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Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos
Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo
Oscar Niemeyer, Sócio Correspondente da Academia de Letras de São João del-Rei . Francisco Braga
Descrição
Discurso de posse:
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Confrades,
A Academia de Letras de São João del-Rei tem o prazer de se reunir hoje para votar a inclusão do Dr. Oscar Niemeyer no Quadro de Sócios Correspondentes deste Sodalício. A indicação do nome desse ilustre arquiteto deve-se ao Presidente Dr. Wainer Ávila, o qual tudo tem feito para prestar homenagem a brasileiros ilustres, com o objetivo de assegurar o maior alcance cultural possível para as ações de nossa Academia em prol de nossa terra.
Tenho a honra de ser nomeado pelo Senhor Presidente relator da proposta de ingresso de tão ilustre personalidade no seio de nossa Academia, cujo currículo engrandeceria qualquer Instituição de cultura no País e no mundo, enriquecendo, sem dúvida nenhuma, igualmente o nosso Quadro de Sócios.
Como render as devidas homenagens a um dos maiores arquitetos do século XX, que é também um dos brasileiros mais reconhecidos e admirados no exterior? Como homenagear o carioca que levou a curva para a arquitetura moderna, espalhando a inventividade e a leveza de seus edifícios por muitas cidades brasileiras e estrangeiras? Como honrar condignamente, enfim, o ser humano ímpar, de rara dignidade e generosidade, um dos fundadores do Brasil moderno e, também, uma de suas mais definitivas expressões?
A Academia de Letras de São João del-Rei comemora o centenário de Oscar Niemeyer e tem o especial privilégio de poder fazê-lo em plena vitalidade do seu homenageado. Mais que vivo e coerente com os ideais pelos quais sempre lutou, Niemeyer permanece lúcido e espantosamente produtivo.
Quem julgava, dez ou quinze anos atrás, que o genial criador do conjunto arquitetônico de Pampulha, dos edifícios monumentais de Brasília, da Universidade de Constantine, da Editora Mondadori, do Sambódromo, viveria apenas dessas e de muitas outras glórias passadas, enganou-se redondamente.
Oscar Niemeyer já ultrapassara seus 80 anos quando surpreendeu a todos criando a jóia arquitetônica que veio enfeitar uma das mais belas linhas litorâneas do mundo. O Museu de Arte Contemporânea de Niterói surpreende não só por sua simples e ousada beleza como pela mais que feliz integração à paisagem da Baía da Guanabara.
Depois disso, Niemeyer continuou criando, em um ritmo que impressiona, prédios de concepção arrojada e lírica, tanto para o Brasil quanto para o exterior. Agora mesmo, em diversas cidades do mundo, tais como Brasília, Niterói ou Avilés, na Espanha, há prédios de sua autoria sendo construídos.
Sinto-me, Senhoras e Senhores Confrades, alguém que tem a felicidade de estar cercado pela criatividade ímpar de Oscar Niemeyer, já que resido no Plano Piloto de Brasília, planejado pelo homenageado e tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade por decisão da Unesco.
Falar da presença de Oscar Niemeyer em Brasília soa como redundância, tão extensa e marcante ela é. Brasília, monumento da arquitetura moderna, resulta, entre outras coisas, da renovação de duas parcerias felizes de Oscar Niemeyer, a saber, com o Presidente Juscelino Kubitschek e com Lúcio Costa.
A inventividade de Niemeyer vai aqui se expressar tanto na modesta escala da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, como na monumentalidade inimitável do Congresso Nacional, onde se encontram nossos Parlamentares; tanto na surpreendente, se não milagrosa, Catedral, quanto nas linhas mais clássicas do Palácio do Itamaraty. A elegante simplicidade da Coluna do Palácio da Alvorada tornou-se, por sua vez, um símbolo da nova Capital, encantando e correndo o mundo na década de 60.
Um ano atrás, no mesmo dia em que Niemeyer completava seus 99 de existência, tive a honra de assistir à inauguração do Complexo Cultural da República. Formado por um museu de arte e por uma biblioteca, e localizado bem próximo ao centro geométrico do Plano Piloto – ou seja, a Estação Rodoviária, – o Complexo Cultural não só seduz os visitantes e moradores da Capital, como parece estar mostrando a necessidade de levar a cultura letrada e a cultura artística ali para onde o povo está.
