalista são-joanense Lincoln de Souza constitui importante memória do jornalismo de Minas Gerais e Rio de Janeiro no primeiro meado do século XX. A meu ver, suas reflexões sobre sua atividade jornalística no período constituem importante elo na reconstituição da história do jornalismo nos dois Estados.

III. Convite para uma Noite de Autógrafos a se realizar em 18 de junho de 1961, acompanhado de Programa da Festa em São João del-Rei
Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei
C O N V I T E
Em nome do Centro Artístico e Cultural de São João del-Rei tenho a honra de convidá-lo, juntamente com a sua Exma. Família, para a nossa IV Noite de Autógrafos, que se realizará no Salão de Festas do Minas F. Clube, às 19,30 hs. Do próximo dia 18 do corrente mês de junho.

Nessa solenidade, que será abrilhantada com a musica do grande violonista Mozart Bicalho, de Belo Horizonte, será lançado o novo livro de crônicas e ensaios do poeta e jornalista sanjoanense Lincoln de Souza: VIDA LITERÁRIA.

Contando com a sua imprescindível presença, peço-lhe queira aceitar meus respeitosos cumprimentos.

São João del-Rei, 1º de junho de 1961

Pe. Luiz Zver – Presidente

P R O G R A M A

CENTRO ARTÍSTICO E CULTURAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

IV Noite de Autógrafos

Lincoln de Souza: VIDA LITERÁRIA


I Parte:

- Abertura da sessão pelo Presidente do C.A.C.
- Autógrafos.

II Parte



- Saudação ao Sr. Lincoln de Souza, pelo Sr. José do Carmo Barbosa, Secretário do C.A.C.
- Saudade, Aos pés do Mestre e Doçura de acordar (poemas de Lincoln de Souza, apresentados pela Professora Aparecida Paiva)
- Senza nessuno, de E. Curtis, cantado por José Costa
- Eterna Lembrança (versos de Lincoln de Souza e música de Mozart Bicalho), cantado por Stella Neves Vale
- A manhã no mar (versos de Lincoln de Souza e música de Mozart Bicalho), cantado por Marta Teixeira.

III Parte: O violão e a arte do Professor Mozart Bicalho
Extra-Programa: canta a Senhorita Leila Taier

