a cidade com que sonhamos é a cidade que podemos construir

la ciudad que soñamos es la ciudad que podemos construir

the city we dream of is the one we can build ourselves

la cittá che sognamo é la cittá che possiamo costruire

la ville dont on rêve c’est celle que nous pouvons construire

Publicações

Tipo: Artigos | Cartilhas | Livros | Teses e Monografias | Pesquisas | Lideranças e Mecenas | Diversos

Escopo: São João del-Rei | Tiradentes | Ouro Preto | Minas Gerais | Brasil | Mundo

 

Tapetes de Rua . Antônio Gaio Sobrinho

Descrição

Mais informações
Tapete de Rua/Flores . São João del-Rei/imagens
Documentário A FÉ E A CULTURA . SEMANA SANTA EM SÃO JOÃO DEL-REI . MINAS GERAIS . ESTRADA REAL . BRASIL Realização Atitude Cultural . JR Produções
Tapetes de Rua São João del-Rei . Antônio Emílio da Costa

Nos tempos antigos, ainda antes  ou depois de Cristo, tempos de reis e imperadores, quando um deles visitava uma cidade de seus domínios, os habitantes do lugar, seus súbditos, preparavam-lhe uma grande recepção. Enfeitavam ruas e janelas, erguiam arcos de triunfo para ele e seu cortejo passar por debaixo, estendiam tapetes sob seus pés nas entradas dos palácios ou repartições públicas. Os gregos chamavam a recepção, assim tão solene, de parusia.
Por outro lado, contam os evangelhos que, quando Jesus entrou em Jerusalém, dias antes de sua crucificação, crianças e adultos acorreram a recebê-lo na entrada da cidade. Estendiam seus mantos pelas ruas, que atapetavam de folhas e ramos, para que ele, montado num jumento, pudesse passar. Uma humilde, mas sincera, homenagem dos judeus ao seu verdadeiro rei,  saudado com hosanas e vivas ao filho de Davi.
Foi, certamente, daí que os cristãos católicos aprenderam a enfeitar as ruas das vilas e cidades para a passagem das procissões religiosas. Costume que nos veio de Portugal, ainda durante os anos coloniais. Arcos de bambus eram armados, luninárias acendidas, bandeirinhas eram esticadas em compridos barbantes, folhas e flores esparzidas pelo chão, toalhas e colchas bordadas eram colocadas nas janelas, chuvas de confetes e rosas jogados das altas sacadas, arranjos florais e velas acesas... tudo, tudo marcando o roteiro e a passagem das procissões, ou de alguma autoridade visitante. Para esse último caso, serve de exemplo, a recepção que a cidade ofereceu a Dom Pedro I, no dia 3 de abril de 1822, quando, segundo relato de Estêvão Ribeiro de Resende, as ruas e as casas estavam todas ornadas e matizadas de ervas cheirosas e por toda a parte caíam flores sobre a cabeça do Príncipe e soavam a seus ouvidos vivas de alegria.
Sobretudo solene era, desde o século XIII, a procissão de Corpus Christi, ou Corpo de Deus, da qual se incumbiam, nos reinos cristãos como o de Portugal, as câmaras municipais. Haja vista, a título de exemplo e com grifos meus, os seguintes dizeres do edital que, em junho de 1794, mandou publicar o Senado da Câmara de São João del-Rei: A quantos o presente nosso Edital virem fazemos saber que no dia quinta-feira que se hão de contar dezenove do presente mês soleniza a Santa Madre Igreja o Corpo Sacramentado de Nosso Senhor Jesus Cristo, e se há de fazer na Matriz desta Freguesia a festividade na forma do seu costume para o que determinamos e mandamos que os moradores das Ruas por onde costuma passar a Procissão que da mesma Matriz há de sair as tenham limpas, e ornadas decentemente as suas frentes tudo com o maior asseio. Outrossim determinamos a todos os Oficiais dos Ofícios de Ferreiro, Serralheiro, Ferradores e Latoeiros que no dito dia devem aprontar a Imagem de São Jorge que também há de sair na mesma Procissão com seu Estado como se pratica e se tem praticado nos mais anos e os respectivos Juizes dos Ofícios serão obrigados apresentar lista dos Oficiais que deixarão de cumprir a esta determinação para se proceder contra eles a prisão nas Enxovias da Cadeia desta Vila pelo tempo que nos parecer. E para que chegue a notícia de todos mandamos passar o presente que depois de publicado se fixará no lugar mais público do estilo.
Mais recentemente, e já sem as obrigações e ameaças de outrora, se começou também o costume de fazer tapetes com flores e folhas, serragem e areia coloridas, em desenhos planos ou em relevo, de cenas religiosas. Virou arte e atração turística, que faz pena ser pisada e ter tão efêmera duração. Sua confecção movimenta os moradores das ruas onde são elaborados, a criançada se agita alegre e entusiasmada, e, em São João del-Rei, também tomam iniciativa os artistas da Associação dos Artesãos.
Além da tradicional procissão de Corpus Christi, que sempre, como vimos, mereceu especial atenção no que tange ao enfeites de ruas, tem sido, ultimamente, contempladas outras procissões, tais como a de Nossa Senhora do Carmo, em 16 de julho; a do Enterro, na Sexta-Feira da Paixão; e a do Santíssimo, no Domingo da Ressurreição. Especial destaque para o que, com a participação do artista Carlos Magno de Araújo, costuma ser confeccionado no espaço central do Largo São Francisco, na Semana Santa.
Não só em nossa cidade, mas em muitas outras de Minas e do Brasil afora, sobretudo em Ouro Preto e em cidades de São Paulo e Goiás, tais tapete de rua têm sido confeccionados em até maiores extensões e ainda mais belos do que aqui. É uma bela tradição que mostra generosidade e fé, religiosidade e arte, que merece ser preservada e incentivada, por gerações e gerações.

Antônio Gaio Sobrinho
Fonte: Jornal da Asap
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