Sua ligação com minha Minas Gerais natal é bem conhecida. Foi com o Conjunto da Pampulha, onde se sobressai a Igreja de São Francisco, que, convidado pelo então Governador Juscelino Kubitschek, Niemeyer alçou seu primeiro grande vôo individual. Nesse projeto, que concede à curva uma presença e uma importância que tinham sido recusadas pela arquitetura moderna, Niemeyer parece estar em íntimo diálogo com a escola barroca mineira, tão bem estudada pelo grande arquiteto e urbanista Lúcio Costa, seu mestre e amigo.
Alguns anos antes disso, em 1936, Niemeyer assinara, junto com Lúcio Costa, com outros colegas brasileiros e com o incontestável pai do modernismo arquitetônico, Le Corbusier, o projeto da sede do Ministério da Educação, no centro do Rio de Janeiro, que se tornou um verdadeiro manifesto em concreto da nova escola.
Oscar Niemeyer confessa que uma parte ao menos da inspiração mais profunda de sua obra arquitetônica vem da cidade do Rio: da magnífica topografia sinuosa da Cidade Maravilhosa, com seus morros, montanhas e praias; e - por que não? - das curvas, também tão justamente celebradas, das mulheres cariocas.
Essa dupla paixão, se assim posso me exprimir, recebeu sua consagração com a construção da Passarela do Samba, monumento arquitetônico à alegria e à maior festa da cultura brasileira, que, não fosse o bastante, cumpre também sua função social de escola pública ao longo de todo o ano. De certa forma, é isso o que a arquitetura de Niemeyer sempre fez: trazer para o dia-a-dia e para a consciência dos cidadãos a beleza das formas que se levantam do solo e criam um novo espaço habitável.
Suas criações atestam o arrojo da imaginação humana e mostram que a beleza deve estar presente no espaço público, integrada à sua função social, anunciando, assim, uma vida coletiva mais bela e mais completa.
Gostaria também de confidenciar aos meus Pares que tive o prazer ou privilégio de conviver com a criatividade de Oscar Niemeyer, em seu lado íntimo e quase secreto, quando assessorei o Senador Darcy Ribeiro, nos anos 90. No gabinete desse memorável Senador, hoje ocupado pelo Senador Francisco Dornelles, havia um painel traçado pela mão de Oscar Niemeyer que ocupava toda uma parede. Tratava-se de um presente do genial criador a seu amigo antropólogo Darcy Ribeiro. Os desenhos de Niemeyer recriam, livremente, aspectos de quatro de suas maiores obras. Duas delas são de universidades por ele projetadas: a Universidade de Brasília e a de Constantine, na Argélia. As outras duas correspondem a edificações de especial significado simbólico para nossa coletividade: a Passarela do Samba, ou Sambódromo, a que já me referi; e o Memorial da América Latina, sua mais original contribuição para a cidade de São Paulo.
Todas essas quatro obras tiveram a participação decidida e entusiasmada de Darcy Ribeiro, o que inspirou Niemeyer a presentear o amigo com os bonitos desenhos de seu traço limpo e elegante, que decoram o gabinete supracitado. O painel está hoje tombado como patrimônio do Senado Federal, assim como o gabinete que os possui se tornou uma espécie de patrimônio informal dos representantes do Estado do Rio de Janeiro.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Confrades,
O privilégio de contemplar e de conviver com as obras arquitetônicas de Oscar Niemeyer é partilhado por muitos brasileiros e também por cidadãos de outros Países.
O orgulho de que um brasileiro tenha se tornado um gênio ímpar da arquitetura moderna, um dos grandes artistas de um século intensamente criativo, pertence a toda a população brasileira!
Parabéns a Oscar Niemeyer, por esse século de vida que nos brindou com tantas genialidades de sua lavra!
Parabéns, igualmente, ao nosso Presidente pela indicação do nome ilustre de Oscar Niemeyer para pertencer ao Quadro de Sócios Correspondentes deste Sodalício.
Muito obrigado!