IV. Comentários registrados naquela memorável Noite de Autógrafos

Mozart Bicalho executou ao violão composições populares e clássicas, sendo vivamente aplaudido pela assistência. Seu último numero foi “TEUS OLHOS”, música de sua autoria e letra de Lincoln de Souza, com acompanhamento dos artistas que atuaram na festa.
Finda a parte artístico-musical, o autor de VIDA LITERÁRIA pronunciou o pequeno discurso que vai a seguir:
MEUS CAROS CONTERRÂNEOS,
Esta é uma festa de despedida, uma festa de adeus. Um adeus, porém, sem lenços acenando e sem lágrimas. Devo dizer que sinto, antes, uma sensação de eufórica libertação. Há 47 anos passados, tendo começado nesta minha querida terra natal, sob o impacto de profunda emoção, a minha carreira de homem de letras, hoje venho aqui encerrá-la. Daí a razão desta noite de autógrafos, que marca o termino das minhas obscuras atividades literárias.
Meus amigos,
Estou cansado, exausto, esgotado. Não exagero dizendo, como Papini, que “sono un’ uomo finito”. Faltam-me a vibração e o entusiasmo de outros tempos. E ninguém deve fazer coisa alguma, neste mundo, sem entusiasmo, sem amor. Daí a definitiva resolução que resolvi tomar.
Em VIDA LITERÁRIA, num balanço que abrange quase meio século de atividade, estão registradas tôdas as minhas realizações na área da literatura, do jornalismo e das artes plásticas. Se não levei a termo algo de grande, contribuí, contudo, na medida das minhas fracas possibilidades intelectuais, para a divulgação de alguns aspectos da nossa cultura, através de obras que focalizaram temas folclóricos, assuntos indígenas, o histórico de uma tribo até então ainda não tratada com maiores informes, a síntese bio-bibliográfica de um famoso compatrício e uma série de reflexões de ordem filosófica e social.
Em VIDA LITERÁRIA projetam-se comentários, estudos e divulgações não só no campo da literatura, como no da história, da ciência e da arte.
Devo esclarecer que não se trata de um livro apenas para literatos, mas interessa também ao leitor comum, pela variedade dos assuntos nêle fixados em linguagem simples, despretensiosa e clara. Aí se encontra igualmente a leve palestra sôbre crianças que, sob os auspícios do Centro Artístico e Cultural, levei a efeito, em maio do ano passado, nesta cidade.
VIDA LITERÁRIA é o meu último livro. Último não no sentido de após o penúltimo, mas de último – ponto final.
Vou afastar-me, como já disse, de atividades literárias. Não digo que não venha a compôr algum poema, sob qualquer imperiosa necessidade. Mas o farei para mim mesmo, ou para quem haja inspirado as minhas possíveis rimas. Jamais para publicação em jornal ou revista.
O homem de letras desaparece hoje. Mas, antes disso, quero tornar público o meu imenso reconhecimento pelas provas de atenção que tenho recebido nesta abençoada terra de meu nascimento. Quero agradecer em primeiro lugar, ao meu eminente amigo, o reverendíssimo Padre Luiz Zver, a quem S. João del-Rei tanto deve pela obra verdadeiramente inestimável que está realizando a prol da cultura sanjoanense. Agradeço o concurso valioso de seus dedicados auxiliares no C.A.C. e, em particular, quero externar a minha mais viva gratidão a Gentil Palhares, um dos mais autênticos valores da atual geração, que se tornou cordialmente, embora não aqui nascido, o mais sanjoanense dentre os sanjoanenses que neste rincão mineiro viram a luz. O meu muito obrigado pelos magníficos elementos que atuaram hoje nesta festa de inteligência e coração: Maria Aparecida Paiva – a Poesia que se fez mulher; Marta Teixeira, minha talentosa prima, que trouxe ao velho tronco dos Teixeiras um ritmo de luminosa beleza; Stela Vale, que parece ter um luar na garganta e que canta como devem cantar os anjos; Leila Taier, a mais jovem e a mais fascinante criadora de paraísos interiores com sua voz dulcíssima e rica de sugestões; José Costa, uma legítima afirmação de artista; a professora Maria Monteiro, que tão gentilmente se prestou a acompanhar os números de canto; José do Carmo Barbosa e José Bernardino, tão generosos em suas orações, que foram como braçadas de rosas sôbre o meu crepúsculo; e Mozart Bicalho, meu antigo e querido companheiro de alegres noitadas belorizontinas, que pela sua alta virtuosidade, conhecida e aplaudida no Brasil inteiro, grangeou a justa fama de “O Mago do Violão”. Agradeço tambem aos que aqui me honraram com sua presença, entre os quais revejo, com sincero júbilo, velhos e caros amigos.
Seja-me permitido, por fim, agradecer a tôdas as mulheres que passaram pelo meu caminho, ou melhor — pelo meu coração, — umas dando-me os sonhos mais inefáveis, outras, as mais indescritíveis torturas.
A elas, tão somente a elas, eu devo as melhores vibrações da minha musa, pois que, trazendo-me o sonho ou o sofrimento, foram as responsáveis pelos poemas que mereceram os mais fortes louvores da crítica e do público, poemas que vêm desde os meus “Versos Tristes” até os dois únicos de VIDA LITERÁRIA.
A tôdas, por isso, neste comovido instante de adeus, eu ofereço, afetuosamente, o ouro, o incenso e a mirra do meu reconhecimento e da minha homenagem.