Francisco José dos Santos Braga
Sócio Correspondente
Colaboração Francisco José dos Santos Braga . Blog do Braga
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Confrades,
A Academia de Letras de São João del-Rei tem o prazer de se reunir hoje para votar a inclusão do Dr. Oscar Niemeyer no Quadro de Sócios Correspondentes deste Sodalício. A indicação do nome desse ilustre arquiteto deve-se ao Presidente Dr. Wainer Ávila, o qual tudo tem feito para prestar homenagem a brasileiros ilustres, com o objetivo de assegurar o maior alcance cultural possível para as ações de nossa Academia em prol de nossa terra.
Tenho a honra de ser nomeado pelo Senhor Presidente relator da proposta de ingresso de tão ilustre personalidade no seio de nossa Academia, cujo currículo engrandeceria qualquer Instituição de cultura no País e no mundo, enriquecendo, sem dúvida nenhuma, igualmente o nosso Quadro de Sócios.
Como render as devidas homenagens a um dos maiores arquitetos do século XX, que é também um dos brasileiros mais reconhecidos e admirados no exterior? Como homenagear o carioca que levou a curva para a arquitetura moderna, espalhando a inventividade e a leveza de seus edifícios por muitas cidades brasileiras e estrangeiras? Como honrar condignamente, enfim, o ser humano ímpar, de rara dignidade e generosidade, um dos fundadores do Brasil moderno e, também, uma de suas mais definitivas expressões?
A Academia de Letras de São João del-Rei comemora o centenário de Oscar Niemeyer e tem o especial privilégio de poder fazê-lo em plena vitalidade do seu homenageado. Mais que vivo e coerente com os ideais pelos quais sempre lutou, Niemeyer permanece lúcido e espantosamente produtivo.
Quem julgava, dez ou quinze anos atrás, que o genial criador do conjunto arquitetônico de Pampulha, dos edifícios monumentais de Brasília, da Universidade de Constantine, da Editora Mondadori, do Sambódromo, viveria apenas dessas e de muitas outras glórias passadas, enganou-se redondamente.
Oscar Niemeyer já ultrapassara seus 80 anos quando surpreendeu a todos criando a jóia arquitetônica que veio enfeitar uma das mais belas linhas litorâneas do mundo. O Museu de Arte Contemporânea de Niterói surpreende não só por sua simples e ousada beleza como pela mais que feliz integração à paisagem da Baía da Guanabara.
Depois disso, Niemeyer continuou criando, em um ritmo que impressiona, prédios de concepção arrojada e lírica, tanto para o Brasil quanto para o exterior. Agora mesmo, em diversas cidades do mundo, tais como Brasília, Niterói ou Avilés, na Espanha, há prédios de sua autoria sendo construídos.
Sinto-me, Senhoras e Senhores Confrades, alguém que tem a felicidade de estar cercado pela criatividade ímpar de Oscar Niemeyer, já que resido no Plano Piloto de Brasília, planejado pelo homenageado e tombado como Patrimônio Cultural da Humanidade por decisão da Unesco.
Falar da presença de Oscar Niemeyer em Brasília soa como redundância, tão extensa e marcante ela é. Brasília, monumento da arquitetura moderna, resulta, entre outras coisas, da renovação de duas parcerias felizes de Oscar Niemeyer, a saber, com o Presidente Juscelino Kubitschek e com Lúcio Costa.
A inventividade de Niemeyer vai aqui se expressar tanto na modesta escala da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, como na monumentalidade inimitável do Congresso Nacional, onde se encontram nossos Parlamentares; tanto na surpreendente, se não milagrosa, Catedral, quanto nas linhas mais clássicas do Palácio do Itamaraty. A elegante simplicidade da Coluna do Palácio da Alvorada tornou-se, por sua vez, um símbolo da nova Capital, encantando e correndo o mundo na década de 60.
Um ano atrás, no mesmo dia em que Niemeyer completava seus 99 de existência, tive a honra de assistir à inauguração do Complexo Cultural da República. Formado por um museu de arte e por uma biblioteca, e localizado bem próximo ao centro geométrico do Plano Piloto – ou seja, a Estação Rodoviária, – o Complexo Cultural não só seduz os visitantes e moradores da Capital, como parece estar mostrando a necessidade de levar a cultura letrada e a cultura artística ali para onde o povo está.