V. Lincoln de Souza, anfitrião em banquete em 20 de junho de 1961, oferecido por ocasião de seu aniversário em São João del-Rei
Na noite de 20 de junho p.p., nos salões do Hotel Americano, o poeta sanjoanense Lincoln de Souza, residente no Rio, ofereceu aos seus amigos um banquete, despedindo-se da vida literária e festejando o seu aniversário natalício. Compareceram muitos literatos, amigos, senhoras e senhoritas, havendo música, canto, recitativos, discursos. Castanheira Filho disse-lhe os versos abaixo:

Versos a um poeta
Castanheira Filho

Quer o Lincoln deixar de ser poeta.
Pondo de lado a sua doce Lira.
Não pode haver loucura mais completa
E quer-nos parecer que até delira.
Depois de tantos anos de conquistas,
Tantos louros ganhando, em curto prazo,
Figurando no rol dos bons artistas,
Quer fugir ao convívio do Parnaso.

Tal decisão seria mesmo injusta
Para com nossas protetoras Musas,
E ouvindo o disparate, a gente custa
A acreditar, se não merece escusas.

Ser poeta é cantar a natureza,
Amar o belo, o sonho, a fantasia,
Viver sorrindo em mundo de tristeza,
Viver chorando em meio de alegria.

Olha para o alto e vê milhões de estrêlas,
Na mais linda vivendo Deus, por certo.
Pode contá-las, uma a uma, e tê-las
E conversar com elas bem de perto.

Longe do mundo, em plagas luminosas,
Nas asas dos seus versos de alabastro,
Vaga o poeta, a lira feita em rosas,
Hinos cantando sempre, de astro em astro.

 

Fecha os olhos seus à dor e à miséria,
Alheio às tentações do ouro maldito.
Deixa da vida a pútrida matéria
Em busca das paragens do infinito.

Ser poeta é viver indiferente
Às lutas, ao rancor da humanidade.
Olhos fitos no céu, no céu sòmente,
De Deus louvando, em tudo, a majestade.

Não se adapta às grandezas desta vida
O seu ser, que se esconde na penumbra,
E no seu coração não tem guarida
A glória, que os mortais tanto deslumbra.

Cantou Lincoln de Souza nos seus versos
O encanto da mulher, o doce encanto,
E aos mil caprichos seus, os mais diversos,
Muitas lôas teceu, em cada canto.

Ergueu a lira ao céu e, embevecido,
Louvou da Criação as maravilhas.
Pintou da fresca aurora o colorido
Em rimas perfumosas de sextilhas.

Exaltou com perícia, em notas claras,
A orquestra matinal dos passarinhos,
Traçando, bem fiel, com tintas raras,
O singular castelo dos seus ninhos.

Não pode Lincoln baquear na estrada,
Na senda azul dos ideais e sonhos,
Nem fugir ao frescor da madrugada,
De tons alegres e de tons tristonhos.

Tem de voar ao cimo do Parnaso,
Revendo as Musas, ao clarão da lua,
Depois que o sol se aprofundar no ocaso,
A terra mergulhada em sombras, nua.

Se a sua lira abandonar um dia,
Tudo em silêncio ficará nos campos
E as noites perderão, em nostalgia,
A pisca-pisca luz dos pirilampos.

Nova fase de amor (se assim me crerdes)
Talvez o espere, em novo desvario,
Para cantar, com garbo, uns olhos verdes,
Olhos verdes da côr do mar bravio.

Lá nos caminhos róseos da existência,
Onde parece o céu tocar a terra,
E o chão cobrindo pétalas de essência,
Do amor muita surpresa alí se encerra.

Vamos, poeta! Eleve a voz sonora,
Num hino de louvor à Criação,
E cante o amor, na sua eterna aurora,
Êsse amor que dá vida ao coração!