Sua ligação com minha Minas Gerais natal é bem conhecida. Foi com o Conjunto da Pampulha, onde se sobressai a Igreja de São Francisco, que, convidado pelo então Governador Juscelino Kubitschek, Niemeyer alçou seu primeiro grande vôo individual. Nesse projeto, que concede à curva uma presença e uma importância que tinham sido recusadas pela arquitetura moderna, Niemeyer parece estar em íntimo diálogo com a escola barroca mineira, tão bem estudada pelo grande arquiteto e urbanista Lúcio Costa, seu mestre e amigo.
Alguns anos antes disso, em 1936, Niemeyer assinara, junto com Lúcio Costa, com outros colegas brasileiros e com o incontestável pai do modernismo arquitetônico, Le Corbusier, o projeto da sede do Ministério da Educação, no centro do Rio de Janeiro, que se tornou um verdadeiro manifesto em concreto da nova escola.
Oscar Niemeyer confessa que uma parte ao menos da inspiração mais profunda de sua obra arquitetônica vem da cidade do Rio: da magnífica topografia sinuosa da Cidade Maravilhosa, com seus morros, montanhas e praias; e - por que não? - das curvas, também tão justamente celebradas, das mulheres cariocas.
Essa dupla paixão, se assim posso me exprimir, recebeu sua consagração com a construção da Passarela do Samba, monumento arquitetônico à alegria e à maior festa da cultura brasileira, que, não fosse o bastante, cumpre também sua função social de escola pública ao longo de todo o ano. De certa forma, é isso o que a arquitetura de Niemeyer sempre fez: trazer para o dia-a-dia e para a consciência dos cidadãos a beleza das formas que se levantam do solo e criam um novo espaço habitável.
Suas criações atestam o arrojo da imaginação humana e mostram que a beleza deve estar presente no espaço público, integrada à sua função social, anunciando, assim, uma vida coletiva mais bela e mais completa.
Gostaria também de confidenciar aos meus Pares que tive o prazer ou privilégio de conviver com a criatividade de Oscar Niemeyer, em seu lado íntimo e quase secreto, quando assessorei o Senador Darcy Ribeiro, nos anos 90. No gabinete desse memorável Senador, hoje ocupado pelo Senador Francisco Dornelles, havia um painel traçado pela mão de Oscar Niemeyer que ocupava toda uma parede. Tratava-se de um presente do genial criador a seu amigo antropólogo Darcy Ribeiro. Os desenhos de Niemeyer recriam, livremente, aspectos de quatro de suas maiores obras. Duas delas são de universidades por ele projetadas: a Universidade de Brasília e a de Constantine, na Argélia. As outras duas correspondem a edificações de especial significado simbólico para nossa coletividade: a Passarela do Samba, ou Sambódromo, a que já me referi; e o Memorial da América Latina, sua mais original contribuição para a cidade de São Paulo.
Todas essas quatro obras tiveram a participação decidida e entusiasmada de Darcy Ribeiro, o que inspirou Niemeyer a presentear o amigo com os bonitos desenhos de seu traço limpo e elegante, que decoram o gabinete supracitado. O painel está hoje tombado como patrimônio do Senado Federal, assim como o gabinete que os possui se tornou uma espécie de patrimônio informal dos representantes do Estado do Rio de Janeiro.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Confrades,
O privilégio de contemplar e de conviver com as obras arquitetônicas de Oscar Niemeyer é partilhado por muitos brasileiros e também por cidadãos de outros Países.
O orgulho de que um brasileiro tenha se tornado um gênio ímpar da arquitetura moderna, um dos grandes artistas de um século intensamente criativo, pertence a toda a população brasileira!
Parabéns a Oscar Niemeyer, por esse século de vida que nos brindou com tantas genialidades de sua lavra!
Parabéns, igualmente, ao nosso Presidente pela indicação do nome ilustre de Oscar Niemeyer para pertencer ao Quadro de Sócios Correspondentes deste Sodalício.
Muito obrigado!
Francisco José dos Santos Braga
Sócio Correspondente
Colaboração Francisco José dos Santos Braga . Blog do Braga