VI. Registro desses festejos pelo "Diário do Comércio" de São João del-Rei

O “DIÁRIO DO COMÉRCIO”, de São João del-Rei, na data de 21/6/1961, noticiou o seguinte:

Lincoln de Souza

Aniversariou, ontem, o poeta, jornalista e escritor sanjoanense — Lincoln de Souza, que se encontra nesta cidade há vários dias. O ilustre aniversariante viera à sua terra natal para o lançamento do seu livro VIDA LITERÁRIA, com que pretende encerrar suas atividades literárias de quase 40 anos.
Dotado de excepcional capacidade de ação, inteligente, memória viva e fecunda, Lincoln se projetou no mundo das letras fazendo da imprensa e dos livro que publicara em prosa e versos, o alfa e o ômega de sua vida. Por fôrça de suas funções e por vocação própria, correu meio mundo. E nas suas andanças pelos países europeus, pela America do Norte e pelo Oriente, sôfrego e ávido de tudo ver e conhecer para depois divulgar, Lincoln de Souza soube honrar e dignificar não apenas a imprensa e o “hinterland” literário do país, mas também o rincão mineiro e a própria terra que lhe serviu de berço. Daquí saiu no verdor dos anos e na florescência do seu espírito já plasmado para as coisas sublimes. Já tangia a Lyra no dizer do Pe. Luiz Zver e já se entendia pelo coração com as Musas, que nunca o abandonaram. Irrequieto, “perpetuum mobile”, o escritor sanjoanense, entretanto, fala, agora, em deixar as letras. E que seria sua terra natal o “túmulo” de tôda a sua atividade intelectual. Lançou, por isso, na Livraria São José do Rio de Janeiro e agora aquí em São João, como fêcho, o seu último livro VIDA LITERÁRIA, numa noite de autógrafos das mais memoráveis realizada no salão de festas do Minas. Seu novo livro sobre ser escorreito na forma e no estilo é uma carinhosa homenagem a São João del-Rei, retratada em páginas evocativas e quentes.
Um grupo de amigos e de admiradores de Lincoln de Souza homenageou-o no Hotel Americano pelo ensejo da sua efeméride tão grata a todos que o estimam, já pela sua fidalguia do trato, já pela bondade do seu coração sempre aberto e franco para todos que o cercam.
Esta fôlha se fez representar pelos Dr. Ronaldo Simões Coelho e ten. Gentil Palhares.

VII. OBRAS CONSULTADAS

CAMPOS, E.N. e CURY, M.Z.F.: “Fontes Primárias: Saberes em Movimento”, in Rev. Fac. Educ. vol. 23 n. 1-2, São Paulo, Jan./Dez. 1997.

_____. "Fontes Primárias em Discussão", in Rev. Vertentes, nº 1, São João del-Rei: FUNREI, 1993, p. 53-60.

SOUZA, Lincoln: Vida Literária, Irmãos Pongetti – Editores, Rio de Janeiro, 1961, 169 p.

 

____. Referências à Vida Literária [s.l.], 1961?. [sem paginação].

____. Miscelânea [s.l.], 1969?. [sem paginação].

 

TOLENTINO, E. C.: Fontes Primárias: Bastidores da Memória Cultural, in http://www.ichs.ufop.br/conifes/anais/LCA/clca07.htm

VIII. NOTAS DO AUTOR

¹ Maestro "Guaraná", nascido em São João del-Rei, tornou-se arranjador e regente da Rádio Nacional na década de 50. Foi ele quem teve a feliz ideia de reunir os instrumentistas associados ao Sindicato dos Músicos Profissionais do Rio de Janeiro e de produzir o LP de 10 polegadas intitulado "Pérolas da Música Brasileira", lançado com o selo Copacabana, do qual tenho a honra de possuir um exemplar. Os arranjos do Maestro "Guaraná" eram arrojados, bem como primavam pela qualidade, bom gosto e singularidade, podendo-se dizer que se destacavam das versões de outros arranjadores para as mesmas músicas.

IX. AGRADECIMENTO

Gostaria de deixar aqui consignada minha gratidão a todos os funcionários da Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida, de São João del-Rei, sobretudo à Bibliotecária-Chefe, Dra. Rosy Mara Oliveira, que prestou grande colaboração à realização desta pesquisa.

Fonte: Blog do Braga

 
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